segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Eu fico impressionada com a força do pensamento. Juro! De verdade. Chega a me dar um calor aqui no peito, depois um gelo de medo. Jura que o meu cérebro tem esse poder todo? Jura que aquelas coisas que eu imaginei antes de dormir e que eu não posso contar pra ninguém acontecem numa escala muito menor, mas muito parecido com o que eu pensei? Eu fico assustada com as nossas conversas, assustada quando você quer me abraçar, e eu fujo do abraço só pra entrar na brincadeira, mas no fundo é porque eu não posso, e também porque eu morro de medo, porque quando você vem pra me abraçar eu penso "peraí, porra, isso é quase como eu imaginei" e me dá um gelo do caralho na nuca. Eu fico em pânico quando você fala uma frase que eu te imaginei dizendo, escorre uma gota imaginária de suor frio e eu penso "caralho, que bizarro!". Eu escuto o seu convite e tremo nas canelas porque, porra, eu imaginei quase assim. É assustador. É uma delícia, mas é assustador.

domingo, 20 de outubro de 2013

Fantasma

Sabe quando você é visitado por um fantasma? Um fantasma do passado. Mas pensa bem do passado mesmo, e não só porque já faz muitos anos, mas porque o fantasma era você, mas você no começo. Quando tudo era lindo, lembra?

Começou sem querer. E na verdade, vamos deixar claro desde já que isso não significa nada. Isso não muda nada, porque eu consegui, hoje eu consigo pensar em você e nem raiva mais eu sinto. Juro mesmo. Ficou mais o hábito de falar mal de você do que qualquer sentimento de verdade, mesmo os ruins. Então, não, esse não é um post de saudade, nem de vontade, é somente um post do dia em que o fantasma de você no início me visitou. E isso não muda o fato de você ter sido e ser um cuzão, não muda nada, mas eu precisava contar aqui.

Começou porque eu passei sem querer em frente da casa onde a gente morou. É bizarro passar ali, acho que eu não passava há um bom tempo. E foram muitas coisas ruins naquela casa, e a primeira coisa que eu lembrei foi da nossa briga, a última, naquela rua, em frente àquela casa. Mas depois eu lembrei outras coisas. Lembrei da noite na Courier, lembrei de muitas noites incríveis naquele quarto pequeno, lembrei de tantos filmes naquela TV gigante, lembrei da piscina, da banheira, da cama, o que eu mais lembrei foi a cama, porque era onde a gente mais ficava, mesmo. E era tão legal, vamos ser sinceros. Era legal pra caralho, no começo. O que não muda em nada o fim.

Daí que eu fui pra um lugar em que o som era você. Era a sua cara. Era você. Você ia ter curtido muito, e eu até sei a cara que você ia fazer, sei como ia balançar a cabeça, sei como ia dançar e eu ia morrer de rir, e você ia rir junto e ia ser assim. Daí eu lembrei de tantas baladas dessas que a gente viu junto, de tantos shows e de tantos lugares, lembrei de uma noite no Informal (há milênios) que a gente teve que sair correndo pra casa porque não conseguia ficar perto um do outro sem se comer. Lembrei de um show que a gente fez e que depois foi uma coisa tão incrível, essa é uma noite que eu me lembro muito bem. Lembro das caras que você fazia em determinados solos, lembro das nossas piadas nos solos de piano, lembro das gargalhadas por causa dessas caras. Lembro que a gente nunca precisou beber muito pra se divertir, porque você me fazia morrer de rir, e o nosso lance era o som, não a bebida, a gente não precisava ser outras pessoas, nós mesmos éramos o que a gente queria ser e o que queria que o outro fosse. Tá, tem aquele outro lance, mas isso também fazia parte, principalmente de você. Era muito legal curtir um som do seu lado. O que não muda em nada o fim.

É que foi muito estranho estar num lugar que era tão a sua cara, e estar sem você. E não é que eu quisesse que você estivesse lá, por favor, entenda, você sempre foi muito inteligente. É que eu acho que não estou acostumada a estar num lugar tão você, num som tão você, mas sem você. Não que seja ruim. Eu me diverti. Mas é uma forma diferente de diversão, e é muito louco comparar. Eu não queria o meu namorado do começo de volta, não. Eu não quis você lá. Mas era como se você fosse entrar a qualquer momento, segurar minha mão, fazer uma piada com o agudo do teclado e a gente ia cair na gargalhada. E não foi triste isso não acontecer, foi só diferente. Ninguém vibrava comigo no solo de trombone, ninguém ria do chicken groove, e daí eu vi como estamos velhos, como passou tanto tempo daquele tempo, aquele tempo em que você era legal e eu era legal, e a gente era legal junto, e hoje somos pessoas tão diferentes, e tudo bem isso, mas sei lá.

Eu não tenho medo de fantasma. Não desse, pelo menos, porque é tão irreal que nem assusta. Na real, o seu fantasma me traz o meu próprio fantasma, aquela Juliana que eu fui há tantos anos atrás, e que te encantou e eu nem acreditava que aqueles olhos de um azul tão estranho olhavam mesmo pra mim. Porque quando você se interessou por mim eu vi o quanto eu era mesmo interessante. E depois, por milhões de motivos, eu deixei de ser. Mas isso é natural, porque você também virou o monstro. E isso não muda em nada o fim. Hoje eu vejo uma outra Juliana, muito interessante também, mas de outro jeito. E estar naquele lugar, tão perto daquela casa, com aquele som tão você nos meus ouvidos e na minha pele me fez sentir um pouco estranha. Estranha porque não doeu. Estranha porque foi racional - pensamento. Não sentimento. A gente vai ficando velha e sente tudo de outra forma. Não deu saudade, eu simplesmente lembrei. Como a gente lembra de um colega de classe que era legal, mas não tem vontade de encontrar. Como a gente lembra de um doce que comeu e foi bom, mas sem vontade de comer de novo. Saca?

É possível lembrar de você e não sentir nada. Juro! E isso nem é motivo pra felicidade ou orgulho, é só uma constatação. É possível lembrar do que você foi no começo, do que a gente era no começo, sem ter que lembrar do meio e do fim e sofrer com isso. É possível olhar esse fantasminha e fazer oi com a mão. E seguir, abrir outra cerveja e olhar pro futuro que me espera.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Herpes?

Um dia um cara deixou uma ferida na minha boca. Devia ser herpes. Ficou uma feridinha maldita, que começou coçando, incomodando. E daí virou uma metáfora. Coçava, me deixava feia. Incomodava, eu não conseguia esquecer. O malditinho me marcou. Ficou aqui na minha boca, e daí eu não podia deixar de pensar por muito tempo. Eu esquecia, e ria, daí esticava o lábio e doía, daí eu lembrava, e doía. Eu esquecia, daí olhava no espelho e via, e lembrava, e me irritava. Eu esquecia, daí alguém perguntava, daí eu lembrava, e me machucava. A pele saía no banho quente, mas voltava, formou casca, formou ferida. Mas eis a metáfora: a gente sabe que nenhuma ferida dura para sempre, seja externa ou interna. E, a cada dia, a marca ficava menor, fora e dentro. Eu já ria sem doer, já passava batom sem doer, beijei e nem doeu (palmas ao moço de coragem que me beijou primeiro e perguntou depois). Eu olhava no espelho e pensava "tá sumindo, vai sumir". 

Sumiu, quase que por completo. Daqui a pouquíssimo tempo não vai ter nem marca nem lembrança. E, pela metáfora, vamos combinar: muito stress e muito drama por uma herpezinha de nada, vai... 

:)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Disfarce queimado

Desejo de consumo é uma coisa muito complicada. Desejo é uma coisa muito complicada. Vontade é uma coisa muito complicada. O problema é que a minha vontade nunca é uma vontadezinha. É sempre uma vontade voraz, de vida ou morte, do agora, do foda-se o resto. Mas só por dentro. Por fora faço aquela cara de paisagem. Mas que não engana os caboclos velhos. Os caboclos me sacam. Olham pra mim e dizem com os olhos "Eu te saco, menina".

Os caboclos percebem a intenção do meu toque, que é diferente quando eu desejo. Eles me olham e eu tenho vergonha, porque parece que eles sacam minha alma, entendem os meus desejos. E no fundo não me condenam, porque entendem que, porra, eu até merecia. Na real eu merecia era isso mesmo, de verdade. Não essas coisas poucas com as quais eu brinco de apaixonadinha. Os caboclos velhos sentem a vibração quando estou perto de alguma coisa que eu queria de verdade, pra minha vida. Eles veem meus pelos se arrepiando, veem o brilho dos meus olhos por trás das lentes escuras, percebem os cabelos se levantando na nuca, os pés que não param de se mover. Eles sacam e não me reprimem, porque sabem que no fundo, no fundo, era só isso que eu queria da vida. Era tudo isso, era o que eu acho que eu mereço, de verdade, no fundo. Eu é que me sinto envergonhada de desejar essas coisas que eu não posso ter, e eu acho uma puta de uma sacanagem do universo colocar essas coisas indisponíveis na minha frente, tipo "olhe pela vitrine", tipo "olhe e se encante, mas não está aqui pra você ter". Talvez seja tipo um modelo. Talvez seja tipo "é isso, garota, o que você merece, o que você procura, pare de se enganar, pare de enganar o mundo; não exatamente esse, mas um assim".

Esses dias, depois de umas várias latas, eu confessei a um amigo muito querido o que eu queria de verdade, no fundo, no fundo. Ele fez um semi sorriso, porque ele não entende. Ou entende. Eu entendo. Eu queria isso. Pra lá das brincadeiras que eu faço, dos jogos que eu jogo, das mentiras que eu invento pra mim, eu queria isso. Eu queria assim. E parece tão distante. Tão longe das coisas pequenas que eu arrumo pra mim.

Os caboclos velhos sabem. Eles sentem. E eles sabem que combina, que é isso mesmo, que é isso aí, que é esse o meu destino, mesmo que eu brinque de ter 18 anos, eles sabem que eu não tenho, e que eu não quero ter, no fundo. E sabem que eu mereço mais do que aquilo que eu finjo que desejo quando brinco de ter 18 anos. Eles sabem o que eu desejo de verdade. E que eu me balanço, perco as raízes, perco o chão, eletrizo, morro, derreto por dentro quando vejo, quando ouço, quando toco, quando estou perto do modelo daquilo tudo que eu quero pra mim.  Quem sabe um dia. Até lá, desejo continua sendo uma coisa muito, muito complicada. Mas eu sou atriz.

http://www.youtube.com/watch?v=GroaRY9GvBk

Se...

Se você nunca me viu de óculos de grau
Se você nunca andou de carro comigo e me viu dirigindo e cantando feito louca
Se você nunca entrou na minha casa sem que eu tivesse arrumado tudo pra você
Se eu nunca cozinhei nada pra você
Se você nunca assistiu comigo um filme que eu adoro, que me deixa maluca, e nunca passou mais de uma hora depois do filme comentando comigo pequenos detalhes e discutindo o filme que nem loucos
Se você nunca se sentou comigo pra tomar mais do que dez cervejas
Se você nunca me viu bêbada
Se você nunca dançou comigo
Se você nunca leu um texto que eu tenha escrito só pra você, mesmo que eu negue
Se eu nunca confessei ter escrito um texto pra você
Se a gente nunca nadou junto
Se a gente nunca fez um som juntos, sentindo a mesma vibe
Se você nunca ouviu um som que eu coloquei só pra você ouvir, e ficou prestando atenção até o fim na melodia, na letra, na tradução, nos detalhes
Se você nunca morreu de rir com o meu pai e suas palhaçadas
Se você nunca me viu chorando ou nunca tentou me consolar
Se você nunca riu de mim chorando e me fez rir de mim mesma e chorar ao mesmo tempo
Se você nunca me ensinou nada
Se você nunca me viu fumar mais do que dez cigarros em sequência
Se você nunca me fez gargalhar
Se você nunca me deixou com ciúmes
Se você nunca me viu completamente nua
Se você nunca me viu desembaraçando o meu cabelo
Se você nunca dormiu comigo esquentando o pé em você
Se você nunca viu minhas fotos do flamenco
Se eu nunca bailei flamenco pra você
Se você nunca me viu cantar em público
Se eu nunca cantei nada só pra você
Se eu nunca conversei com você sobre um livro do Saramago, com os olhos brilhando
Se a gente nunca comeu uma pizza juntos
Se você nunca me zoou por causa de uma música brega que eu adoro
Se eu nunca te dei um bolo e me arrependi depois
Se eu nunca fiquei com o olhar perdido em você por mais de dez segundos
Se eu nunca tive coragem de te dizer exatamente o que eu penso sobre você
Se você nunca leu comigo, do meu lado, os textos do meu blog
Se você nunca viu um sorriso besta de canto de boca de pura satisfação no meu rosto, ou se não souber reconhecer esse sorriso
Se você nunca me viu arrotando
Se você nunca me salvou de um pássaro
Se você nunca me viu comendo uma espiga de milho
Se você nunca me viu dando piti por causa de um bebê loirinho, gordinho e branquinho
Se eu nunca te confessei uma vergonha
Se eu nunca te fiz massagem no rosto
Se você nunca teve que me puxar de um lugar de onde eu não queria ir embora
Se você nunca jogou mímica no meu time (e ganhou)
Se você nunca me viu puta no trânsito
Se a gente nunca conseguiu ficar mais de 5 minutos em silêncio um ao lado do outro
Se você nunca percebeu a minha doçura por trás da minha casca grossa...

... Então tem muita coisa errada. Se você não fez pelo menos a metade dessas coisas comigo, você definitivamente não me conhece. E eu não te conheço. E pode ser que eu esteja perdendo uma pessoa muito legal. Mas você, ah, você está definitivamente perdendo uma pessoa incrível. :)

E, se você não fez pelo menos a metade dessa lista comigo, eu não posso me dar ao luxo de sofrer por você. Nem uma vezinha sequer. Então parou tudo. Agora. Chega.


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

É tão legal quando uma coisa que a gente queria há muito tempo acontece, não é? Assim, um negócio passa pela cabeça da gente um dia, e daí um tempo depois acontece. A gente devia se sentir foda. A gente devia agradecer. E eu até agradeço, mas... Mas é que foi. Foi, só isso, sem emoção, sem arrepio, sem sorriso besta de orelha a orelha depois. Sem musiquinha, sem suspiros poéticos e saudades, pra ser bem Gonçalves de Magalhães. Tudo muito racional, tudo muito flat, tudo sem respiração acelerada e sem bate coração. A vida assim não tem graça, não. Pelo menos pra mim. E pensar que tem gente que vive assim o tempo todo. Como é que consegue? Essa vida não é pra mim, não.
Pra mim tem que ter emoção. Olho no olho, dúvida, entrega, sentimentos fortes como a vontade maior que o mundo, um abraço maior que eu, uma piadinha que me faça rir pela semana inteira, um olhar que me derreta e que more na minha lembrança por um mês, um cheiro que não saia do nariz por dias, ativando a memória e me fazendo fechar os olhos no meio da manhã e sorrir que nem besta só de lembrar, que me faça ficar com o olhar perdido no meio da tarde, que me faça sorrir antes de dormir só de pensar.
Pra mim tem que ser assim. E, quando não é, é bem sem graça. É legal e talz, mas podia ser bem melhor. E quando a gente lembra do que podia ser melhor, a gente quer o melhor, a gente pensa no melhor (e depois quer morrer ou se matar porque o melhor é tão pouco perto do que a gente merece, mas quem é que escolhe essas coisas? Quem manda aqui nessa merda? Sou eu. E se eu sou uma besta e decido que quero tomar Pepsi quando poderia estar tomando Coca, o estômago é meu!).
Você me liga e eu não atendo. E não entendo, mas eu nem quero entender. Deixa assim. 
  

domingo, 6 de outubro de 2013

Eu troquei o nome de uma pessoa. Eu chamei a pessoa pelo seu nome. Assim, não saiu, saíram só as duas primeiras letras. Mas na minha cabeça saiu tudo. E foram, tipo, umas cinco vezes. Eu fiquei morrendo por dentro. Eu tomei banho de madrugada ouvindo aquela música que me lembra você e fiquei imaginando você. Fiquei imaginando o que você tem que me deixa desse jeito. Você não tem nada, sabe? Não tem nada que eu procuro, não de verdade. Quer dizer, tem uma ou duas coisas, mas são coisas muito bobas, nada do que eu quero de verdade. Então por quê? 
Eu sei o porquê. E sei que essa palhaçada não vai durar muito tempo, porque é uma palhaçada, e eu sei disso. Eu sei de tudo. Eu acho que eu sei, e é melhor eu achar que sei do que ficar imaginando que tem uma pá de coisas que eu não sei, porque eu não posso acreditar no que eu não sei, melhor confiar naquilo que eu sei, que a vida me ensinou, que eu aprendi há tantos anos, chorando sozinha e respirando pra ficar bem depois. Drama queen, drama queen. E depois passa. Mas é que a minha fé me dá uns sinais muito fodas. A minha fé é um negócio impressionante, e alguém lá em cima gosta muito de mim, eu sei. Gosta tanto que me mandou você, pra eu aprender um monte de coisas. E me manda uns sinais muito loucos, e eu fico tão emocionada de sentir essa atenção que vem lá de cima que eu choro. É, eu sou uma besta. Mas você não sabe. Ainda bem. Ou não. Acontece, fazer o quê? Simplesmente acontece.