quinta-feira, 20 de agosto de 2009

(...) (:) (!) (...)

E chove uma chuvinha insistente, taurina. O dia amanhece cinza, e tenho que sair de sandália porque hoje é dia de fazer o pé. Um puta friozinho do cacete, mas gostoso. Toma chuva gelada na cabeça, o cabelo fica uma beleza. Já tava uma beleza. Fica mais. Céu cinza. Dá uma sensação de tristeza, não dá pra evitar. Meu mp3 parou de funcionar, então não tenho som no carro, sou obrigada a ouvir meus pensamentos, todos eles. Chuva no braço esquerdo, vício maldito do cigarro. Quanto tempo falta pra eu voltar pra casa? Pra minha cama? Pras minhas cobertas? Eu praticamente nem saí da minha rua ainda... Tem muito trabalho pela frente. E depois? Depois... Tenho vontade de sair, tenho vontade de ficar. Tenho vontade de ver desconhecidos, mas tenho uma preguiça maior do que a vontade. Tenho vontade de ver amigos, mas tenho um sono de morte. Olho o relógio e penso na hora em que vou acordar amanhã. Penso na pilha de filmes que me espera em casa, eu e minha tartaruga de pelúcia. Vontade de ter um ele comigo, pra dividir essa merda boa. Mas não pode ser qualquer ele. Tem que ser um ele que fale a minha língua, que ria do que eu acho graça e que arregale o olho com o que eu acho foda, que me olhe sem dizer nada e eu entenda tudo e diga “Pois é”. Mas não tem. Tem a minha tartaruga de pelúcia, serve? Serve. Melhor que muita bosta que tem por aí. Vontade de dançar, uma salsa, uma coisa animada, sem ficar pensando se o sapato tá bonito, se tô dançando bonito pra quem tá olhando, sem pensar, sem pensar em nada. Vontade de acordar com uns 15 quilos a menos, assim, do dia pra noite. Vontade de virar meu quarto de cabeça pra baixo, tirar tudo do lugar, depois arrumar tudo diferente, pra ver se muda alguma coisa, se eu mudo alguma coisa, se alguma coisa muda, pra ver se eu mudo. Programas a fazer e vontade de não fazer nenhum, mas também de não ficar parada, não quero ficar aqui, quero fazer uma coisa que eu não sei o que é. Ver gente que eu não sei quem é. Falar de coisas que eu não sei quais são. Lembro daquela letra daquela música 50% flamenco, 50% brega, “Y mírame, no dejes de mirarme, mírame, no dejes de tocarme, tócame, no me dejes que despierte de este sueño, aunque todo sea mentira”. É isso. É isso mesmo. Mesmo que seja mentira... eu finjo que acredito, porque é melhor que nada. E de repente me dá uma vontadinha de chorar, de enfiar a cabeça nos braços e chorar quentinho, de sair daqui e não dizer nada pra ninguém, ir pra casa tomar um banho quente e chorar mais, depois Miss Turtle, que me olha e não me diz nada, e eu vendo filmes e imaginando os comentários que faria se tivesse alguém aqui. Depois dormir. E acordar. E chove uma chuvinha insistente, taurina.

4 comentários:

Fernando disse...

Ju, Ju... Falei antes e repito agora, ainda mais enfático: "Caralho, como você escreve bem, escreve gostoso, escreve de um jeito que prende, que faz a gente querer escrever também, ou pelo menos responder ao que você escreveu" É o que eu fico tentando fazer aqui...
P:S: dia desses, me empresta a tartaruga?

Menininha bossa-nova disse...

Vixe, hehehe, acho que tenho ciúme da tartaruga... afinal, ela é uma das poucas coisas no mundo que são realmente minhas e só minhas...

Mas, tá, vai... empresto. Aquele lance... se ela não voltar, nunca foi minha. Hahahahahaha...

Tatiana disse...

Gostei muito deste texto. a forma que você desenrolou ele. Muito bom! Aliás, você anda escrevendo muito bem. Inspiração das boas!

Fernando disse...

É que tá simplesmente impossível encontrar um escorpião de pelúcia... queria tanto... Daí ter ficado com inveja da sua tartaruga...