sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Tem tudo isso e não tem nada.

É, tá tudo igual e tudo diferente. Eu preciso dormir, definitivamente. Mas é que tem tanta coisa. Tem cerveja gelada no bar, tem barulho bom demais da pôrra no ar, tem aquele moço amarelo, aquele moço branco, aquele moço bege, um aqui do lado, outro ali na frente, outro lá atrás, não necessariamente nessa ordem. Tem aquele moço lindo, tem aquele que não vale um real e ao mesmo tempo vale milhões, tem aquele que dá dó, tem aquele que por que não?, tem tantos e não tem nenhum. Tem papel demais na minha vida, dinheiro de menos, vidro demais e espelho de menos. Minha vida é uma vitrine, todo mundo vê. Tá na hora de ser menos cristal e de ter mais espelho. Quem sou eu, pôrra?

Tem batuque bom demais da conta, tem bebês fofos, tem amiga de verdade virada na pôrra e que berra o que eu preciso ouvir e depois me faz rir de mim, porque eu sei que eu posso rir dela também e assim não dói. Tem aquele futuro que eu não sei se vai chegar um dia, mulher amamentando, carregando bolsa de bebê, cara de mãe, e eu pergunto: será? Tem toda a liberdade de não ter compromisso com nada a não ser com o que eu quero, tem todo o medo de ter tantos caminhos pra escolher e o medo de um dia ser tarde demais pra querer ir por u determinado caminho. Tem o medo de só ter um único caminho, pra sempre. Esse medo é forte pacas. Mas a gente vai vivendo. Toma uma aqui, faz um barulho ali, dá um berro acolá e sapateia por tanguillos pra ver se vai. E vai.

Liga não, tomei uma cervejinha a mais e saiu isso aqui.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Não sei

Eu não tenho vindo mais aqui, não sei o que acontece comigo. Muito trabalho, ao mesmo tempo muito tempo livre. Não é que não estejam acontecendo coisas na minha vida: estão. Ou quase. Acho que é esse o problema. O quase. O quase sobre o qual eu tenho medo de falar. Estou proibida por mim mesma de sentir determinadas coisas. Não que eu consiga, pelo menos não totalmente. Mas posso tentar não pensar. E aqui eu penso por escrito. Merda.

Muito flamenco, muito. Exorcizando total. Saio pingando, pernas doendo, cabelo molhado de suor e cabeça mais leve. Deito e morro.

Alunos particulares. Me dá preguiça, mas depois que eu vou é bom.

Muita papelada na escola.

Muita coisa na minha cabeça, e muita polícia de mim mesma pra parar de pensar. Ou, pelo menos, tentar.

Tô odiando o livro que estou lendo, mas eu sou taurina teimosa e agora vou acabar. Zuenir Ventura me decepcionou deveras.

Aquele brilhinho no olho que eu não posso retribuir mexe comigo, mas de um jeito estranho. Não consigo, baby. Sorry.

Meu sobrinho é um gostoso e tá grudado comigo. Ontem eu tentando corrigir prova e ele pedindo "colinho". Coisa mais gostosa do meu mundo. Ponho ele no colo e continuo corrigindo, ele quer pegar a caneta vermelha da minha mão. Amo.

Saudades dos meus ex-alunos malucos. Preciso marcar uma sinuca com eles. Não que eu jogue direito, mas me divirto.

Ensaio amanhã, a galera escolheu 5 sons bem foda. Quem se fode sou eu. Mas vamo que vamo, porque o último show foi bem legal e deu uma animada geral. Não tô reclamando, não. Pela primeira vez em muito tempo.

Pol Vaquero chegando na área com Isaac de los Reyes e Joni Cortez. Vai ser bem foda.

Tem mesmo muita coisa acontecendo. Mais que isso, no puedo decir. No lo se.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Perséfone


(Baseado na história de uma menininha muito querida para mim. Duas menininhas, na verdade, com histórias muito parecidas.)


Tem aquela menininha indefesa e ingênua que cai no buraco do vampiro e se vê de repente perdida num submundo escuro, fantasmagórico, assustador, surreal e onírico. Mas esse caso é muito diferente daquela menininha suicida e kamikaze que vai pro buraco por vontade própria, sabendo exatamente o que vai encontrar, e querendo, até, o ar gélido do vampiro, a fumaça inebriante, a escuridão e a sombra, o vento frio nos cabelos. Tudo em troca de um pouco de vida. Vai entender.

Tem aquele povo com pulsão de morte. Na real, todo mundo tem um pouco de pulsão de morte, mas tem gente que tem mais. Que precisa buscar o perigo o tempo todo, talvez pra se sentir vivo. Que precisa correr os riscos, que precisa ver se aguenta.

Lembrei hoje da Perséfone. Aquela que largou a vida normal e linda e boa com a mãe Deméter nos campos floridos e ensolarados para viver com Hades, o temível guardião do reino dos mortos. E o mais impressionante é que ela comeu a romã, fruta dos mortos, porque quis. Por vontade própria. Porque decidiu viver no subterrâneo com o pálido e gélido e estranho Hades. Que, convenhamos, devia ter alguma coisa de bom.

Quando eu era mais jovem, mais precisamente na oitava série, participei de um concurso de poesia com o pseudônimo de Perséfone. Achava linda a escolha dela. Desculpem, mas hoje não acho mais. Não tenho mais vocação pra Perséfone, perdi pela vida, em algum lugar. A vontade de viver de verdade a vida dos campos ensolarados e floridos é maior, mesmo sabendo que às vezes eles ficam secos e cinzas, porque o natural é que eles voltem a florescer.

Claro que às vezes dou uma de Perséfone. Mergulho no abismo. Porque é uma delícia esquecer meu nome e ser somente Perséfone, nos braços de Hades, em uma vida irreal, em uma vida que não é a minha; me abandonar, me perder, sair de mim. Mas é sempre bom voltar à superfície, para a mãe Deméter e suas flores, e, principalmente, para o Sol.


Ah, o Sol.