quinta-feira, 25 de maio de 2017

Notas

Eu invento um personagem de mim, acho que vou consegui-lo levá-lo a cabo. Mas daí, no fim das contas, eu não consigo. Porque não adianta criar uma persona que seja tão diferente de tudo aquilo em que eu acredito, de tudo aquilo que eu quero, que eu acho que mereço. Eu não vou conseguir atuar até o fim, vou esquecer as falas no meio do rolê, pode até ser que abandone o palco na primeira cena. Então é melhor deixar quieto e voltar aos velhos ensaios de sempre.

Todas as minhas certezas não me servem de mais nada. Os meus sonhos não se realizam, e olha que eu sempre segui o conselho que aprendi com os livrinhos (que vinham com disquinhos) da Cinderela, de não contar os sonhos para que eles se tornem realidade. Eu não conto, mas mesmo assim nada acontece. Ninguém aparece. Os fantasmas não se tornam em carne e osso, os desejos se liquefazem e escorrem pelo ralo, eu continuo uma ridícula de 16 anos.

Eu dou prazo pra mim, pra você, planejo e penso, escrevo até o que vou enviar quando o prazo expirar. Mas daí ele expira e eu não faço nada. Porque achei que seria ridículo. Então a pasta de Documentos vai se entupindo de textos escritos e nunca enviados, nunca lidos por ninguém, só por uma Juliana já cansada, meses depois, cansada de ser tão besta, e que decide criar um personagem e mudar de vida.

Mas eu não consigo, mas eu não mudo, mas nada acontece e cá estou.


quarta-feira, 26 de abril de 2017

Pesadelo da tarde.

São 17h46, e eu acabei de acordar, porque sonhei um sonho horrível e angustiante com você. Eu acordei e olhei pro tempo de chuva que está e me senti tão triste, mas eu sei que não tem nada a ver com o tempo, que eu poderia estar olhando pra esse mesmo céu com alegria e empolgação. Mas não estou. Eu sonhei que era meu aniversário, acho que era meu aniversário, e tinha uma comemoração em um bar que era do lado de outro; um tinha música ao vivo mais animada, o outro tinha uns churrascos, uma coisa estranha. E tinha também 2 tipos de público, um povo mais velho e um povo mais novo, e o povo mais novo trocava bilhetinhos sem parar, e eu achava que era de mim mas não tinha certeza, e você vinha pra um dos bares, eu não tenho certeza se vinha por causa do meu aniversário. Mas quando você chegou você estava no outro bar, e eu fingindo que não me importava, mas louca pra ir lá te ver, mas esperando, porque em algum momento você viria e eu ia fingir que era natural, mas tudo o que eu queria era ir lá logo pra te ver. Daí uma mulher, que era minha amiga mas eu não sei quem era me levava até o bar em que você estava (que agora era uma padaria) pra me mostrar como a Marginal Tietê era perto de onde eu estava no domingo, como eu tinha acertado o caminho e como era fácil, e ela me mostrava num mapa que ficava na padaria em que você estava, e eu fui pra lá com ela fingindo não ter visto que você estava lá, sentado numa mesa sozinho, com cara de paz, essa que você tem, e eu entrava e passava na sua frente e ia ver o mapa com ela. Eu não lembro de muita coisa, lembro que depois era noite na Unicamp, mas não era a Unicamp que eu conheço, e que eu dirigia muito rápido, com muita pressa de chegar, eu tinha saído da tal festa por alguma razão, e voltava com outra roupa, mas eu só queria te ver logo, então eu estacionava num lugar qualquer e queria sair correndo, mas estava chovendo e eu ia me molhar, então minha mãe chegava e queria falar comigo, e eu só queria sair correndo pra ir logo pro lugar onde você estava, e eu saí correndo na chuva mas esqueci de colocar sapatos, daí voltei pro carro e coloquei. Quando eu voltei pra festa, você estava no bar certo, numa mesa com o tal público jovem, onde deveríamos estar, você e eu. Tinha uma luz esverdeada e a gente se cumprimentou e eu mega fingi ser natural, mas meu coração batucava, e eu queria que você se sentasse logo do meu lado, eu queria que todo mundo fosse embora, eu queria te levar pra rua e grudar no seu pescoço, mas você tava todo blasé e eu também fingia ser natural. Então alguém do público jovem (que eu tenho certeza de que era uma amiga da minha irmã que eu odeio) me passava os bilhetinhos que eles estavam trocando antes, pra eu ler, meio escondido, e era sobre você, sobre a gente, todo mundo sabia que eu estava te esperando com muita ansiedade. E ficava uma dança das cadeiras, às vezes você ia pro outro bar porque sua mãe estava lá, e eu tinha que entender, você não estava lá só por causa do meu aniversário, mas eu não me importava, desde que eu pudesse ter o meu momento com você. Mas você não vinha nunca, e eu me angustiava. Depois mudou pra uma sala daquelas antigas, bem aconchegantes, e eu chegava e estava todo mundo participando de uma brincadeira, e eu me sentava no sofá e de repente você vinha, parecia que estava brincando com meu sobrinho. Não lembro se você sentava do meu lado, mas eu sentia uma dor insuportável, eu pensava que não ia mais aguentar essa situação, era uma agonia, uma dor quase física, ter você ali e não poder fazer nada, ficar esperando você vir me procurar, puxar papo, e não ir até você, era uma angústia imensurável, e então eu acordei. Acordei. Sentindo a mesma angústia. E então a angústia não passou, a tristeza não passou, o sonho acabou, mas o sentimento permaneceu. Eu não sei o que está acontecendo, eu não entendo nada, e então eu vim escrever para não enlouquecer de vez. Porque hoje o tempo está assim, chuvoso, e eu adoro, mas está tão mais difícil ficar cool. Como no meu sonho.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Revendo o texto do Fight Club

Hoje eu me reencontrei com esse texto que escrevi há quase um ano e meio. Eu tô aqui precisando comer, mas sem fome nenhuma. Precisando sair, mas sem companhia nenhuma. Precisando de tantas coisas, mas num inferno astral do caralho em que nada vem. Daí coloquei The Great Gig In The Sky no último, no repeat, porque aquelas minas gritando são tudo o que a minha alma tá fazendo hoje, tá fazendo há tempos. E me reencontrei com esse texto.

Pois é, no fundo ele era só um bosta. Mas pelo menos me fazia escrever.

Entreguei esse texto pra ele, com essa imagem, em mãos, no último dia que a gente se viu. Acho que foi uma boa maneira de terminar tudo, de parar a palhaçada. Gosto quando a última palavra é minha.




Era só isso que eu queria da vida. Só tudo isso. Que pegasse na minha mão e viesse ver o mundo explodir lá embaixo, comigo. Deixar desmoronar, cair, ruir. Tudo. O que é certo, o que é errado, as convenções, a etiqueta, a moral e os bons costumes, as regras da sociedade, a família tradicional brasileira, o “normal”, o estranho. Deixa ruir, desmoronar, cair. Dá aqui essa porra dessa mão e vamos ver juntos que bonita que é a fumaça que sobe quando tudo se destrói. Vem, que o que eu tenho pra te dar é muito e ao mesmo tempo é nada, a soma do que aprendi menos tudo aquilo que eu tive e tenho que destruir pra tentar chegar na essência do que eu sou. Que o que você tem pra me dar é nada e ao mesmo tempo é quase tudo, os resultados das divisões e multiplicações que você fez na sua vida e que resultaram nesse caos lindo que é você, esse caos que me fascina e pelo qual eu tenho a mesma atração respeitosa que sinto pelos trilhos do metrô. Mas não. Porque existem as malditas regras. Que eu vou seguindo, mesmo sem saber quem fez. Eu gosto de jogar, você sabe, todo mundo sabe. E eu não trapaceio. Mas questiono essas merdas dessas regras bizarras. Questiono, mas sigo. Sigo, mas questiono. Porque isso não faz o menor sentido, quem inventou esse jogo idiota que eu ainda estou aqui sentada jogando, há horas, dias, meses, anos. Eu penso em bater no tabuleiro e jogar tudo pro alto, deixa as peças caírem lá embaixo, vamos arremessar essa porra desse tabuleiro lá embaixo, levanta dessa cadeira, dá a volta nessa mesa e vem pegar na minha mão pra gente ver tudo ruir, cair, desmoronar. Seria tão incrível. Mas não. Então eu cumpro a rodada de castigo. Uma rodada sem jogar. Talvez eu não seja tão Marla assim. Mas eu sou. Mistura de Marla com Clementine (do Brilho Eterno) com Capitu, mais mulher do que Bentinho jamais foi homem. E talvez você não seja tão Tyler Durden quanto eu acho que você seja.Talvez você seja só um bosta. 

16/11/15

(O que você faria se recebesse um texto desses como término de uma história? Conta pra tia, conta.)

domingo, 16 de abril de 2017

Paleta impressionista

Enquanto ele fala eu olho pras mãos dele. Olho pros dedos, na verdade. Eu ainda me lembro, e eles são tão bonitos. Eu olho no olho dele e eu me lembro perfeitamente de como era olhar muito de perto. Ele fala e eu, que não ouvia essa voz há tantos anos, começo a me lembrar. Lembro da suavidade, da leveza, da calma. Mas de repente eu me lembro também do calor, e então parece que eu fico quente. E eu tenho vergonha, porque parece que está escrito na minha cara, que ele poderia ler, se quisesse, tudo o que estou pensando. Mas não é isso. Não foi por isso que eu vim.

Então eu me concentro de novo, mas quando noto meus olhos já escorregaram pros dedos dele de novo. Brancos. Lindos. Eu vejo as veias verdes nos braços brancos, eu me lembro. E volto pros olhos, e tento ficar ali o máximo de tempo que eu conseguir, porque eles são lindos, porque ele é lindo, por fora e por dentro, porque ele é, sem sombra de dúvida, um dos caras mais incríveis que já passou pela minha vida, e eu então me lembro. Foi por isso que eu vim.

Ele canta, porque ele é desses. Ele canta e eu quase esqueço tudo ao redor. Eu queria sentar mais perto. Eu queria sentar do lado e pegar nele, e sentir a pele dele, mas não foi por isso que eu vim. Eu percebo que eu tenho vontade de abraçá-lo bem apertado, sem pedir, sem motivo, sem avisar, mas eu não tenho esse direito. A gente não se vê há tanto tempo, eu não quero parecer estranha, eu não posso pedir nada. Mas eu queria pedir bem pouco, na verdade. Queria pedir pra ele cantar mais, pra ele deixar eu chegar mais perto, pra gente sair daquela luz toda, pra gente ir pra rua e sentar na calçada, pra ele deixar eu encostar minha cabeça no braço dele e ficar assim. Eu juro. Era só isso.

Eu ainda vejo todas as cores. Todas elas. Elas estão ali, desde então. Todas elas. Elas me encantam de um jeito novo e velho, elas me dão vontade de ser colorida também. Porque ele não é colorido só por fora. E talvez eu só veja isso agora, tantos anos depois. Porque eu sou monocromática, vermelha, toda vermelha. Eu não tenho cores suaves, porque elas ficam escondidas numa prateleira lá dentro, bem no fundo. Mas a paleta dele me dá vontade de me pintar. De amarelo, de verde, de branco, de rosa claro. Foi por isso que eu vim, mas eu nem sabia.


Eu nunca soube. Mas agora eu sei. 

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Si

Talvez seja esse o segredo. Ou talvez não exista segredo nenhum, tudo seja somente uma grande piada, e nem tem ninguém pra rir. Mas, talvez, assim, talvez, se a gente se dá conta das merdas que fez, a gente possa se redimir. Se redimir com a gente mesmo. Com a gente mesma. Comigo mesma.Talvez, assim, bem talvez, seja esse todo o esquema: se dar conta de que a gente foi babaca. Babaca é pouco. Cuzona. Ridícula. Insensível. Imprestável. Impensável. Impensável pra mim, pra eu de hoje, atitudes que essa besta do passado, eu, tomou, tomei. E tomei, viu? Se te interessa, já tomei o triplo, bem no cu, e doeu pra caralho. E nada muda, nada apaga a merda que a gente fez. Não é tomar ares de importância e achar que a gente feriu alguém, é perceber que essa merda toda só voou pra cima da gente mesmo. Da gente mesma. De mim. E perceber isso é tão difícil, é quase impossível, é um instante ínfimo de compreensão que vem e some, fugaz, não dá pra captar e meditar sobre o assunto, porque já passou. Mas, naquele instante de revelação, puta que o pariu, como dói, me aperta o peito e me enche o olho de lágrima, mas então eu tento pensar e não consigo. A sensação do tempo passado é arrebatadora, é opressora, mas a revelação, a consciência pelo menos é branca, cristalina. Clara como a luz do dia, ainda que por um instante. E me faz vir aqui, no mesmo lugar de sempre, embora todo o resto esteja tão diferente. Está mesmo? Enfim. Enfim... Tantas vezes carpe diem, tantas vezes ouvi, tantas vezes falei, mas nada, mais nada. A cada instante mais perto da morte, mais distante da juventude, mais distante dos erros da juventude. Que a minha juventude possa ser perdoada. Que haja perdão de mim mesma, para mim mesma, por ter descoberto que grande parte do meu sofrimento foi causado só por mim. Que a idiota da Juliana do passado possa pedir perdão no espelho pra essa que hoje nem a reconhece mais. E que a Juliana de hoje possa se perdoar. Porque, talvez, esse seja o segredo.

sábado, 23 de julho de 2016

Desculpa aí.

Foi mal. Eu sou maluca. Eu crio mundos, crio realidades, crio pessoas, personas, personagens (pros outros, porque eu sou sempre eu, na esperança de que alguém curta). Mas nem é culpa sua. Eu que sou louca.

Eu te idealizei, te imaginei, morri de curiosidade, sequei, murchei, e eu acho isso triste, mas não há nada que eu possa fazer, porque você não regou essa minha loucurinha. E, de novo, nem é culpa sua. Não tinha por quê.

Talvez você nem seja tudo isso. Provavelmente nem é, eu nem pude ver, mas nem é culpa sua. Eu curto estranhos, eu adoro estranhinhos, porque acho que a estranheza combina com a minha. Mas, vai ver, nem é.

Nem é. Não foi. Não vai ser. Desculpa aí, foi mal. Apaga tudo, que eu já me obriguei a apagar. Segue a vida, toca o barco, I will survive. I always do.

Não me odeie. É que eu sou maluca. E achei que era maluca por você. Mas, vai ver, nem era. Nem foi. Desculpa qualquer coisa. Não me odeie. Foi mal.

sábado, 16 de julho de 2016


platonismo
substantivo masculino
  1. 1.
    fil doutrina do filósofo grego Platão (428 a.C.-348 ou 347 a.C.) e de seus seguidores, caracterizada esp. pela concepção de que as ideias eternas e transcendentes originam todos os objetos da realidade material, e que a contemplação dos seres suprassensíveis determina parâmetros definitivos para a excelência no comportamento moral e na organização política.
  2. 2.
    p.ext. fil qualidade do amor platônico; castidade, idealidade [Segundo Platão, o amor mundano e carnal pode se tornar, por meio da ascese filosófica, uma afeição contemplativa por realidades suprassensíveis.].



Essa música do querido amigo Hércules Gomes é a coisa mais linda do mundo. Eu fiquei arrepiada na primeira vez em que ouvi, e continuo me emocionando sempre que ouço. 
Ah, a porra do Mundo das Ideias... que sempre vai ser mais bonito que a vida real. Mas nem de perto tão interessante...

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Búfala

Eu sou uma idealista burra. Na verdade, eu sou uma ingênua e uma imbecil. Eu sou uma tapada que acredita que as pessoas gostam quando a gente é “o que a gente é”, e não dos personagens falsos que construímos. Eu sou uma anta que acredita que é melhor mostrar o que somos na realidade, que é bom ser sincera e honesta. Mas é porque eu sou uma idiota, porque na realidade o mundo gosta mesmo é da falsidade, é do personagenzinho criado e encenado pro público, é das técnicas e das táticas. Ser sincera não me leva a grandes coisas. Quem consegue atenção é quem faz papel, quem decora texto, quem cria ceninha e dispara clichês. Clichês anti-clichês, vamos ser exatos. Você mostra seu sangue, sua realidade nua e crua, esperando que alguém ache graça nas feridas, encante-se com seu jeito verdadeiro, ache beleza nas suas falhas e na sua “realidade”, mas o que encanta as pessoas é o jeitinho fabricado. E o pior, elas não percebem o teatro, e compram a ideia como sendo real. São bobas, tolas, deixam-se enganar. Iansã chega chegando, puta, raiva, suando, descabelada por causa da batalha, mas linda ainda assim, linda porque real. Mas Oxum é que encanta, com a mecha de cabelo milimetricamente posicionada para parecer acidental, com o sorriso ensaiado e as frases prontas de efeito. E todos caem a seus pés. Tolos, tolos. Ou talvez a tonta seja eu. Eu comecei dizendo que sou uma idealista burra, e talvez essa seja a verdade.

domingo, 10 de julho de 2016

Torta de morango

Então você tem uma torta de morango maravilhosa: creme delicioso, morangos molhadinhos, casquinha crocante. E você sabe que não pode comer sozinha, porque uma torta assim tão bonita tem que ser dividida. Daí você vai tomar um café com uma amiga que você acha que gosta de torta de morango. Uai, claro que ela deve gostar, como não gostar de uma torta assim? E você oferece um pedaço. E ela diz “claro, vou comer”. E você tem certeza de que ela vai comer, é só uma questão de quando, de repente quando ela acabar o café, ou talvez depois da água, ou ainda quando ela fumar mais um cigarro. Então você espera. Mas ela não fala mais da torta. Então você oferece de novo, “quer agora?”. Mas ela diz que agora não. Então você começa a pensar, porque você deveria ter sacado muito antes, sua imbecil. Quem te disse que ela gosta de torta? Você não perguntou. Você assumiu que ela poderia querer, porque você gosta de torta. Tem gente que é estranha: não gosta de torta de morango. Prefere o morango mais duro ao molhadinho; acha que o creme tem muito açúcar; gosta da casquinha mais mole. E o erro é seu, por assumir que todos deveriam gostar do que você gosta. Tem gente que é estranha, ué, fazer o quê? Pensa: o que ela poderia ter te dito? “Não, obrigada, não quero comer torta”? Ela achou que ia ser rude, então disse “claro, vou comer”, mas ela não queria, ela nunca quis. Quando você perguntou “quer agora?” e ela disse “agora, não, depois”, você deveria ter sacado, porque ela não tinha como recusar, como dizer “desculpe, mas nunca vou querer comer essa torta que você está me oferecendo”. Então não tem o que fazer. Você não vai enfiar a torta goela abaixo da menina. Não vai ficar perguntando e oferecendo de novo, porque uma hora ela vai se irritar, e a gente não passa a querer uma coisa só porque o outro não para de oferecer. A gente aceita, deixa ela acabar o café, se despede, vai embora e procura outra amiga que goste de torta de morango.  

sábado, 9 de julho de 2016

My funny valentine


Eu sei que ninguém acredita. Eu acho essa música linda, eu adoro essa interpretação do Matt Damon, tímida, esses agudos com medo de não chegar na nota. Eu sei que ninguém acredita, mas eu sou assim, no fundo. Porque a gente não é uma coisa só. Eu sou vermelho e gritaria, mas no fundo, no fundo, no fundinho, eu sou assim, esse cantar tímido, sentido, baixinho, com medo de fazer barulho, com medo de não chegar, mas querendo muito. Eu sei que ninguém imagina, mas eu adoraria que alguém lembrasse de mim ao ouvir esse som, essa versão, mas ninguém ia pensar nisso porque eu sou babado, confusão e gritaria. Mas é que tem ângulos que a gente só consegue ver se chegar bem perto. E não é qualquer um que chega tão perto assim. E eu sei que ninguém acredita, mas eu tenho isso aqui guardadinho, escondidinho, num fundo de armário, louca pra te mostrar, mas você não quer vir ver.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

O livro que eu queria te dar

Eu vi um livro maravilhoso hoje, a sua cara. Lembrei de você na hora, e meu primeiro instinto foi comprar pra te dar. Mas daí a realidade veio: eu não posso te dar um livro assim do nada. Porque "ia ser estranho", porque eu nem te conheço direito e porque você ia me achar louca. Eu odeio essa parte, eu queria poder te dar a porra do livro. Mas eu não posso. Porque não é isso que as pessoas normais fazem. Mas, até aí, as pessoas normais também não ficam escrevendo recados em um blog obscuro pra pessoas que nem estão lendo. Então eu não sou uma pessoa normal. Eu sou uma pessoa que acha um livro que você ia adorar, e tem vontade de comprar pra te dar. Mas eu não posso. E eu odeio quando eu não posso alguma coisa. Mas eu não posso. Até porque eu deixei a porta aberta, e você não entrou. Nem bateu na janela. E eu não vou te puxar pra dentro, porque quem quer entrar entra e pronto. Você não entrou porque não quis. Porque não quer. Então eu não posso fazer nada. É uma pena. Mas o azar é seu. Se fodeu: quem fica sem o livro é você.

Eu escrevo aqui porque preciso tirar de mim. E se você por um acaso (muuuuito remoto) ler e tiver medinho, então você é um bosta, e eu não posso fazer nada. Se você tem medinho de mim, você é um bosta e eu nem te quero mais. Te dar um livro não significa que eu quero casar com você e ter dois filhos e um quintal. Eu nem acredito em casamento, eu tô passando da idade de ter filhos e eu nem sei se quero, e o quintal está longe da minha realidade. Era só um gesto, "lembrei de você, achei que você ia gostar, me importo com você o suficiente pra querer te agradar com algo que eu acho que ia te deixar feliz". Só isso.

Mas eu não posso. E é uma pena. O livro era lindo. Talvez eu compre pra mim.

domingo, 3 de julho de 2016

Mister

Mr. Cores. O que eu gostava nele era o jeito que ele me olhava; o jeito que ele me tratava, que parecia que o mundo podia acabar ali e, se ele estivesse comigo, ele estaria feliz. Eu gostava também do que ele me escrevia, na verdade gostava mesmo era do fato de ele escrever pensando em mim.

Mr. TOC. O que eu gostava nele eram os dotes; era das nossas caras ouvindo música e fazendo caretas para as notas; era nosso gosto para filmes e nossas conversas eternas sobre eles depois; era o fato de que, quando ele estava dentro de mim, o mundo podia acabar ali.

MR. Bear. O que eu mais gostava dele era o que ele me ensinava; era como me idolatrava, mesmo que não dissesse, porque não precisava dizer; era saber que, se eu quisesse, ele sempre estaria ali.

Mr. Bones. O que eu mais gostava nele era quando eu conseguia quebrar as defesas e as barreiras todas, e convencê-lo a se convencer de que me queria; era ver a luta interna dele consigo mesmo, e saber que quem ganhava era eu.

Sir Stark. O que eu mais gostava nele era o cheiro de cigarro misturado com perfume e café que ficava na barba dele; eram nossas conversas cheias de duplo sentido; era o jogo.

Mr. Asshole. O que eu mais gostava nele era a juventude; era o branco das mãos, dos braços; era o fetiche pelo meu pé; era passar os dedos pelos cabelos loiros, sabê-los meus pelo menos por aquela vez.

Sir First. O que eu mais gostava nele era ter ganhado a batalha, e saber que ele era meu; era o perigo, seja nas escadas da vida ou escondidos pelos motéis, eu que odeio motel; era o carinho verdadeiro; era um jeito que ele descobriu e que eu gostava, porque ele foi o primeiro.


É, eu já fui muito feliz nessa vida. Já comi muita merda, também. Mas, caralho, eu já fui muito feliz.

sábado, 2 de julho de 2016

Algumas poucas coisas (que eu quero falar) sobre mim

1. Eu odeio essa modinha de barba. Eu odeio modinhas, em geral. Há um tempo, barba era uma coisa rara. Hoje qualquer mané tem. Odeio a obrigatoriedade de qualquer coisa, até da barba, ou do coque samurai, ou de qualquer merda. Gosto de cara lisinha, de deslizar pele na pele. Gosto da barba crescendo, raspando, quase machucando, daquelas que a gente fica toda vermelha quando beija. Eu fico, sou sensível. Mas a barba que se tem pela moda, essa eu odeio. E eu nunca gostei de barbas gigantes, anyway.

2. Eu abasteço o carro sempre no mesmo posto, em Valinhos, no meio do caminho entre a minha casa, em Campinas, e o meu trampo, em Vinhedo. E eu só coloco gasolina lá. Desde que comprei o carro (que foi na mesma época em que comecei a trabalhar em Vinhedo). Agora eu tô de férias e a gasolina está acabando, então eu vou ter que ir lá só pra fazer isso. Mas eu não ligo, eu tô de férias.

3. Eu falo sozinha comigo o tempo todo quando estou sozinha em casa ou no carro. Não uma conversa, mas frases soltas. Eu penso em muitas coisas e de repente eu solto uma frase pra mim mesma, depois eu dou risada da frase ou de mim.

4. Pelo menos uma vez por semana, eu estouro uma pipoca, coloco manteiga e vou pra debaixo das cobertas ver um filme ou uma série. E não me venham com papinho de saúde. Caguei.

5. Eu paro o carro na garagem do subsolo, que tem um eco sensacional. Daí desço do carro cantando, canto no caminho todo do elevador e entro em casa cantando. A música depende do mood do dia.

6. Eu tenho playlists específicas para pessoas específicas que ocupam a minha cabeça. A minha playlist atual é uma piada. Tem 33 músicas e eu as ouço ininterruptamente no carro. Qualquer um que andar comigo não vai perceber, a não ser que seja o objeto da playlist, o muso inspirador dela, hahahaha. Se ele andar no meu carro um dia, eu vou esconder o pen drive.

7. Eu ouço a maioria dos áudios que envio no WhatsApp pra ver como a minha voz saiu e fico imaginando como as pessoas vão me ouvir (mesmo que seja a minha mãe).

8. Se eu quiser que o meu R saia perfeito, eu preciso pensar. Se não penso, ele sai uma merda, porque eu escrevo rápido como eu penso, muito rápido. E eu odeio o meu R (o minúsculo).

9. Eu não uso o meu sobrenome do meio porque o acho muito comum, pra tristeza da minha mãe. Mas é que eu não gosto das coisas comuns, pelo menos não da maioria. E tem uma atriz pornô nas Filipinas que tem o meu último sobrenome, e eu acho isso engraçadíssimo.

10. Eu penso em você pelo menos metade das horas em que estou acordada. Muito mais do que eu deveria, muito mais do que eu gostaria. Mas eu penso.

You've got such a pretty smile, it's a shame the things you hide behind it, let it go, give it up for a while.

https://www.youtube.com/watch?v=T4aEFkRIZ-c

Escrever um texto sem escrever. Esperar sem esperar. Ser normal uma vez na vida. Mas é que normal é tão chato. Mas, pera, esse monte de sentimentalismo, essa carga emocional enorme também não é legal. Posso só escutar a música sem pensar que é um sinal pra mim? Posso ser um ser humano normal e fazer coisas normais quando como eu vivia sem me preocupar com nada? Posso conversar de verdade, tirar fotos de verdade, ver TV de verdade? Será que eu consigo ficar um dia inteiro sem falar sozinha, sem fazer caras no espelho, sem rir de mim mesma, sem me preocupar com o que você vai achar, sem fazer planos mirabolantes, sem esperar demais das pessoas? Posso só tomar cerveja com os meus amigos e esquecer por umas horas de toda essa loucura que eu mesma crio e que depois não dá em nada? Porque eu crio todas as loucurinhas, depois nem eu mesma aguento e tenho raiva, e eu quero quebrar esse ciclo e ser uma pessoa normal. Eu quero ouvir de verdade o que as pessoas falam, sem ficar procurando mil e um significados ocultos nas palavras delas. Eu quero parar de compartimentalizar o meu cérebro e quero fazer uma coisa de cada vez, pensar uma coisa de cada vez, sem mil pensamentos de pano de fundo. Eu quero me lembrar do que realmente importa, e não de detalhes sem significado. Mas daí as pessoas dizem que gostam de mim do jeito que eu sou, assim doida. Mas que pessoas, cara pálida? É legal achar a maluca legal, mas viver a vida da maluca ninguém quer. Ninguém sabe o que a maluca pensa quando ela se deita pra dormir, ninguém sabe a preocupação quando ela encontra uma mina maluca de verdade e fica se comparando, "será que eu sou assim louca, será que as pessoas me veem desse jeito?, eu não quero que as pessoas me vejam assim, eu queria ser mais normal, não tão normal, mas um pouco mais normal, porque ser assim desse jeito está acabando comigo". Porque ouvir a mesma música quatro vezes seguida deve ser um sinal de loucura. Porque revisitar detalhes insignificantes mil vezes na minha cabeça pra revesti-los de significado deve ser um sinal de loucura. Porque me importar com o que você pensa de mim, sem nem saber quem você é, ah, isso deve ser um sinal de loucura. Porque pensar tanto assim e querer tanto assim, com essa força, deve ser um puta sinal de uma puta loucura. Eu penso muito, eu faço pouco, eu enlouqueço sozinha e depois eu visto a cara de normalzinha e então ninguém sabe. Eu quero muito, e eu nem sei por quê. Eu me olho no espelho e me acho horrorosa, mas eu boto a banca de linda e vou tocando. Ser uma pessoa normal, porque senão o mundo vai se assustar. Você, que parece tão normal, só que não. Só que eu não sei. Eu não sei de nada, mas ninguém mais lê essa bosta, mesmo, então que se foda. Tô cansada, tô cansando, e eu não sei pra onde ir depois disso. Olha aí o sentimentalismo de merda de novo. Que se foda. Que se foda. Que se foda.

sábado, 25 de junho de 2016

Caça ao tesouro

Eu adoro montar caças ao tesouro. Pra amigos, por diversão. Na minha vida, por ideologia. Uma coisa meio oriental, meio budista, meio caminho da iluminação: o Escolhido é aquele que entende. o Escolhido saberá ler minhas pistas. Mas, ó, você tá me deixando muito confusa, porque eu nem sei se você está encontrando as pistas.

Quando algo é muito fácil (um livro, um jogo), a coisa toda perde a graça. Mas quando é muito difícil, muito hermético, também perde. Pra que o jogo continue, eu preciso saber se você está nele, se você está jogando ou se eu estou enlouquecendo sozinha.

Então, please, deixa uma pistinha pra mim também. Porque eu também gosto de jogar.

sábado, 18 de junho de 2016

Padrões, padrões, padrões... (Coluna Infinita)



Eu tava aqui me lembrando de uma vez, há anos, em que eu admirava muito um cara, mas a gente só se via uma vez por semana e conversava 15 minutos cada vez. E eu ia me interessando mais por ele a cada vez, e ia ficando louca, e queria muito sentar pra conversar com ele e conhecê-lo melhor. Mas, por causa do meu interesse, eu não conseguia fazer o mais simples. Porque pra chamar um brother pra tomar cerveja eu não tenho problemas: se ele disser que não pode, eu vou ficar de boa e marcar outro dia, e vou esquecer a história depois de cinco minutos. Mas, quando eu me interesso por alguém, eu não consigo. Porque, se ele disser não, eu vou me quebrar inteira. Porque, se ele disser não pra cerveja, é como se ele estivesse dizendo não pra mim, pra tudo, e eu não vou conseguir suportar o depois.

No caso em questão, o que eu fiz foi mandar um e-mail GIGANTE pra ele, engraçadinho, com todos os nossos pedaços de conversa interrompidos, pra dizer que eu queria continuar a conversa sem hora pra acabar. Mas foi gigante, super elaborado, fiz até projeto de texto, praticamente. Era uma obra de arte. Pensei e pensei, retirei palavras, coloquei outras, revisei, reli mil vezes e enviei. Daí fiquei lendo de novo a cada cinco minutos, enquanto ele não respondia. E a resposta dele tinha 3 linhas, e era algo do tipo “Você é louca, era só me chamar pra tomar uma cerveja”. A gente tomou a tal cerveja, afinal. Bom, eu não era a única louca do rolê, porque ele me chamou pra viajar com os primos dele depois disso, e a gente nem se conhecia direito. E eu fui, e as coisas deram certo por um dia, mas depois não, porque ele não era exatamente o que eu pensava que ele fosse, e eu também não devia ser o que ele pensava que eu era, se é que ele pensava. Bom, isso é o que acontece quando a gente não conhece as pessoas direito. Naqueles quinze minutos semanais eu criei um personagem dele na minha cabeça, e a realidade era outra. Eu me deixei influenciar pelo personagem que ele mostrava, mas eu também mostrava o meu, porque a vida é assim. E daí, quando finalmente rolou a cerveja, era uma conversa de personagens, era uma cena de teatro, com cenário e tudo. Tinha até figurante. Tudo isso pra dizer que, se a gente tivesse tomado uma breja antes de eu construir uma imagem irreal e fictícia dele, se eu tivesse feito as coisas de maneira normal, talvez o meu interesse se quebrasse, ou talvez a gente tivesse ficado só amigo, talvez a gente tivesse se conhecido de fato, nós, as pessoas, e não nossos personagens.

Enfim, anos depois eu me vejo repetindo tudo de novo. Eu vivo num mundo paralelo e muito louco, e os padrões se repetem infinitamente, mas que merda que é isso! Tenho uma amiga que diz que, quando uma situação se repete na nossa vida, é pra gente aprender com ela, e que, enquanto não aprendermos, não vamos nos livrar dela nunca, ela vai continuar a se repetir. Eu deveria ter aprendido, porque isso diz respeito à maneira como eu encaro as minhas paixões (no sentido amplo) e o meu interesse por caras incríveis, à primeira vista. Eles me parecem tão incríveis que eu acho que eles nunca vão querer nada comigo, nem tomar uma cerveja. Eu deveria mudar minha atitude, chegar e falar de boa. Mas eu não consigo. Eu não consigo, e eu me odeio depois e volto pra casa chorando porque eu fui uma idiota, porque eu perdi as brechas em que uma pessoa normal diria “Vamos tomar uma cerveja um dia e você me conta desse rolê, então”.

Mas eu não digo, e depois me martirizo. O problema é que eu não gosto de qualquer um. Ah, não. Eu sou uma pessoa muito chata, ranzinza. E eu vivo cercada de pessoas idiotas, tapadas, burras, modinha, vazias, desinteressantes, sertanejo universitário e baladinha, porre e vômito, novela e sapato novo. E então, quando aparece um cara que seja minimamente interessante, que se pareça comigo pelo menos um pouco nessa coisa de ser cinza (apesar do vermelho), eu fico louca.

Deixe-me ser justa: não é só minimamente interessante. É foda. É demais. Me dói fisicamente no peito a vontade de sentar num bar e conversar por horas, e entender, e conhecer de verdade, e rir mais, e pensar junto. Não é, nem de longe, só “minimamente” interessante. É interessante pra caralho, é tão, mas tão, mas tão incrível que eu fico muda. Que eu fico besta, idiota, olhando pro chão. Que eu me acho desinteressante, o que é que eu tenho pra dar pra esse cara? Que eu me sinto adolescente, burra, feia, travesti, ele nunca vai olhar pra mim. Que eu pareço retardada mental, que eu digo coisas e faço caretas e depois quero me dar um murro porque não era isso que eu queria dizer. É tão maravilhoso que eu não consigo falar coisa com coisa, que um segundo de silêncio equivale a dezenove mil coisas passando na minha cabeça. Tão fofo que eu olho todos os detalhes e depois fico com vergonha, não consigo dizer normalmente, como eu faria com um brother, "Banho e tosa?". Tão massa que eu paraliso. Que eu volto pra casa querendo morrer. Que eu venho aqui no blog e despejo esse monte de coisas “desconexas e não coesas”.  


Mas essa sou eu. Repetindo, repetindo, repetindo. Uma merda de uma Coluna Infinita, que repete o mesmo módulo de sempre, desde sempre e para sempre, saindo da terra e se enfiando no céu, igual, igual, igual, e monstruosa, monumental, gigante, ameaçadora. Uma Coluna Infinita que me engole, me destroça, me desfaz. A mesma coisa de sempre. Os mesmos módulos. Os mesmos padrões. Eu não consigo chegar perto, de novo, e de novo, e de novo. A culpa é minha, porque eu repito, repito, repito. Se é importante pra mim, eu não consigo. A culpa é minha. Mas eu jogo um pouco pra você, pra variar. A culpa também é sua. Você me parece tão incrível que eu não consigo chegar perto. E você não faz a mínima ideia.