Camões fica batendo na minha porta. Discuti esse poema esta semana com meus alunos. E, ontem, uma amiga disse que não suporta ver o ex dela com outra pessoa e ela ainda estar sozinha, porque, segundo ela, um cara tão filhadaputa assim está "bem", e ela está "mal" (sozinha).
Bom, tem milhares de coisas que eu podia falar sobre isso, e algumas eu disse pra ela ontem. Sobre o conceito de estar "bem" ou "mal" e qual a relação entre isso e estar ou não acompanhado (que, pra mim, estar sozinha nunca foi tão bom). Mas o que me pegou foi essa sensação do desconcerto do mundo, de a gente achar que "os maus se dão bem e os bons se dão mal" (e olha que rica a nossa língua e que beleza esses advérbios e adjetivos!). Quem é mesmo mau? Quem é mesmo bom? O que é se dar mal? O que é se dar bem? Acredito que isso tem a ver com um sentimento característico do ser humano, de se colocar sempre na pior situação do mundo, de achar que os outros sempre estão melhores do que a gente, de que estamos sempre na pior, de não olhar pra vida como ela é de verdade, de não reconhecer o que temos de legal, de ter se acostumado com o que a nossa cultura nos empurra goela abaixo, de achar que a gente tem que ter alguém pra ser feliz, porque no último capítulo da novela todo mundo acha seu parzinho.
People, todo mundo se acha o cocô do cavalo do bandido às vezes, todo mundo acha que é o maior sofredor da face da terra, de vez em quando. Essa semana eu dei uma dessas, e até por isso o poema se fez presente de novo, 3 vezes na mesma semana, para tudo, post no blog. Pensei exatamente isso, em outro contexto: sempre fui boazinha, agora vou botar pra fuder, como todo mundo faz - e não deu certo. Hahahahahaha. Enfim, não sei se isso é destino, se é coincidência, se são os deuses rindo da gente e jogando xadrez, se está tudo na nossa mente. Mas esse sentimento não é nada novo, não é nada particular. Taí Camões, que escreveu, há mais de 500 anos, a mesma coisa, a mesmíssima coisa.
Ao Desconcerto do Mundo
de Luís Vaz de Camões
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.
Pois é. Não é assim, não. O mundo não anda concertado só pra mim. Eu sei disso, embora às vezes pareça difícil acreditar.
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