sábado, 18 de junho de 2011

Festa Junina de escola meu cu

Acabei de chegar da festa junina do meu sobrinho. Primeira festinha dele, ele tem 2 aninhos e meio, entrou na escolinha esse ano. Daí já viu: família inteira na festinha pra ver o pivetinho lindo de caipira. Antes que me chamem de amarga e pensem mal de mim (não que eu ligue muito), deixa eu explicar: eu adoro. Faço questão de estar lá, porque amo esse pestinha.






Mas daí eu chego lá e tem coisa que me dá nos nervos.






Bom, em primeiro lugar, eu preciso dizer que o meu sobrinho é uma criança de personalidade. Claro, sangue de Palermo corre nas veias do moleque. Oliveira Palermo, o que é ainda pior/melhor. E ele é pequeno, porra. Então ele não quer colocar chapéu. A gente coloca chapéu nele, ele fica puto e joga no chão. Adoro. Deixa ele sem chapéu, caralho. Ele não quer pintar a cara com lápis de olho e rolha queimada. Deixa ele sem pintura, porra. Vai ficar aquela merda toda borrada na cara, pra quê? Ele não quer dançar. Deixa ele, merda. Não tem que dançar só porque é festa junina e tá todo mundo dançando. Ele não tem nem 3 anos ainda. Ele não sabe que tem que fazer a parte dele e dançar pra gente tirar foto e ficar babando depois. Não sabe que o papel da criança nessas festas é ir pro meio da quadra e fazer a dancinha ridícula que a professora inventou pras mães e avós chorarem de orgulho. Não sabe que não dá pra fazer depois, que só tem aqueles 2 minutos de música. Ele olha pra gente do outro lado da corda e quer ficar com a família. Quer brincar com o cavalinho que a vovó deu. Quer sentar no chão e brincar, só. Deixa o menino.






Deus sabe o que faz. Eu não sou mãe.






Porque, se eu fosse, eu ia ficar muito de bode de forçar meu filho a fazer essas coisas. Eu sempre dancei no colégio. Minha mãe diz que, na minha primeira festinha, com menos de 3 anos, eu dancei um pouco, depois fiquei de bode com alguma coisa e emburrei. Tão típico. Vai ver que eu fiquei de bode por não estar na primeira fileira, hehehe. Enfim, cada um é um. Eu dancei e sempre adorei as apresentações, adoro aparecer desde pequena (segundo meu pai, desde criança eu sou sem-vergonha - palavras dele). Mas se o moleque não tá a fim, ele não tá a fim e pronto.






Daí vem a turminha dos um pouco mais velhos, crianças de uns 4 anos. Fazem uma rodinha no centro da quadra, com as "professoras", e começam a "dançar" uma "música" dessas de sertanejo universitário, falando de "amor" ou de coração partido ou qualquer merda dessas, e as crianças fazem corações com as mãos e apontam o dedinho e dão voltinhas ao som dos sertanejos do momento. Eu fico puta. Minha irmã pergunta "Mas, Ju, é festa junina, você queria que eles dançassem rock?". Claro que não. Eu queria que eles dançassem músicas típicas de festa junina. Coloca aí uma sanfona, porra. "O balão vai subindo, vai caindo a garoa", qualquer coisa assim. Mas não me faça essas crianças pagarem o mico de dançar a "música" que a "professora" delas e as mães gostam, aquela do sertanejo da modinha, pra divertir os adultos que gostam de ver as crianças como "gente em miniatura" dançando a música que fala do amor dos cantores sertanejos. Por favor, não.






E daí tem também o desfile das mães. Cada mãe vai com uma roupa que chame mais a atenção do que a outra mãe. Elas colocam as camisas e os vestidos com estampa xadrez que compraram semana passada porque estava na moda. Elas competem pra ver quem vai com o salto mais alto, pra ficar com dor no pé o dia inteiro depois e fazer o marido ir comprar pastel e guaraná pra elas, porque as belezas não conseguem nem ficar em pé com os tais saltos. Ah, guaraná diet, claro, que elas não querem ficar gordas (Deus me livre, ficar gorda, né, pior que morrer).




E daí tem também a guerra entre as avós, pra ver quem compra o brinquedo mais legal, o maior. Tem as vacas das mães que entram na frente de todo mundo pra tirar foto dos filhos. Não importa se você está ali tentando ver a criança da sua família pagando mico na quadra. O filho delas é mais importante. E tem as "professoras", "pedagogas" berrando no microfone, aproveitando o momento de glória. E tem o bingo que é vendido pra arrecadar fundos pra própria escola, e a vaca fica berrando no microfone que só falta vender 8 cartelas pro jogo começar (mas não começa nunca, pra desespero da minha irmã, e, quanto mais demora, mais você compra as coisas das barraquinhas, mais dinheiro pra escola).






Eu já trabalhei muito com educação infantil. Eu dava aulas de inglês pra crianças de 0 a 8 anos. E eu sei muito bem o que essas "pedagogas" fazem. Por trás de toda aquela conversa furada de desenvolvimento da coordenação motora fina e o caralho a quatro, elas estão mesmo é enchendo a criança de massinha e de palito de sorvete e esperando dar a hora de ir embora. Eu sei que elas preenchem as fichas de avaliação individual da criança que nem o cu delas. Eu sei. Então não vem fazer papel de pedagoga pra mim, por favor. Claro, estou generalizando, de acordo com a experiência que eu vivi. De todas as professoras de criança com as quais eu já trabalhei, teve umas duas que escapavam desse esteriótipo. O resto era tudo burra. Eu pensava, juro que pensava assim: "Eu jamais deixaria uma criança nas mãos dessas negas".






No meu primeiro ano de trabalho, eu dava aula pra uma quarta série no SESI de Indaiatuba. Eu tinha 17 anos, e meus alunos tinham 8, 9. Quando chegou a festa junina, eu me recusei a trabalhar em equipe e montar com as outras duas 4as séries a coreografia daquela merda "Hoje é sexta-feira, dia de cerveja". Crianças, caralho! Eu peguei a versão da Cássia Eller de Coroné Antônio Bento, coloquei metade da turma vestida de roqueiro e metade de caipira, fiz uma coreô que misturava passos de quadrilha com passos de rock, coloquei os pares trocados, menina roqueira com menino caipira, menino roqueiro com menina caipira. Foi a sensação da festa. Deu um trabalho da porra. Mas ficou o máximo.




Dá pra inovar, né, gente? Basta querer. Quer dizer, tem que pensar, também. E daí, infelizmente, tem gente que não consegue.






Enfim. Festa junina vai ter todo ano. E eu vou estar lá, com o meu pequeno sobrinho, que vai ser cada vez menos pequeno a cada ano. E, assim que eu puder, eu vou tentar ensinar pra ele o que eu sei. O pouco que eu sei. Pra que ele aprenda a pensar por si próprio. Já tá bom demais.












Odeia chapéu.





Amo. De paixão.









domingo, 5 de junho de 2011

O desconcerto do mundo ou Camões mais atual que nunca

Camões fica batendo na minha porta. Discuti esse poema esta semana com meus alunos. E, ontem, uma amiga disse que não suporta ver o ex dela com outra pessoa e ela ainda estar sozinha, porque, segundo ela, um cara tão filhadaputa assim está "bem", e ela está "mal" (sozinha).

Bom, tem milhares de coisas que eu podia falar sobre isso, e algumas eu disse pra ela ontem. Sobre o conceito de estar "bem" ou "mal" e qual a relação entre isso e estar ou não acompanhado (que, pra mim, estar sozinha nunca foi tão bom). Mas o que me pegou foi essa sensação do desconcerto do mundo, de a gente achar que "os maus se dão bem e os bons se dão mal" (e olha que rica a nossa língua e que beleza esses advérbios e adjetivos!). Quem é mesmo mau? Quem é mesmo bom? O que é se dar mal? O que é se dar bem? Acredito que isso tem a ver com um sentimento característico do ser humano, de se colocar sempre na pior situação do mundo, de achar que os outros sempre estão melhores do que a gente, de que estamos sempre na pior, de não olhar pra vida como ela é de verdade, de não reconhecer o que temos de legal, de ter se acostumado com o que a nossa cultura nos empurra goela abaixo, de achar que a gente tem que ter alguém pra ser feliz, porque no último capítulo da novela todo mundo acha seu parzinho.

People, todo mundo se acha o cocô do cavalo do bandido às vezes, todo mundo acha que é o maior sofredor da face da terra, de vez em quando. Essa semana eu dei uma dessas, e até por isso o poema se fez presente de novo, 3 vezes na mesma semana, para tudo, post no blog. Pensei exatamente isso, em outro contexto: sempre fui boazinha, agora vou botar pra fuder, como todo mundo faz - e não deu certo. Hahahahahaha. Enfim, não sei se isso é destino, se é coincidência, se são os deuses rindo da gente e jogando xadrez, se está tudo na nossa mente. Mas esse sentimento não é nada novo, não é nada particular. Taí Camões, que escreveu, há mais de 500 anos, a mesma coisa, a mesmíssima coisa.

Ao Desconcerto do Mundo
de

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.

Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.

Pois é. Não é assim, não. O mundo não anda concertado só pra mim. Eu sei disso, embora às vezes pareça difícil acreditar.

Eu não tenho 3 cotovelos!

E daí que rolou a marcha das vagabundas em Sampa. E eu fiquei pensando em tudo isso, olhando as fotos (que estão aqui). Eu sei que o babado começou lá no Canadá, quando um policial sugeriu às mulheres que parassem de se vestir de forma provocante para evitar estupros. Tem também o bafo do Rafinha Bastos fazendo piada com estupro, dizendo que tem um monte de mulher feia que deveria agradecer ser estuprada. Enfim, coisas que acontecem quando idiotas dizem o que pensam sem pensar (caso do polícia besta), ou coisas em que pensaram muito e acharam que seria engraçado, mas não é (caso do pseudo-humorista besta). Até aí, beleza. Apoio, nesse sentido, a marcha contra a violência e a discriminação.

Mas, aí que tá: qual a repercussão disso, qual o sentido e a finalidade disso? Na prática, o que muda? Os caras (e algumas mulheres), ao verem a marcha, só reforçam o pensamento que ainda têm, "tá vendo, são mesmo um bando de biscates". Eu acho que o direito de dar pra qualquer um, de usar a roupa que quiser e tudo o mais não se adquire saindo na rua com cartazes. Não sei, não estou dizendo que sou contra a marcha (antes que me botem na cruz), mas pra mim parece aquele lance de apelido, saca? Se te dão um apelido na escola e você odeia e demonstra, aí é que caem matando, mesmo. Se você não liga, ou finge que não liga, o lance não continua, porque não teve graça. A mim, me parece que sair na rua dizendo "não sou vagabunda" é ligar pro fato de ser chamada de biscate, e dar crédito pra quem diz isso. É colocar uma lupa em cima da situação, é chamar a atenção pro fato. Então, o que deveríamos fazer? Continuar quietas, ouvindo e engolindo e fingindo? Não sei, realmente, mas não sei também até que ponto reclamar na rua ajuda.

Uma vez, um amigo meu fez uma enquete na Unicamp sobre os xingamentos que mais feriam as mulheres. Ele perguntava o que incomodava mais: ser chamada de biscate, de burra ou de feia. Ser chamada de biscate ganhou de longe: a maioria das minas respondeu que era o pior xingamento. Desculpem, mas pra mim não funciona assim. Se o cara me chama de burra, eu não vou ligar, porque tenho a plena consciência de que não sou burra; eu tenho isso muito bem resolvido dentro de mim, e não vai ser a opinião alheia que vai mudar o que penso. Se o cara me chama de biscate, eu rio na cara dele, porque não me acho biscate; o mesmo processo: não me incomoda. Agora, se o cara me chama de feia, isso mexe comigo, porque a beleza é uma coisa subjetiva, a gente sabe, e a minha auto-estima não é tão bem resolvida assim pra eu não ligar pra esse tipo de comentário. Eu posso pensar "será que não sou mesmo tão bonita quanto eu achava que era?". Jamais pensaria "será que sou burra mesmo? Será que sou vagabunda mesmo?".

Claaaro que os outros conceitos também são subjetivos, no sentido de você responder à pergunta: o que é ser biscate? E claaaro que a resposta para isso passa por séculos de discriminação, de preconceito e de machismo. Mas, para mim, isso é uma questão resolvida. Você acha que eu sou vagabunda, amor? Beleza. Falou. Que que tá passando no cinema hoje? Não me incomodo com esse tipo de rótulo, não mesmo. Não preciso provar pra ninguém que não sou algo que não sou. E, por isso, não preciso ir às ruas protestar. Pra mim, é a mesma coisa do que eu protestar pra dizer "não tenho três cotovelos, juro que não tenho, parem de dizer isso!!". É óbvio que eu não tenho três cotovelos, e se você acha isso, a besta é você. Não preciso me dignar a responder a algo tão sem cabimento. Deu pra entender meu ponto de vista? E, se não deu, tudo bem também, cada um dá o que tem. E tudo bem.

Mas o que motivou meu post foi que vi, nas fotos da marcha, uma menina com um cartaz dizendo "Acredite, minha saia curta não tem nada a ver com você". Peralá, aí também não. Vamos parar de ser hipócritas? Pra mim, não é possível dizer que uma pessoa se veste sem se preocupar com o que o outro vai pensar. As pessoas se arrumam pras outras pessoas. Até quem se veste "de qualquer modo", está dando um recado pras outras pessoas, e o recado é "I don't care". Mas está se importando a ponto de mandar o recado. A gente vive em sociedade, convive com os outros, e não dá pra dissociar isso. Quando a gente está em casa, de boa, relaxando, a gente não está com as roupas que usa na rua (na maioria dos casos). Se precisa sair, a gente vai dar um tapa no visu, porque vai cruzar com outros seres humanos e, de novo, no geral, não dá pra não ligar pra isso. Ninguém se arruma toda pra ficar em casa sozinha. Ninguém acorda, passa maquiagem, arruma o cabelo, veste uma roupa X e acessórios e sapato de salto se for passar o dia sozinha em casa. A gente se veste pro outro, claro que sim. E, quando escolhemos uma saia curta ou uma roupa "provocante", estamos nos vestindo pros outros, sim! Logicamente, isso não justifica os comentários machistas e medievais de que merecemos ser estupradas por isso. Mas também não dá pra dizer que colocamos saias curtas ou decotes ou roupas coladas e não pensamos que as pessoas vão olhar. Historicamente falando, eu acho. Pode ser que hoje, no momento de colocar uma saia curta, você não pense "Hum, tô gostosa". Mas, quando comprou a saia, você pensou que ela iria te deixar bonita. E bonita pra quem? Pro seu espelho? Pro seu sofá? Não, né? Pros outros. Então não dá pra declarar que a roupa que vestimos não tem nada a ver com os outros, porque tem tudo a ver. Nos vestimos pros outros. Compramos a saia curta e a blusa decotada pensando em ficar lindas, pros outros. Nos olhamos no espelho pra ver como os outros vão nos perceber. Então, minha saia curta tem, sim, tudo a ver com você. Não que isso signifique que você pode me estuprar por isso, ou que sou "biscate" por isso (seja lá o que isso for hoje em dia), mas eu coloquei essa roupa pensando nos olhares que iriam cair nela. Mulherada, dá pra assumir isso, ou eu estou louca??

Agora, quanto ao conceito de vagabunda, isso é algo muito mais complexo. E quanto à questão do que a roupa representa nesse balaio, isso também é complicadinho. Tô cansada de ficar no bar tomando cerveja com meus amigos e ver o que é que eles olham nas mulheres que passam. Ver como reagem aos decotes e às bundas e às pernas. Ver o que eles dizem sobre as mulheres que são gostosas e as que são bonitas, ver que eles adorariam comer a gostosa, mas só comer, e levar pra casa a bonita. E, até aí, machismo ou não, eu acho que tudo bem. Porque quem é que disse que a gente quer ser levada pra casa, mesmo? Quem é que disse que o cara é cretino porque só quer comer, sendo que às vezes a gente só quer dar? E qual o problema nisso? Se estivermos todos de acordo, bora cada um fazer o que quiser.

Acho que escolher um determinado tipo de roupa diz muito sobre quem a gente é. Aquele lance do recado que a gente manda pros outros. As roupas hoje em dia não servem somente pra proteção do corpo, aliás, estão muito longe disso. As pessoas, principalmente as mulheres, não escolhem as roupas porque são quentes ou porque abrigam o corpo dos agentes do clima, mas porque são bonitas, porque caem bem, porque realçam ou escondem determinados aspectos do corpo. E toda mulher sabe que, ao escolher uma saia curta, uma roupa justa, um decote profundo, vai atrair olhares e pensamentos dos homens, e das outras mulheres também. Não sejam hipócritas de negar isso. Escolher uma roupa que vai atrair olhares tem a ver com o que você quer mostrar pros outros. "Olha como eu sou bonita, olha como minha bunda está malhada pela academia, apreciem meu esforço com os abdominais, olhem como eu emagreci, olhem como meus peitos são lindos, olhem como minhas pernas estão bem". E isso tem a ver com o que você quer mostrar pro mundo. O que eu acho é que as mulheres que se vestem o tempo todo dessa forma parecem estar querendo mostrar como o corpo delas é divino, e se a pessoa precisa desse esforço pra mostrar isso, parece que não tem nada mais pra mostrar. Porque, quando você passa na rua, a pessoa que te vê não tem como saber seus livros preferidos, suas crenças religiosas, suas preferências políticas, sua concepção de mundo, mas tem como saber que seu corpo é bonito, e que você está querendo chamar a atenção pra isso. E eu me sinto um pedaço de carne, e só isso, se usar roupas assim o tempo todo. Eu não sou só bonita ou gostosa. Eu sou outras coisas, e você só vai descobrir se vier conversar comigo. E, se você não vier conversar comigo porque pela roupa não deu pra ver meus peitos ou minha bunda, então você não serve pra mim. Fica aí de boa.

Ai, isso é tão complicado que me arrependo de ter começado a fuçar nesse aassunto. Porque minhas opiniões sobre o assunto causam polêmica entre alguns amigos. Mas eu ainda acredito nas coisas que estou colocando aqui. E isso envolve outra palavrinha, a "moda". O status de ter um sapato de 7 mil reais, o da sola vermelha (estávamos conversando sobre isso ontem, entre amigos). A merda de todo mundo usar xadrez porque "está na moda". O fato de você ter dificuldade pra encontrar um tipo de roupa que você quer e que "não está na moda". Aquela coisa de entrar em uma loja e ter 300 vestidos P, 150 vestidos M e 3 vestidos G, e você perguntar pra dona da loja porque não tem mais G, e ela dizer que vendeu tudo, e você responder pra ela que ela deveria comprar mais G, se é o que está vendendo, se ela não percebe que aqueles vestidos P vão ficar encalhados forever e depois ela vai ter que fazer promoção de todas as calças tamanho 36. A questão de que, antes, a gente comprava roupa e levava na costureira pra arrumar, e hoje a gente arruma o corpo pra caber na roupa. Enfim, são tantas coisas, e eu tenho mais o que fazer nesse domingo (apesar de não parecer).

Eu só queria dizer isso, mesmo: não negue que a sua saia curta tem a ver com os outros, sim. Ela pode não significar que você quer dar, que você merece ser estuprada, que você é vagabunda (de novo, seja lá o que isso for), ou coisa que o valha. Mas tanto a sua saia curta quanto o seu vestido decotado ou a sua calça jeans ou a sua roupa de academia ou o seu vestido de gala ou a sua berma têm a ver com os outros. O que isso significa, é outra história. Mas que tem a ver com o mundo, tem. Taí Miranda, que não me deixa mentir. Eu não sou "da modinha", longe de mim. Mas não dá pra negar a influência que isso tem hoje na nossa sociedade, quer sejamos contra ou a favor.

Pra esclarecer e evitar mal-entendidos, again: não estou dizendo que sou contra a marcha das vagabundas. Acho que não resolve nada, pra mim é a história dos 3 cotovelos, que coloquei lá em cima. Mas meu comentário aqui foi mais a respeito do fato de negarmos que as roupas que usamos têm a ver com os outros, sim. Dá pra reconhecer isso, gente? Obrigada. Beijo.

sábado, 4 de junho de 2011

Dezessete, trinta, cinquenta e sete

Porque tudo bem a gente ter 17 anos de vez em quando. Todo mundo tem dessas. Quem não tem é chato. Adulto chato. Adulto é chato, fato. Criança é chato, também. Adolescente é cool. E ser adolescente é legal demais. Eu tenho 30 anos, mas sou uma adolescente de 17 tantas vezes.


Porque tudo bem a gente ter 57 anos. Nem todo mundo tem dessas. Eu tenho 30 anos, mas sou uma mulher de 57 tantas vezes. E daquelas ranzinas, chatas.


Porque ter uma idade mental ou um comportamento de 13 anos a menos ou 27 a mais é normal. No meu caso, é super normal. Tem dias em que acordo com 9 anos, e mesmo trabalhando, dirigindo, pagando contas, eu tenho 9 anos. Tem dias em que acordo com 68 anos, e mesmo escrevendo no Facebook, fazendo flamenco ou contando casos amorosos pros amigos, eu tenho 68 anos.


Eu só queria ser de verdade uma mulher de 30, mas tá muito difícil. Tá difícil porque eu não sei se sei ser uma mulher de 30 anos. Porque pra mim é muito fácil ter 7, 12, 17, 24 anos. Também é fichinha ter 42, 47, 57, 68 anos. Mas ser uma mulher de 30 anos, agir como uma trintona, ou trintinha, isso é foda pra caralho. E sabe por quê? Porque a mulher de 30 pode fazer coisas que as de 17 ainda não podem, e coisas que as de 57 não podem mais.


Mas eu não faço. Eu fico entre a adolescência e a chatice da chegada da terceira idade. Mas a idade adulta, essa não veio, essa eu perdi.