sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Hysteria/Obsessão

Pois é. Tá foda. Eu não sei se tenho vontade de morrer ou de matar. Manhãzinha complicada no trabalho. Pôrra, eu tenho as minhas convicções, as minhas crenças, a minha visão de mundo e da minha profissão. Mas tudo bem, tudo bem.

Fim de ano é assim mesmo, sempre digo. Nunca tome uma decisão importante em fim de ano. Eu, pelo menos, não posso. Porque ando estressada, irritadinha no último, cansada, morta, podre. Mas tudo bem, tudo bem. Toca em frente.

Pra ajudar, sabe obsessão? Pois é. Obsessão. Aquilo que não sai da sua cabeça? Então. É assim. E obsessão só tem duas curas: ou a gente resolve logo e mata, ou desencana sem resolver. Mas enquanto isso, é difícil, ai como é difícil.

Então ouço Hysteria, da galera do Muse, e grito no carro, dirigindo. Então vejo o clipe e tenho vontade de fazer igualzinho ao cara. Medo de mim.




it's bugging me, grating me
and twisting me around
yeah I'm endlessly caving in
and turning inside out

'cause I want it now
I want it now
give me your heart and your soul
and I'm breaking out
I'm breaking out
last chance to lose control

yeah it's holding me, morphing me
and forcing me to strive
to be endlessly cold within
and dreaming I'm alive

'cause I want it now
I want it now
give me your heart and your soul
I'm not breaking down
I'm breaking out
last chance to lose control

and I want you now
I want you now
I feel my heart implode
and I'm breaking out
escaping now
feeling my faith erode

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Hominho

Tem dias que não dá: eu realmente não to a fim de papo mulherzinha, não consigo nem ouvir voz de mulher. Que dirá voz de mulher conversando papo mulherzinha. Ah, dá um tempo.

Eu ando estressada mesmo, faz um tempinho, e eu sabia que essa semana ia ser foda. Segunda tenho que entregar todas as notas, e ainda tem 12 pacotes de exercícios pra corrigir até lá (e depois somar todas as notas e fechar as médias, fora as faltas). E eu não tenho mais minhas tardes livres, nem aquela uminha tardezinha livre que eu tinha. Então desde domingo de noite eu já tava de bode prevendo essa semana de merda. E realmente tá foda. Ando me arrastando pelos corredores do colégio, pela vida. Implorando por férias. Que ainda vão demorar 23 dias, oh, meu amigo calendário. Daí vem stress. Eu acordo de mau humor, depois melhoro, daí vem uma cambada de boçais e estraga tudo. Por dois motivos. Porque eles são meio boçais, mesmo, mas também porque eu exagero. Over. Reacting. Total. Nem era pra tanto.

Daí que fodeu meu dia. Chego em casa e tenho míseros 20 minutos pra comer, fumar e descansar, antes de encarar a segunda jornada do dia. Engulo a comida, tentando ver TV, mas minha mãe quer conversar, porque ela ficou sozinha em casa a manhã toda e tá carente, doida pra falar, perguntar como foi minha manhã e falar de coisas absolutamente sem importância nesse momento. Eu só quero silêncio e paz. Posso? Não, sou grossa. E 5 minutos no sofá me deixam pedindo por 5 horas no sofá, canal do Telecine aberto, assistir a qualquer coisa e dormir, dormir. Mas o lazarento do relógio me mostra que já é hora de ir embora. Há humor que suporte??

Daí não dá. Ando mau humorada, mesmo, de bico, cara de cu. Que eu sei fazer uma cara de cu como ninguém. E nem é culpa dos outros, claro que não. Mas tô de bode, então não vou ficar fingindo cara de feliz. Não me vem com bagunça, não me vem falar durante o filme! Não me vem com papo mulherzinha, mulherzinha besta e sonhadora, inocente e criança; acorda, Alice!

Nessas horas, ah, nessas horas... sou meio homem com H. Não tenho paciência pra você, minha flor. Te vira. Mas não vem falar comigo, não. Não vem me contar, que tem dias que eu até consigo forçar um sorriso e tirar algo idiota da minha mente pra dizer, algo que você entenda. Mas hoje não vale o esforço. Tô chata. Hoje sou homem vendo futebol: do not disturb.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Folhetim Vagabundo - História 8 - Capítulo 1 - O fim chegando cedo




“Mesmo se as estrelas começassem a cair e a luz queimasse tudo ao redor e fosse o fim chegando cedo, você visse nosso corpo em chamas.”

Claro que eu já tinha ouvido Legião Urbana. Todo mundo já ouviu, mesmo que não goste. Acontece que eu nunca achei que fosse possível. Mas agora tudo parece extremamente possível.

O mundo acaba amanhã. A galera da Nasa soltou um comunicado oficialíssimo e importantíssimo. Não vai dar tempo de salvar nada. A colisão com a Terra é inevitável. Terráqueos, preparem-se: o mundo que vocês conhecem vai acabar. Não tem nenhum super-herói de filme pra nos salvar. Amanhã, a essa hora, morreremos todos.

Eu sempre imaginei essa situação, amava aquele som do Moska que dizia “Meu amor, o que você faria se só te restasse um dia? Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria”. Pois é. Agora é real. Mas não parece.

Tô calma. Acho que ainda não caiu direito a ficha. Anyway, essa ficha tem 24 horinhas pra cair. E eu tenho muita, muita coisa pra fazer.

Vamos à primeira delas...




Acompanhe a continuação dessa história amanhã, aqui, no blog da Lu.

domingo, 22 de novembro de 2009

Folhetim Vagabundo - História 7, Capítulo Final




O início dessa história você encontra aqui!


Ana Clara olha pela janela do belíssimo apartamento. A paisagem é absurdamente maravilhosa, mas sempre tem um tom triste. A tristeza de seu interior refletida nas ruas de Paris. Seu olhar se desvia para seus sapatos, lindos, chiques, caros. Mas nem mesmo eles podem distrair a dor que sente e sempre sentiu dentro de si.


Caminhando de volta para a cozinha, Ana Clara retira do fogo a chaleira e prepara o chá. Leva-o para a farta mesa de café-da-manhã, com bolos, sucos, café, pães e frutas. Arruma o jornal de Pierre no lugar onde ele sempre se senta à mesa, sua cadeira cativa. Em breve as crianças estarão também aqui, Beatriz e Lucas, filhos de Pierre, filhos de Pierre e Mariana. Todos tomarão seu café e partirão para suas vidas, para mais um dia de suas vidas. As crianças na escola, Pierre no escritório...


Mariana... Mariana em sua loja. Mariana rodeada por seus empregados, por suas clientes grã-finas, ostentando suas fortunas em jóias, roupas e sapatos, e prontas a gastar sempre mais, a repassar o dinheiro para o bolso de Mariana, que nunca fez nada para merecê-lo, nem mesmo montar a própria loja. Pierre, apaixonado, sempre deu a ela tudo o que ela quis.


Ana Clara lembra-se do fatídico dia da morte de seu amado pai. Lembra-se de todas as revelações, da carta da madrasta Rosa, da sensação ao saber que Mariana não era nada sua, nada, nada, nada, filha de outra mãe e de outro pai. Não era filha de seu pai, de seu sofrido pai, de seu enganado pai. Fazia anos, já. Três anos? Quatro anos? Por que parecia não fazer diferença? O convite de Mariana, na época, parecera um insulto. "E tem mais...", ela dissera. "Gostaria que você viesse comigo para Paris, gostaria que viesse morar comigo, com Pierre, com minha família, pois somos a única família que você tem, e eu não quero perdê-la". Sim, na época parecera absurdo. Aquela mulher, que não era nada sua. Como seria viver em sua casa, na casa que deveria ser sua, com o marido que deveria ser seu, com os filhos e a vida que deveriam ser seus... Seria humilhação demais.


Mas para Ana Clara nada nunca era humilhação demais. Estava sem emprego e sem forças para procurar um outro. Estava sem forças para pensar, e se deixara levar por Mariana, embarcara no avião e fora para Paris. E lá, há anos, cuidava da vida de Mariana, da vida de Pierre, da vida dos filhos de Mariana, da casa de Mariana. A casa que não era sua. Os filhos que não eram seus. O marido que não era seu. A vida que não era sua. Mas que vida teria, que outra vida poderia ter? O que mais importava?


As crianças começaram a fazer a algazarra matinal de costume. Ana ouviu o barulho de Pierre saindo do banheiro, e o cheiro de seu creme de barbear penetrou-lhe as narinas. Mascando seu chiclete mentolado, encaminhou-se para o lavabo a fim de lavar as mãos de maneira que Mariana não percebesse o cheiro de cigarro nelas.
Segunda-feira, mais uma história para você. Aqui mesmo!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Correrias

Minha vida anda uma correria sem fim. Fim de ano, sempre a mesma coisa...

Escola no fim do bimestre, caralhadas de coisas pra corrigir, a agência bombando, ensaios de matar do Flamenco, da Ópera do Malandro, da banda, shows marcados com a banda, de violão e voz, apresentação de Flamenco, da Ópera, figurinos, e eu no meio disso tudo, desejando que chegue logo o dia 28 de dezembro pra eu sumir. Tá, dia 18 já vai ser bom: férias e só a correria boa com as coisas da viagem.

Pensei em vir aqui escrever muitas coisas nesses dias. Ia escrever uma historinha inventada que contava o que acontece quando a mocinha diz para o mocinho aquilo que ela quer dizer; depois desisti. Ia escrever uma receita para não acreditar no amor; depois desisti. Ia escrever para o GuessWho, que morreu (né, Du?); desisti também.

Tô é com medo de escrever qualquer coisa e me arrepender. Então fico quietinha.

Hoje tem show.

Hum.

Tá. Tchau.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Carpe Diem

Taí. Os árcades dão no saco às vezes, mas hoje o Tomás Antônio Gonzaga gritou aqui no meu ouvido... Taí um cara que sabia passar uma boa lábia na mulher que embaçava... Tá, uma visão mega simplista do Arcadismo, mas no fundo, ah, no fundo é isso aí.

Cada um tem a Marília que merece, Dirceu...



Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
sem que o possam deter, o tempo corre;
e para nós o tempo, que se passa,
também, Marília, morre.

Com os anos, Marília, o gosto falta,
e se entorpece o corpo já cansado;
triste o velho cordeiro está deitado,
e o leve filho, sempre alegre, salta.
A mesma formosura
é dote, que só goza a mocidade:
rugam-se as faces, o cabelo alveja,
mal chega a longa idade.

Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias que vêm tarde já vêm frias;
e pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! não, minha Marília,
aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças
e ao semblante a graça.

Ai, ai... Que havemos de esperar? Que vão passando os florescentes dias?

Como eu disse, acho que pela primeira vez entendi esses caras.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Ao GuessWho

GuessWho:

Eu ainda acho que você é algum amigo engraçadinho meu. Anyway, desde que não seja um serial killer ou algum freak perigoso, eu topo o jogo, sim. Adoro um jogo, você deve saber.

O sinal está aqui, uma vez que não tenho como te contatar, se você só envia torpedos pela internet...

Sem maluquices, heim??

Cordiais saudações,

da doce Juliana.

(Doce??? Você deve estar brincando... Na real, arde, mas é doce.)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Surpresa!

There`s a centre of gravity/ Brings you near to me/ Nearer all the time... (Aqualung).

E eu aqui dando risada e ganhando o dia por uma coisa tão idiota.

Por favor: férias urgentemente!!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Folhetim Vagabundo - História 6 - Capítulo 3

O início dessa história pouco doida você confere aqui.

Leu?? Certeza?? Senão não vai entender nada!!

Agora leia o Capítulo 3:



Betina sentia seus pés em contato com algo viscoso, gelado. Tentava colocar os fatos em ordem, mas havia desistido há muito tempo. Não, seus neurônios não haviam sido treinados para esse tipo de trabalho forçado.

O túnel parecia não ter fim. O macaco parecia não sentir o gel a seus pés. O mundo parecia estar todo errado.

Maldita hora aquela em que decidira dormir na casa da avó... Podia ter ido ao casamento de Raul, mas sabia que não aguentaria ver o ex-namorado casando com aquela sonsa da Vitória. Então havia decidido passar o fim de semana o mais longe possível, o mais longe que sua cabeça conseguia conceber: a casa da avó, no interior. Lá, nada de “pela estrada afora eu vou bem sozinha”. Nada de doces para a vovozinha. Aliás, nada de vovozinha: a avó de Betina era bem modernete, e logo apresentou seu namorado: Ed, o velhinho que cheirava a leite de rosas. Contraste engraçado com o cheiro de charutos da avó...

Maldita hora em que Betina resolveu que poderia ser interessante espiar a avó e Ed trepando, pelo buraco da fechadura... Se não tivesse espiado, ah, se não tivesse espiado...

A lembrança dos palhaços do Éden atrás dela a fez tremer. Já tinha ouvido falar deles. Só não os tinha ligado à situação. Nunca os teria ligado àquela situação...

A mão do macaco forte, peludo e cheiroso apertou a sua, despertando-a dos devaneios loiros.

- Chegamos, doce de coco.

Uma porta se abriu e Betina pôde vislumbrar o vulto de cinco pessoas sentadas a uma mesa. Não conseguia identificá-las. Não conseguia pensar mais nada, a não ser na vontade imensa que sentia de tirar aquele maldito sutiã pontudo.

Nas paredes azuis do recinto, havia cinco quadros.

Betina não conhecia nenhuma das pessoas ali retratadas. Mas eram personalidades muito conhecidas. Nada mais nada menos do que Tim Burton, David Lynch, Edward Munch, Edgar Allan Poe e Stephen King. Mas seria muito exigir de Betina o conhecimento de tais figuras.

Ouviu a voz do macaco atrás dela.

- Senhores, enfim chegamos. Apresento-lhes a doce Betina.

Sobre a mesa, embaixo de um foco de luz, havia alguns DVDs, livros, fotos. Todos eram obras dos mestres retratados nas paredes. Além de tais objetos, Betina vislumbrou um enorme saco de estopa escrito SAL.



Oh, céus! Tem coragem de continuar?? Eu acho que vale a pena... amanhã, entre aqui e mande bala!


terça-feira, 10 de novembro de 2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Praia

Eu quero e não quero. Eu quero muito que chegue logo essa viagem de férias, que chegue logo dia 28 de dezembro, que chegue logo a hora de colocar os pés no avião, que chegue logo a hora de colocar os pés no mar, na areia, que chegue logo a hora daquela caipirinha na praia, daquela cervejinha de fim de tarde, com o corpo queimado de sol, cheirando a hidratante, o cabelo molhado caindo em cachos naturais e tudo bem, os pés numa rasteirinha, a boca doendo de tanto dar risada, a oferenda pra Iemanjá, os pedidos de ano novo, os telefonemas e torpedos, os fogos na praia, os colares de Salvador, a onda batendo forte nas minhas costas e o medo que eu tenho e sempre tive de mar, as conversas com amigos, as pedras, a areia, a água. Eu quero muito. Quero recomeçar, quero descansar, quero me esquecer, quero me perder, me encontrar, ficar em paz. Quero e não quero. E quero ainda mais, por essa parte louca em mim que não quer. Quero com todas as forças pra ver se venço essa doida dentro de mim que não quer, que quer mas não quer. Quero muito mesmo.

E quero também voltar. Pra começar tudo de novo. Pra começar.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Dizendo

Eu descobri meio que sem querer essa banda, Aqualung. E adorei. Daí que tem essa música linda que diz exatamente tudo o que eu queria dizer e não posso. Não posso por uma série de razões. Mas se as palavras não forem minhas, então tudo bem. Então não são minhas, OK? São da galera do Aqualung.

A kiss is not just a kiss
A smile is more than a smile
Maybe we get together, maybe forever
Maybe just for a while

I've seen the look in your eyes
I've seen you wondering why
There's a center of gravity
Bring you near to me
Nearer all the time

And I'm petrified, I'm hypnotised
Every time you walk by
And I can't get you out of my mind
(...)

Ouça aqui: (Can't get you out of my mind – Aqualung).

(suspiros de idiota)

Folhetim Vagabundo - História 5 - Capítulo 4 - Consciência

Essa história começou aqui, ó!

Agora, leia o capítulo 4:


Sentindo o coração palpitar, Helena pensava: “Preciso descobrir algo sobre essa história toda...”. Criando coragem, disse:

- Interessante essa sua tatoo... Tem algum significado?

Arregalando os olhos, Marcelo respondeu:

- Tá louca, Leninha? Ih, hoje você tá muito estranha... desde manhã, nem me cumprimentou direito no elevador... Bom, tenho que atacar, depois a gente se fala, gata.

Ao ouvir essas palavras, e sentir o apertão que a mão do saxofonista dava em sua bunda, Helena ficou desconcertada. Enquanto observava o músico voltar ao palco, o chão se abria a seus pés. Que foi isso? Que intimidade era essa? Leninha? Gata?

Não teve tempo para terminar suas perguntas. Uma música envolvente penetrava em seus ouvidos, esquentando o corpo todo. A visão de Helena ficou turva, o mundo foi rodando e ela precisou se sentar. Nada mais parecia fazer sentido, e então tudo começava a fazer sentido. A música preenchia tudo. Quase tudo. Em sua mente, ainda havia um espaço para tentar pensar. A música viria em breve, era preciso ser rápida, antes que apagasse todo e qualquer vestígio de sanidade, de racionalidade.

Leninha... aquela intimidade com o saxofonista... Catarina Sampaio, a vítima... Helena sentira que a conhecia de algum lugar, mas não conseguira encaixar direito de onde... encontros de elevador não explicavam aquela sensação forte de familiaridade... A música não parava, estava invadindo cada vez mais todos os sentidos e todos os espaços de Helena. “Preciso fazer com que algo faça sentido logo, ou vou apagar”. E, vagarosamente, as coisas começavam a fazer sentido, mas um sentido estranho. Helena começou a entender o porquê da sensação de tédio em sua vida, o porquê do cansaço extremo que sentia quando acordava 6h15 da manhã e o porquê de ficar apertando o botão de soneca. O porquê da sensação de semivida. O porquê da ironia de Seu Jorge, o porteiro, perguntando se Marcelo estava a incomodando com o barulho... o barulho era dela! Eram seus gritos e gemidos, vindos do apartamento do saxofonista, não a música! Não, não podia pensar na música, precisava se concentrar e entender essa bagunça toda. Frases, sensações e imagens dessa segunda-feira estranha vinham à sua mente e adquiriam novo significado. A sensação de semivida... Adorava apontar seus lápis com canivete, sentia até alguma espécie de prazer com aquilo... A vítima, que não parecia estar com medo, fumando um cigarro atrás do outro... o rosto de Marcelo no retrato falado...

O rosto de Marcelo de madrugada, muitas madrugadas, lençóis, travesseiros, chuveiro, o saxofone no canto do quarto, o relógio marcando 4 horas da manhã. Por que Helena não se lembrava de todas essas coisas? Por que só agora, com essa música, a verdade veio à tona?

Uma nota grave, profundamente grave, fez com que Helena engolisse em seco. Entendeu tudo em uma fração de segundos. Ela tinha uma segunda vida. De que nem ela mesma sabia. Uma vida de madrugada, diferente da vida de durante o dia. Uma vida inconsciente. Marcelo só conhecia a Leninha, essa da noite. Mas e ela? Quem ela conhecia de fato? Quem era ela de fato? O que ela tinha a ver com Catarina, com o estupro, com toda essa história?

Sentiu que ia desmaiar. Mas era somente a música de Marcelo arrastando seus últimos fios de consciência, levando embora Helena e deixando Leninha em seu lugar.

Sorrindo, Leninha retira da bolsa um cigarro e o acende, observando a pequena estrela tatuada no dorso de sua própria mão, que segurava o isqueiro.


O fim de tudo isso? Amanhã, no blog do Du.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

E então eu estou dirigindo pela rua e juro que te vejo no banco do motorista no carro ao lado. Vou atrás, mas não é você. E então eu me pergunto o que estou querendo da vida, se eu sei o que estou fazendo, se eu sei no que isso pode dar, se eu sei o quanto posso me ferrar, te ferrar. Se eu sei o tamanho dessa loucura dentro da minha cabeça.

E então eu me lembro dos seus olhos dentro dos meus e eu derreto. Lembro do formato deles, tão bonito. Lembro da paz que me dá, lembro do cheiro de amaciante. E lembro que devo estar ficando louca. É, talvez eu esteja.