terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Dani e Lucas

Domingo passado eu saí com dois velhos amigos. Tô pra escrever aqui desde então. São dois amigos muito queridos. Fizemos cursinho juntos em 1999, há dez anos já. Uma vida. E desde então sempre mantemos contato, mais em umas épocas, menos em outras, mas sempre contato.

Fiquei mesmo refletindo por um tempo sobre os efeitos desse encontro, e, quando digo efeitos, digo as reflexões que o encontro desencadeou em mim. Não me lembro se foi nA elegância do ouriço, livro que estou lendo, que vi um troço sobre a importância de se conservar os velhos amigos, aqueles que te conhecem há muito tempo, que sabem de todos os seus defeitos e que gostam de você mesmo assim. Aqueles a quem é difícil enganar. Que te leem facilmente, que te sacam, que te conhecem, enfim.

Sim, é muito bom ter amigos assim, e encontrar com eles e conviver com eles é mesmo fantástico.

Dani e Lucas são duas figuras ótimas. Como eu disse, nos conhecemos há dez anos atrás, quando entramos os três pra fazer cursinho pré-vestibular. Éramos tão diferentes, e ao mesmo tempo éramos os mesmos. Lucas queria prestar Ciência da Computação, Dani também, eu ia prestar Educação Física, ora veja só (ta rindo de quê?). Eu fiz Letras, Lucas fez Economia, Dani fez Ciência da Computação. Fomos colegas de Unicamp.

Lucas: conversas sobre livros, sobre música, sobre Arte; cinema; nosso lado deprê e nossa tendenciazinha à melancolia; cutucadas e risadas; abraço apertado; o livro Para entender a Arte, que olhávamos por horas nas livrarias; nós dois sentados na escada da portaria do prédio da 14 de dezembro; Lucas me salvando quando eu tava passando mal mucho loca numa festa da Dança; oi, moça.

Dani: conversa sobre outros livros, sobre outras músicas, sobre música em geral; filmes, cinema; computador, meus pais; o pratinho; gargalhadas de doer a barriga; Dani me levando um CD da Alanis de presente na Unicamp porque eu chorei no MSN que meu cabelo tava curto demais – e não estava tanto assim; Dani e minha última prova no Teleduc; o programinha de ver a programação dos cinemas; tchau-tchau.

Ambos loucos por Legião Urbana. Dani pra mim é Giz (Quero que saibas que me lembro, queria até que pudesses me ver; és parte ainda do que me faz forte); Lucas é Sete cidades (Já me acostumei com a tua voz – thunder – com teu rosto e teu olhar – de Dr. Wilson). Os dois são figuras apaixonantes; obviamente me apaixonei pelos dois, em momentos diferentes e de maneiras diferentes. E não só paixão de amigos, porque quando você conhece dois caras tão maravilhosos como esses dois são, acaba mesmo confundindo as coisas. Andávamos numa turma muito bacana, e nossa vida era mesmo muito legal. De lá pra cá, tivemos muitas fases diferentes, mas sempre que os encontro é um acontecimento muito bom pra mim.

Fomos assistir ao Benjamin Button, depois fomos comer pizza e tomar cerveja, fechamos o Santa Fé e depois fechamos o Ponto Final. Porque assunto é o que não falta. Depois de falar sobre pêlos pubianos (ah, os velhos amigos... a delícia de se sentir em casa), em determinado momento da noite nos vimos os três nos sentindo muito velhos, com esse papo de que já tem dez anos que nos conhecemos. Éramos três pessoas com menos de 30 anos levando um papo de velhos de 80. Mentira. Era um papo de gente de quase 30, mesmo. Mas nos achamos um pouco velhos, de pensar em tudo o que já passou e em tudo por que passamos, cada qual com as suas histórias particulares e também com nossas histórias em conjunto.

Falamos de relacionamentos, da dificuldade dos relacionamentos amorosos, do que falta, do porquê não dá certo, de como deveria ser. Falamos de nossas vidas, de nossas desventuras, do que nos falta, do que temos, do que queremos. Em determinado momento, perguntei aos dois: “Vocês se acham adultos, já?”. O Dani respondeu na hora um “Não”, o que me fez me sentir muito bem. O Lucas pensou um pouco e também disse que não. Entramos numa conversa de casamento, de filhos, de quanto nos falta pra termos isso, do quanto queremos e se queremos isso. Da imagem que passamos pros outros, da imagem que temos de nós mesmos. Se somos adultos, o que nos falta para ser; se somos crianças, o porquê de sermos.

Mas que merda. É claro que somos adultos. E é claro que também não somos. Como eu disse, somos os mesmos, e não somos mais. Dani está trabalhando em Sampa, feliz da vida fazendo o que gosta; já viajou até para a China a trabalho, está agora dando um passo de ir morar sozinho na monstra São Paulo, com seu apartamento; terminou um relacionamento que eu nem soube que existiu. Lucas faz doutorado em Economia, também está indo morar sozinho, terminou um relacionamento (esse eu soube que existiu), está esperando a resposta de um concurso e talvez vá para Brasília. E eu? Em que sou diferente daquela menina de 17 anos que entrou no cursinho? Caralho, sou uma professora de Português, amo o que faço, finalmente tenho minha carteira de motorista, meu carro; virei tia, tenho minha banda e meus projetos; consegui sair de verdade de um relacionamento que existiu 10% no mundo real e 90% na minha cabeça, e que me fez muito mal, mas que me ensinou muita coisa sobre mim mesma.

Definitivamente, não somos os mesmos. Não tomamos mais sorvete na torre do Castelo depois das provas da segunda fase da Unicamp. Mas dentro de cada cabeça ainda existe, e graças a Deus, muito do que fomos. Muitos desejos do que queremos ser. E que já queríamos. Muito da mesma maneira de ver o mundo. Muito dos adolescentes que éramos, muitos sonhos, ainda os mesmos (uns se realizaram, outros mudaram, mas alguns permanecem, e talvez permaneçam a vida toda, pois isto são: sonhos).

Antes do Dani chegar no shopping, conversávamos eu e Lucas sobre reler livros (que já lemos mil vezes). Eu dizia a ele do desespero que sinto quando penso na infinidade de livros que não li e quero ler, na imensidão de filmes que quero ver e não vi, e como fico puta comigo mesmo quando me pego “perdendo tempo” relendo o que já li e revendo o que já vi. E ele me disse que é muito bom, sim, reler um livro, porque é como encontrar um velho amigo. Pôrra. É a maior verdade do mundo. De como te faz bem o reencontro com aquilo que você já conhece e pode ver de outro jeito e pensar em coisas diferentes, ou ver do mesmo jeito de novo e sentir e pensar tudo de novo. Caralho, é isso. Os meus livros preferidos quero tê-los sempre à mão. Os meus amigos antigos quero tê-los sempre por perto. Porque não se gosta de um livro à toa. Porque não se escolhe amigos pra vida toda à toa.

Amo O homem duplicado, amo As brumas de Avalon. Vou reler a vida toda. Amo Dani, amo Lucas. Vou amar a vida toda.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Mulher gosta mesmo é de...

Tava aqui me lembrando de um comentário que um aluno fez no ano passado. Segundo ele, uma colega professora disse que quem gosta de pinto é viado, mulher gosta é de dinheiro.

Uau.

Bom, eu não sou viado e gosto de pinto, também. Mas não só. De dinheiro todo mundo gosta. Fiquei aqui pensando do que as mulheres gostam.

Mulher gosta de braços. Braços com pelos, pra diferenciar dos nossos. Braços de homem, de homem de verdade, não de homem inflável ou de homem bombado. Braços que abraçam, que encostam no seu e te arrepiam. Braços brancos, bem brancos, do tamanho ideal, com a quantidade de pelos ideal, másculos mas humanos. Pelo menos eu.

Mulher gosta de barba. Não uma coisa Moisés, uma barba de homem de verdade. Barbas que falam, que contam a história daquele homem, ou daquele menino, ou daquele menino-homem. Barbas que vão e voltam, que estão lá num dia, depois não estão mais, depois voltam a crescer. Barbas que vão e voltam bem devagarinho naquele espaço entre o nosso pescoço e o ombro. Pelo menos eu.

Mulher gosta de pescoço. Aquela parte do pescoço que mistura nuca e ombro, aquele lugar gostoso de falar baixinho. Aquela parte bem branca que dá vontade de colocar os dedos e subir até o cabelo, com a pontinha da unha, de levinho. Pelo menos eu.

Mulher gosta de boca. De boca carnuda, que pede beijo só pelo simples fato de existir. De boca rosa, de boca vermelha, de boca de homem, de boca na boca, de boca na nuca, de boca na pele. De boca da qual saem coisas interessantes, inteligentes, engraçadas. De boca da qual saem muitos beijos, risadas, gargalhadas, de boca que às vezes fica seca e às vezes molhada. Pelo menos eu.

Mulher gosta de respeito, de inteligência, de cultura, de emoção, de pegada, de maturidade, de humor, de companheirismo, de carinho, de bom gosto, de atenção e de pinto, também.

Pelo menos eu.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Acaso

Pode rir. Eu gosto. Eu gosto de Ivan Lins, gosto de César Camargo e gosto de Pedro Camargo. Quer rir? Pois que ria. Eu gosto do que mexe comigo, e essa música mexe pra cacete. Dá licença?

http://br.youtube.com/watch?v=a-_D__vULXQ



Eu sou tão brega assim?
...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Dindi

Quarta-feira de noite. De madrugada, pra dizer a verdade. Chuvinha da boa aqui fora. Cadeira de praia, com o note no colo, ouvindo a chuva bater no zinco da garagem, então a chuva fica ainda mais gostosa. A Rosa Passos canta Dindi, numa versão delícia. Abri uma Festa de Prata que veio na minha caixa de natal. Hahahaha. Ah, fazer o quê? Deu vontade. Até que não é tão ruim, depois de meia garrafa. Cigarrinho. Lá dentro, na TV, passa The Constant, o melhor episódio da quarta temporada de Lost. O melhor. Então tá. Camisola, Dindi, chuva, bebidinha e cigarro. Podia estar melhor?

É claro que podia. A merda é que podia. Sempre pode.

Canta, Rosa.

E o vento que fala das folhas contando as histórias que são de ninguém, mas que são minhas e de você também... Ah, Dindi... se soubesses o bem que eu te quero, o mundo seria, Dindi... tudo, Dindi, lindo, Dindi... Ah, Dindi... se um dia você for embora, me leva contigo, Dindi... fica, Dindi... olha, Dindi...

E as águas desse rio onde vão eu não sei... a minha vida inteira esperei, esperei, esperei por você, Dindi, que é a coisa mais linda que existe, ah, você não existe, Dindi... fica, Dindi, que eu te adoro, Dindi...

Ah, que merda. O ser humano é mesmo um bichinho bizarro. Bichinho filha-da-puta. Eu tô acompanhando Maysa na TV. Não gosto da atriz, ela dublando é muito ruim, mas muito mesmo. Mas tô gostando de ver a história. Apesar de ser romanceada, porque foi o filho dela que fez e talz. Mas hoje ela falou uma verdade. Que os homens são todos uns frouxos... que quando uma mulher vira na cara e fala que quer, o cara brocha. E é ou não é verdade? É. Se você foge, faz joguinho, finge que não, o cara fica um idiota. Mas basta falar VEM, e ele não vem. Não vai. Ok, isso não tem nada a ver com nada, me diz por que é que eu estou escrevendo isso... Deve ser a Festa de Prata, hahahaha... Só eu.

A Rosa agora canta Insensatez. Tom Jobim é um salafrário, como diria um amigo.

Vai, meu coração, ouve a razão, usa só sinceridade...

Pra quê???? Pra nada.

Tá muito engraçadinho eu aqui. A chuva já parou, agora ficaram só as gotas grossas escorrendo na calha. As gotas gordas.

Oh, insensato coração, por que me fizeste sofrer? Porque de amor, para entender, é preciso amar... Só louco quis o bem que eu quis.

A música já mudou, deu pra ver.

Mas não tem nada, não. Ninguém foge do seu destino. Se é pra ser, vai ser. Se não é, não vai. E pronto. E ponto. E assim é. Ou assim não é. Que a gente só vai saber quando for, ou quando não for. Quer dizer, quando for, porque enquanto não for, a gente vai esperar que ainda seja.

Entendeu? Eu entendi.

Pensei nele hoje no ensaio. Do nada. Tava lá, cantando de boa, as músicas da banda, e de repente TCHA-NAN!! Lembrei. Sorrisinho no canto da boca, calorzinho gostoso no peito, cara de boba, viagem. Cadê eu? Tô longe, com você.

Vou acabar essa joça de bebidinha e entrar. Ou melhor, vou acabar lá dentro. E agradecer as coisas boas e ver alguma coisa boa na TV. Ontem descobri que tem uma caralhada de DVDs que eu gravei e ainda não vi. Eu vou ver sozinha. Antes só do que mal acompanhada, isso é fato. Mas se eu pudesse escolher a companhia, ah... ah, Dindi...

A Rosa voltou com Dindi na minha lista. Eu já entendi. E você, entendeu?

Se soubesses o bem que eu te quero... o mundo seria, Dindi, tudo, Dindi, lindo, Dindi...

A minha vida inteira esperei, esperei, esperei por você, Dindi, que é a coisa mais linda que existe... VOCÊ NÃO EXISTE, DINDI...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Pérolas

Vida de professor não é mole, não. Não é também absolutamente dura, pelo menos pra quem gosta do que faz, como eu. Assim sendo, a gente tira leite de pedra e dá risada pra não chorar...

Decidi compartilhar com vocês algumas pepitas encontradas por mim nesse semestre de garimpo, dando aulas de Língua Portuguesa e Redação para segundos e terceiros anos do Ensino Médio, em uma escola particular. Hoje vou colocar as pepitas ruins, outro dia coloco as boas. Juro. Tem muita coisa boa, sim. Ok, não muita, alguma coisa. Mas tem. Só que hoje o dia é de outra coisa...

Vou relacionar aqui abaixo as pérolas inimagináveis que encontrei nas redações dos meus alunos. Eu sei, eu sei que cada erro desses tem uma explicação dentro da língua, que nenhum deles está escrevendo assim porque é burro ou algo do gênero, eu sei. Eu estudei tudo isso. Mas, convenhamos, não dá pra evitar o riso (ou o desespero às vezes). Portanto, prendam a respiração e mergulhem. E contem depois se vocês acreditam ou não. Eu juro que não inventei nem piorei nada. Eles escreveram exatamente desse jeitinho.

OBSERVAÇÃO – Uma das propostas de redação do semestre foi recontar a história da Geni (isso, aquela do Chico, do Zepelim); essa informação é importante para entender algumas frases.

Ah, claro que não tem nomes nos bois. Alguns comentários em negrito são meus. Por mais preconceituosos e politicamente incorretos que sejam, não me contive. Que me perdoem os mais certinhos, pudicos e afins.

Vamos lá:



“Isso vem dez de criança”.
Imagine se fosse onze de criança...

“Isso é problema do subcociente do homem.”

“Já o gato corre livre porai.”

“A sociedade já está acustumada, quinem a família que vivia (...)”

“ (...) que podem ocorrer por percas familhares, percas financeiras.”

“Esses problemas almentão cada vez mais.”

“Com a chegada da era tecnoligica e o fascio ascesso a comunicação muitas crianças e adultos comecam a ser manipulados. Por exemplo, os programas de televisão que deveria ser colocado em horarios especificos para não ocorrer estas manipulações.”

“Enduzidas por meios de comunicação, por exemplo, os programas de televisão que ser extipulados em horarios especificos.”

“ (...) e fará que acordemos numa bela manhãm sem aver ameaça (...)”

“programa infantiu”

“disesperados”

“dentro dela contia cerca de um milhão (...)”

“Todos ficaram abismados ao discobrirem (...)”

“Isso fez com que ela parace de ajudar as pessoas.”

“A noite inteira ele fazera muita sujeira.”

“E a sociedade de tão abtuada com essa rotina (...)”
Eu é que estou ficando habituada com a minha rotina de ler essas pérolas...

“Quando resolver ter o seu próprio dinheiro e se sentir útil no dia-a-dia, muitos casamentos se desfizerá.”

“Será que vamos podê levantar (...)”

“Vendo todos implorando com piedade e sinceridade resolvel ir em um zepelim prateado que um dia resolvel tudo explodir.”

“desispero” “descepcionada”

Emplorar

“Geni acabou sedendo.”

“Começa novamente o martilho de Geni.”
Pra vocês terem uma idéia do meu martírio...

“A cidade poi-se a ficar apavorada.”

“Ela havia cometido suicidiu.”

Havistavam

“O comandante começou a se inrritar.”

“Muitas vezes achamos que nossa vida é um video game, onde jogamos horas e quando injoua desliga, vai durmir.”
Na boa, eu já enjoei...

“Ela nunca manteu uma boa impressão.”

“Ele achava aquela cidade há mais horrorosa de todas, estava prestes a explodila.”

“Ela avia sido mal criada.”

“Era alvo de piada na propria cidade onde avio crescer.”

“As pessoas continuaram a pedrejar Geni.”
Verbo novo, derivado de pedra. Afinal, vocês já ouviram falar em apedra??

“Uma proposta recuzavel.”

“Geni depois dece dia jurou (...)”

“Sua mãe não a perdool.”
Nem eu!

“Se eu foce ela (...)”
Se eu fosse você, meu amor, me enforcaria em um pé de couve...

Dispreso

“Quando viu o caus existente lá exitou em responder.”

“Fez com que Geni dominace seu asco e aceitace o pedido do forasteiro.”

“Sua intensão era distruir tudo.”

“No céu apareceu algo aterrorisante, ouviam-se gritos de apavoro.”
Adoro essa...

“Quem sou eu, eu sou um morador da cidade, o qual Geni mi fazia de prisioneiro, Geni era odiada por todos e será sempre odiada por mim.”

“Corpo escutural”

“A balça encostava no porto e fazia a travecia para a capital.”

Se exbaudou

Durmir e descançar

Sem vergoisse

“Ele espussou todos da cidade.”

”de certas cituações”

Escurassada

Sucegada

Sorrizo


E agora vem o meu top-3...
Em terceiro lugar...

“Vivemos em uma sociedade medilcre.”

Cristo!
O segundo lugar vai para...


“A cidade gritava em couro.”

Hahahahahahahaha, amo essa, imagina a cidade inteira vestida de couro, berrando...
E o primeiríssimo lugar vai para...


“Vivo em alto extrez.”

Oh, Deus, imagine eu...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Óculos

Eu sei que estou há um puta tempo sem atualizar isso daqui. Eu sei. Desde o ano passado (hahaha, piadinha infame). Eu queria ter escrito sobre tantas coisas, mas tenho sido acometida de uma espécie de preguiça-mór (ah, vá! Eu?). É, preguiça. Acho que tenho que recobrar o jeito. Retomar o jeito. Wathever (só quero ser feliz).

Meu sobrinho nasceu e é a coisa mais fofa desse mundo. Ele mora comigo e eu adoro. Pego todo dia nos meus braços essa coisa redondinha e cheirosa, e fico com o cheiro dele em mim. Ele nasceu com a cara do Jean, mas agora tá ficando mais gordinho e de vez em quando tem cara de Mari. Ele chora, ri, mama, caga, dorme e encanta todo mundo cada vez que move um músculo. Ou mesmo dormindo, parado. Meu pai agora é o vôvo (isso mesmo, vôvo, com o acento no começo. Ele que inventou), minha mãe é a vovó babona (quem diria, minha mãe com recém-nascido no colo), minha irmã é a mãe leoparda e eu sou a tia maluca. Some things never change. Ele é um anjinho, mas vai ser da pá virada. Delícia. Ele fez um mês e eu não estava aqui. Tava na praia.

Ah, a praia. Foi maravilhoso ver o mar, pisar na areia, tomar o sol na pele, tomar banho de piscina, bater papo com amigos, dar risada até doer a bochecha, fazer caça ao tesouro, balançar na rede, tentar ler meu Saramago novo, fumar que nem uma biscate, ter insights sobre mim e sobre o mundo, e sobre o modo como eu vejo o mundo e, principalmente, sobre o modo que eu acho que o mundo me vê, o que pode ser totalmente errado, mas é o que eu vejo. Entendeu? Papo pra outro post.

Amanhã vou fazer a cirurgia de correção da miopia. Quer dizer, há uma chance de ser amanhã. Então já vou escrevendo. Eu quis isso por tanto tempo, me livrar dos meus óculos. Ver o mundo sem essas lentes, ser vista pelo mundo sem as lentes, principalmente isso. Não tô nem ansiosa nem preocupada, nem com medo. Vamos ver na hora. Na hora h. Vamos ‘ver’ na hora, hoje estou mesmo infame.

Eu tive um pensamento besta de querer ver uma pessoa antes da cirurgia. Pra, se tudo desse errado, se eu ficasse cega de repente, ter guardada na mente uma imagem bonita. Uma imagem linda. Mas isso é uma besteira sem tamanho, nem sei por que estou escrevendo isso aqui. Sei lá, aqui é o lugar das besteiras, daquelas que eu não comento com as pessoas por vergonha, ou pra não cansá-las. Foi uma coisa melodramática. Claro que não vou ficar cega, der. Claro que essa imagem seria bonita, mas por um momento. Que a beleza é tão subjetiva. Eu que sei. Pronto, vou olhar pro meu sobrinho. E seja o que Deus ou a Deusa quiserem.

Não sei até que ponto isso vai realmente mudar a minha vida. Eu espero que mude. Pra melhor, obviamente. Uso óculos desde os 13 anos. 14, quase 15 anos vendo o mundo por detrás dessa armação, sendo vista com ela, e imaginando que imagem tem de mim (ai, que difícil não usar o acento... maldita reforma...) as pessoas que me veem (ai, essa doeu, mas eu acostumo). E imaginando que, se eu não usasse óculos, as coisas seriam diferentes. Talvez sim, talvez não. Vamos descobrir. Acho que muda principalmente pra mim. Principalmente dentro de mim. E afinal, pôrra, quem é a pessoa mais importante da minha vida? Sou ou não sou eu, caralho?

Claro que sou.

Acho que uma certa Ju morre amanhã. A Ju desde os 13 anos. Aquela que eu acostumei a ver no espelho, e que todos acostumaram a ver. Engraçado, pensando bem, poucas pessoas me viram sem óculos já. Sem óculos e sem lentes. Sem ver nada, e sem me importar. Que eu levanto de óculos, praticamente. Não vou na balada sem óculos (aliás, não vou na balada ponto, mas vocês me entenderam, espero). Não faço nada sem óculos. Canto de óculos. Dou aula de óculos. Dirijo de óculos (pelo bem da população campineira). Os momentos em que fico sem óculos de boa são na cama. Antes de dormir, lendo. Ao acordar, espreguiçando. Ou em outros momentos, na companhia de alguém. Sabe aqueles momentos bons, aconchegantes, de ficar abraçado batendo papo? Ah, vá, dá pra contar nos dedos essas pessoas. Lembro de um namorado que era (é) mais míope do que eu, e a gente ficava deitado e daí começava o Jô, e estávamos os dois sem óculos, e queríamos saber quem era o entrevistado, mas nenhum dos dois queria pôr óculos... comédia, ficávamos os dois espremendo os olhos, tentando ver quem era. Tempo bom. Coisas bobas, pequenas, de casal. Eu queria saber por que diabos é que desses olhos, agora, aqui atrás das lentes que uso pela última noite, tem água brotando. Eu sou mesmo uma boba.

Talvez eu esteja com medo. Não sei. Mas tudo bem. Eu sou forte como uma rocha da Patagônia, como dizia uma personagem que interpretei uma vez (sem óculos nem lentes). Mentira. Minha rocha é fina, quebra e tem um imenso vazio dentro. Vazio, não. Tem uma coisa mole, pastosa, enorme e amorfa, sem nome, ou com vários nomes. Quente e fria. Colorida e sem cor. Isso é o que eu sou. Acho que o medo nem é da cirurgia. É de que nada mude, com ou sem óculos. E eu tenho tanta esperança de que mude...

Talvez eu fique um tempinho sem vir aqui de novo. Mas agora eu tenho uma desculpa, vá! E da próxima vez, se tudo der certo, não vai ter lente entre meus olhos e a tela. Nem água. Espero.