sábado, 19 de julho de 2014
Tanto bate até que.
Então às vezes me dá uma vontade de estragar tudo. Carência, eu bem sei. Vontade de voar no pescoço e de usar todas aquelas armas que eu sei que tenho mas que guardo. Porque eu acredito que seria tão mais bonito vencer sem usá-las. Tão mais interessante acontecer assim num dia perfeito, sem aviso, água mole furando a pedra dura depois de tanto tempo. Tanta gente por aí usando furadeira, e eu aqui na água mole, insistente, mas mole, que só vence com o tempo. É que aquele furinho de furadeira é tão feio perto da beleza do desgaste da rocha, que só acontece com a insistência, com a paciência, quando a gente não aguenta mais e daí percebe que tem um pedacinho de pedra se soltando, daí a gente faz cara de paisagem e solta o último suspiro de água, aquele que a gente sabe que vai fazer tudo desmoronar, e vai ser lindo, a pedra dura caindo nos braços da água mole, que a recebe com cara de que nem sabia que ia acontecer, mas no fundo dos olhos você pode perceber que, desde a primeira onda, ela tinha a intenção de fazer tudo desmoronar, ruir, romper, rocha caindo na água e levantando respingos. Vida de água é muito difícil. As furadeiras e britadeiras se dependuram no primeiro momento, fazem um barulho ensurdecedor, conseguem o que querem na hora em que querem. Mas o que conseguem? Um furinho. Eu nunca quero só um furinho. Quero a rocha toda caindo, desmoronando, sem defesa, sem perceber, sem anúncio, acidente geográfico, catástrofe não anunciada, desastre ambiental. Mas é que leva tanto tempo. Pra rocha se soltar, é preciso paciência. Espera. Um passo pra frente e dois pra trás. Noites secas e intermináveis, rindo de si mesma, do ridículo que é ser água, da sede absurda que não se pode matar com um copinho, com um furinho. Talvez furadeiras sejam mais felizes, com seus vários furinhos constantes em diferentes rochas. Eu não sou assim. Eu sou água, mirando a pedra dura, mandando ondas e mais ondas e mais ondas. E esperando. Dizem que tanto bate até que fura. Esperemos. Guardo de volta a broca no estojo, rindo de mim mesma por ter pensado em usá-la, e solto mais uma onda. Esperando.
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