segunda-feira, 14 de julho de 2008

Modos de menina

Fui fechar a porta da sala agora e fiz um barulhão. As pessoas se assustaram. Lembrei-me na hora da minha vozinha Vanda, q se estivesse aqui, me diria "Modos de menina, Julianinha, modos de menina".

É, eu nunca tive modos de menina. Nunca. Desde muito pequena. Quebrei braço, perna, furei queixo, cabeça. Vivia e vivo com as canelas roxas, horrível, parecendo um menino zagueiro. Meu pai vivia me mandando sentar de perna fechada. Aliás, meu pai era quem mais me dava essas broncas, tirando minha avó. Pra eu parar de correr no estacionamento do shopping. Pra eu parar de dançar dentro da igreja. Pra eu parar de cantar e falar sozinha em qualquer lugar. Pra eu falar mais baixo (essa é clássica...até hoje ele fala isso, TODOS OS DIAS! - ele diz que vai instalar um potenciômetro na minha garganta).

É verdade. Eu usava boné na adolescência, tinha uma coleção imensa, de todas as cores. Jogava truco escondido com os meninos, no intervalo, e até no meio da aula. Usava blusa amarrada na cintura e gostava de bater boca com as professoras, com as meninas, com os meninos.

Eu nunca tive mesmo esses tais "modos de menina". Minha vó deve morrer de desgosto lá no céu quando me vê falando palavrão pra caralho hoje, ou fazendo os comentários que passam pela minha cabeça, sem filtrar nada. Quando xingo no trânsito. Quando falo alto, sapateio na pausa do cigarro, quando conto minhas histórias.

Mas talvez, lá de cima, ela veja que eu sou feliz desse jeito. Que eu sou autêntica. Que eu visto as roupas que visto porque elas são o que menos importa em mim. Que não importa também o volume das minhas palavras ou seu baixo calão, mas sim o conteúdo que elas passam quando estão juntas. Que eu posso não ter "modos de menina", mas não faço mal pras pessoas, então eu acabo sendo uma menina de modos. Dos meus modos. E eu acho que tá bom assim.

Eu grito, eu berro, eu xingo. Mas eu sou de verdade. A quem interessar possa, saiba que é tudo de verdade. Eu tenho gordurinhas de verdade, mas meus seios são de verdade também. Eu tenho discursos exacerbados de verdade, mas tenho pensamentos de verdade também. Eu tenho idéias malucas, mas minhas idéias são minhas de verdade, também. Eu tenho um jeito estranho de gostar das pessoas, mas meu desejo é de verdade, e meu afeto também.

Enfim, modos de menina eu não sei. Às vezes são de mulher, outras de criança, de menino, de zagueiro, de velhota. Mas sempre de verdade. Desculpa, vó.

Um comentário:

Maíra Colombrini disse...

Ai... me identifiquei muito.
Esses dias ouvi de uma pessoa que eu dava dor de cabeça nela, de tòa alto e de tanto que eu falava. Fiquei arrasada.
É por isso que te amo. você me entende.