segunda-feira, 25 de junho de 2012

Moça


Daí que hoje é aniversário da única pessoa no mundo que me chama de “moça”. Pois é, eu tenho um amigo canceriano, não sei como. Quer dizer, sei. Porque ele é muito especial. Muito querido. Mesmo longe.

Como eu já disse pra ele numa festa da Unicamp (uma das festas em que eu fiquei mais louca na minha vida), ele é um dos amigos mais bonitos que eu tenho. Mas não é só por fora. Eu amo esse cara por dentro, exatamente por ele ser do jeito que ele é. Amo por todos os livros compartilhados, por todos os filmes, por todas as músicas, por todas as histórias, por todas as aulas do cursinho, por todas as festas da Unicamp, por todos os telefonemas, por todas as conversas, por ele não ter me matado quando eu derrubei a lata do Legião Urbana dele, por ele ter sido tão compreensivo quando eu maltratava a namorada dele que eu odiava, por ele ter cuidado de mim naquele dia e ter deixado eu deitar no colo dele no chão da garagem da casa em que tava tendo a festa, por ele ouvir todas as histórias foda que eu contava da minha mãe, por ele rir do meu pai chamá-lo de Thunder Voice, por ele ser essa pessoa meio melancólica, meio pessimista mas que eu entendo, pelo Livro da Arte que a gente ficava folheando até decorar nas livrarias mas sem grana pra comprar, pelas nossas imitações do Calvaro e do Nunes, pela compreensão, pela reserva, pelo carinho.

Daí que ele está longe e ninguém mais me chama de moça. E eu a cada dia fico menos moça e mais velha. E ele também. Prova disso é o dia de hoje. E daí ele tá lá em Brasília, na putaqueopariu. Mas todas as vezes que eu escuto essa música eu me lembro dele. Porque parece que é ele cantando pra mim. Porque começa com “Moça, olha só o que eu te escrevi”. E porque as coisas bonitas que a letra fala são coisas que eu sei que esse meu amigo me diria, como consolo. E porque eu fecho os olhos e vou pra uma realidade paralela onde a gente more perto e esse meu grande amigo venha me visitar e eu tenha a minha casa e ele diga “Põe mais um na mesa de jantar/ porque hoje eu vou praí te ver/ e tira o som dessa TV/ pra gente conversar”. E quando eu abro os olhos eu lembro que ainda não tenho a minha casa, que o meu amigo mora muito longe e que faz uma cara que a gente não se vê. Mas eu sei que seria assim. Porque ele é assim. Porque eu sou assim. E porque amigos de verdade são assim.

Saudades.

   
P.S. - É, a gente tá velho, mesmo. Eu não uso mais óculos, e esse lugar da foto nem existe mais... Cadáveres...

terça-feira, 29 de maio de 2012

Pedido

Deus,

se você existe mesmo, você pode trazer um pouquinho de sossego aqui pro meu coração?

Tipo ontem. Eu estava tão feliz, não conseguia parar de sorrir, de rir mesmo. Mas daí eu me esqueço do porquê de estar sorrindo, e nublo, piro, surto. Me fecho. O motivo pra eu estar sorrindo há três minutos atrás me parece fraco demais, não parece valer o esforço. Afinal, deve ter um buraco aí no meio pra eu cair em breve. Então, se eu estiver procurando por ele, talvez eu não caia. Mas eu preciso estar atenta. Se eu estiver andando desatenta, olhando pro céu e rindo comigo mesma, vou cair, certeza. Não posso tirar os olhos da estrada, não posso tirar a mão do volante pra colocar aquela música bonita, porque ela vai me fazer viajar em pensamentos e eu vou deixar de prestar atenção no caminho, e vou me perder, e vou parar em um lugar estranho, com gente estranha, que pode até me deixar feliz. Mas e o buracão que eu sei que tem lá adiante? E se eu estiver distraída por essas pessoas, por essas músicas que insisto em cantar até quando escovo os dentes, pelas lembranças que vêm do nada, pela imagem de olhos nos meus olhos, aí é que eu não vou ver o buraco chegando, não vou ter tempo de desviar, vou cair lá no fundo e me foder. E depois pra sair é o caos. Então talvez fosse melhor ficar aqui na minha, olhos atentos nas curvas perigosas da estrada, velocidade reduzida, faróis de neblina acesos, sem música pra distrair, sem paisagem bela pra olhar, só focando no chão e atenta ao abismo.

Mas, oh, mas eu tô é muito desatenta. Tô andando por aí descalça, sem medo de queimar o pé ou morrer de frio, porque agora a grama tá tão verde e macia. Tô andando e comendo uma maçã ao mesmo tempo, e o sabor dela explode na minha boca e eu sorrio ao ver as marcas que meus dentes deixaram na fruta, como se eu fosse uma criança notando isso pela primeira vez. Tô escutando uma música atrás da outra, uma mais linda que a outra, a mesma música vinte mil vezes, tô cantando junto e rindo ao mesmo tempo. Tô caminhando sem ver pra onde estou indo, com a cabeça pra cima, olhando o céu e sorrindo pras nuvens.

E isso não pode dar certo, né? E aquele buraco que eu já conheço, como faz? Eu sei que ele está por aí esperando pra me engolir, à espreita, quando eu menos esperar. Então eu preciso de foco. Foco. Foco pra fugir do buraco. Então, Deus, se você existe mesmo, põe foco no meu caminho. Eu ia pedir pra você eliminar o buraco da minha frente, mas sei que talvez isso seja pedir demais. É?

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Às vezes apertar o botão ENVIAR pode ser pior do que acionar uma bomba atômica. Pelo menos a gente conhece a dimensão do poder de destruição da bomba...

Mas, ah, que bobagem. No fundo, eu sou uma incendiária.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Jogando War com a vida

É, eu sou a Rainha Vermelha do War. Meus amigos sabem disso. Sabem que eu adoro jogar, que eu adoro ganhar. Mas tem algumas coisas que eles não sabem. Só alguns. Alguns sabem que eu aprendi a jogar War de verdade há poucos anos. E que eu aprendi bem. Tão bem que, alguns sabem, eu jogo War com a vida.

Eu sempre achei engraçado eu conseguir ganhar as partidas de War, porque no jogo eu tenho uma coisa que se chama paciência. E eu sempre achei que eu não tivesse na vida. Na verdade eu não tenho. Mas em alguns aspectos eu tenho até demais. Espero tanto que passa do ponto. Uma amiga me mostrou isso, na noite do meu aniversário. Ela me disse que eu jogo War com as pessoas, quando estou interessada. Achei estranho, mas, pensando depois, vi que é verdade.

Eu ganho a maioria das partidas de War que eu jogo porque eu vou beeeem devagar. Porque eu não saio correndo atrás do meu objetivo, cegamente. Porque eu me fortaleço primeiro onde eu estiver. Eu ataco toda rodada, mas ataques sutis, quase tímidos. Quase que pra ninguém perceber que eu estou ali. Aos poucos, com dois exércitos a mais a cada rodada, o mundo vai se tingindo de vermelho. Conquisto continentes sem que os outros percebam, e quando perceberam já é tarde, já estou protegida e ninguém mais entra. Ninguém quer comprar briga comigo, então ficam se matando. Faço acordos verbais que cumpro, de verdade. Mas eles têm validade, e isso é combinado. Não roubo, não trapaceio. Mas sou dissimulada. Irônica. Cara de pau. Capitu. E, quando vem a troca de 50 exércitos, daí ninguém me segura mais. O mundo é meu. Vermelho, como eu gosto.

De fato, eu acho mesmo que jogo desse jeito em outros aspectos da minha vida. Aquele objetivo disfarçado, secreto, que ninguém sabe (só quem tá de fora do jogo; sempre tem uma amiga que espia suas cartas pra ver sua estratégia e torcer por você). A lentidão nos passos. Os ataques certeiros, mas disfarçados. Tão disfarçados que as pessoas nem percebem. Hoje coloco dois exércitos. Amanhã coloco mais dois. Uma semana depois, tem mais dois ali. E assim, de dois em dois, de carta em carta, quando chegar a troca de cinquenta, você tá fodido, meu amigo...

O problema é que, pra jogar War, tem que ter parceiro bom. E eu sempre achei que um parceiro que me quebra é aquele rapidinho, que conquista o objetivo dele dando uma de kamikaze quando eu estou colocando os meus dois em dois. Mas eu acabei de descobrir que não. Porque não é esse tipo de parceiro/adversário que me encanta. Porque, quando ele ganha o jogo e eu ainda nem tinha começado, acabou a graça. Eu gosto mesmo é daquele que também vai devagar, na dele. Eu coloco dois exércitos, ele coloca dois. Eu coloco dois, ele coloca três. Eu coloco três, ele coloca um. E assim eu fico perdida. E assim as horas passam e o jogo avança. Minha cor e a dele se misturando no tabuleiro, ninguém sabe quem vai ganhar.

Pra um cara assim, eu nem me importo de perder.      



Pra meio entendedor, a boa palavra basta. Dá uma carta de troca aí pra mim que eu tô aqui, só esperando.

Velha

Então é isso. Eu fiquei aqui pensando que com essa idade eu já deveria começar a tomar mais cuidado com a minha saúde, com o meu corpo, com a minha mente. Sei lá, ser uma pessoa mais séria, ser uma professora mais severa, entrar numa academia, parar de fumar. Mas a merda é que eu gosto muito de ser como eu sou. Eu talvez não devesse, mas eu gosto muito de ser essa Juliana Palermo que eu sou, sabe? E eu não me sinto com 31, porque às vezes eu tenho 17 (na maioria das vezes...), e de vez em quando eu tenho 81... Então, de qualquer maneira, eu curto mesmo ser essa palhaça, essa besta, essa professora louca que às vezes fala o que não deve, essa pessoa estranha que tantas vezes faz o que não deve, essa menina que pensa o que não deve, essa velha que sente o que não deve, essa mulher que acha mesmo é que tá tudo muito bom assim.  

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ah, o subjuntivo...

Eu tenho uma queda maldita pelo subjuntivo. Eu sei, fazer o quê? Eu queria ser uma fã do indicativo, sabe, aquele que dá certeza, mas eu não sou assim. Às vezes eu descambo pro imperativo, ordeno, desejo, peço. Mas, na maior parte das vezes, eu curto mesmo é o subjuntivo. É o talvez. O possível, mas não certo. O será que... O talvez que... O quem sabe... Daí a vida passa e eu aqui subjuntivando. Eu sei, uma merda. Mas a possibilidade é tão, tão boa...

"Se tudo pode acontecer
se pode acontecer qualquer coisa
um deserto florescer
uma nuvem cheia não chover


Pode alguém aparecer
e acontecer de ser você
um cometa vir ao chão
um relâmpago na escuridão


E a gente caminhando de mão dada de qualquer maneira
Eu quero que esse momento dure a vida inteira
e além da vida ainda de manhã no outro dia
Se for eu e você
Se assim acontecer..."


De Alice Ruiz, Arnaldo Antunes, Paulo Tatit e João Bandeira.


Tão, tão bonito... vai que, né?