sexta-feira, 4 de julho de 2008

Domingos passados

Eu pensei em escrever sobre a saudade que sinto de alguns amigos que não vejo mais com tanta freqüência, sobre os domingos que passávamos, domingos letárgicos, entorpecentes e hedonistas, quando ficávamos largados o dia inteiro curtindo um som, conversando coisas bizarras, um dando risada da risada do outro, viajando longe. Lembro-me de um domingo em especial: céu cor-de-rosa alaranjado, trilha dO Estranho Mundo de Jack (Tim Burton) tocando; foi um domingo mágico, que representa todos os outros pra mim. Uma sensação de paz, de companheirismo, de juventude. Acho que estou me sentindo meio velha.

Não posso mais ter domingos como aqueles. E acho que nem queria mais. A gente tem que reconhecer quando uma fase da vida passa, senão fica aquelas velhas ridículas, tipo a Suzana Vieira, com 498 anos e achando que tem 17. Não dá pra viver daquele jeito mais, com 27 anos nas costas. Mas as minhas memórias daqueles tempos são muito boas. Acho que principalmente porque sei que eles não voltam mais. Porque cada um está numa fase diferente da vida hoje em dia. Porque meus amigos não moram mais naquela casa, um está em Sampa, os outros espalhados por aí; porque agora eu tenho mais compromissos e mais responsabilidades; porque agora eu não me sinto mais tão "largada" no mundo (acho mesmo que estou crescendo, que merda!), porque os meus atos têm conseqüências para mim, principalmente; porque eu andava numa fase meio triste, mas só reconheço isso agora: apesar de andar meio vazia nos últimos tempos, não estou triste. Acho que, naquela época, eu era mais triste do que eu sabia... não tinha muito sentido na vida, fazia as coisas por fazer, empurrava um dia após o outro com a barriga, foda-se o que acontecer amanhã, foda-se se eu não conseguir levantar pra trabalhar, foda-se se eu perder o ônibus, foda-se se minha mãe quiser me matar porque ela não sabe onde eu ando, foda-se o que pensem de mim as outras pessoas, foda-se o mundo.

Não quero mais que o mundo se foda, pelo menos não quero mais foder a minha vida. Gosto de levantar todos os dias pra trabalhar. Claro que às vezes enche o saco, mas gosto de ter as minhas responsabilidades, o meu carro pra pagar, coisas pra decidir, gosto de ver meu nome nas páginas de crédito dos livros, então quero fazer o meu melhor. Não quero mais me afundar e morrer, esquecer de mim mesma num canto qualquer. Que isso na verdade deve ser a depressão. Engraçado que, na época, eu não sabia, não sentia. Não achava que estava triste. Hoje que eu vejo.

Mas mesmo assim às vezes me vem a saudade daqueles tempos. Porque é pra mim a representação da absoluta falta de preocupação. Lembro-me também de uma noite no quarto do Robledo; eu, Carol, Ronalde, Robledo, Rafa e tinha mais alguém que eu não lembro... e ficamos vendo o vídeo dO Mágico de Oz sincronizado com The Dark Side of The Moon e viajando horas e horas. Não existia nada mais no mundo. Era bom.

Hoje, pensando, foi bom ter vivido tudo isso. Bom ter do que sentir saudade. Mas tudo na vida passa, e essa fase passou. Os amigos continuam queridos pra mim, guardadinhos aqui na mente com muito carinho, pra eu lembrar quando quiser. E hoje acordei pensando neles e nessa fase doida da minha vida, mas acho que serviu mais pra comparar com a minha vida hoje e ver que tenho coisas muito legais acontecendo, coisas que eu desejava na época e que agora estou vivendo. Mas também é bom ter essas lembranças pra não esquecer de, de vez em quando, deixar a vida ir um pouco por si só. Que a gente não consegue controlar tudo, mesmo. Não dá pra andar por aí largada, à deriva. Mas também não quero entrar numa de militar de controlar tudo e todos os meus atos e meus pensamentos e meus sentimentos. Não faz mal, às vezes, só de vez em quando, soltar o volante.


Saudades de vocês, queridos amigos, e dos nossos domingos malucos. Um dia vou contar pros meus netos nossas horas felizes e as pessoas maravilhosas que vocês são.

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