sexta-feira, 30 de maio de 2008

Tapa na cara virtual

Adoro discussões por escrito. Cheias de argumentações. Gosto de ver o esforço das pessoas pra colocar seus pensamentos no papel (ou na tela). Sempre curti uma "briguinha" saudável por e-mails ou afins. Às vezes, provoquei algumas. Muito mais fáceis do q discusões ao vivo, te dão tempo pra pensar e colocar seus argumentos da melhor forma possível. E servem pra cada um pensar mais, às vezes passando pro outro lado, por concordar com os argumentos alheios, às vezes intensificando e aprimorando seu próprio ponto de vista.

Essa semana descobri tardiamente um quebra-pau virtual q rolou entre o Sírio Possenti, q foi meu professor na Unicamp, e o Luiz Antonio Sacconi, um desses professores defensores da língua padrão. Parece q o barraco (q nem foi tão barraco assim) rolou no mês passado. Amei.

Bom, o Sírio é um lingüista q vai contra esses policiais da língua, e defende e divulga idéias baseadas na variação lingüística e contra o preconceiro lingüístico, tentando ver nos "erros" comuns do português razões lógicas e da própria língua, e não tachando os falantes de burros. Defende também a atenção para a língua não-padrão, e faz uma análise mais tranqüila sobre as formas consagradas pelo uso, contra a radicalidade dos gramáticos. Já o Sacconi é um tipo de Pasquale (se bem q mais radical, pq o próprio Pasquale já andou tentando virar a casaca... sem muito sucesso).

Estudei na Unicamp e tive contato com as teorias dos lingüistas por cerca de 5 anos, então minha opinião está meio influenciada por e imbuída desses conceitos todos. Até tenho discussões com meus amigos próximos sobre algumas questões da língua, e é difícil convencer o pessoal. Algumas vezes consigo. Sinto-me meio entre a cruz e a espada, pq meu trabalho de revisora exige de mim a correção dos escritos, para o português padrão. Mas até q tenho conseguido lidar bem com isso, atentando para o tipo de texto com que trabalho. Tento não ser uma chata da gramática (às vezes sou). Enfim...


Aqui está o link do prof. Sírio, o primeiro artigo q ele escreveu destruindo o Sacconi. Adorei, hehehe.
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2486180-EI8425,00-Mas+e+uma+gramatica.html


Aqui tem mais um artigo dele, muito bom também...
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2658525-EI8425,00-Nao+erre+mais+Sacconi.html


O Sacconi tem um blog, ridículo... extremamente preconceituoso e presunçoso. Ele comenta erros de português, tentando ser engraçadinho e sendo cada vez mais escroto... Leiam o post denominado "Vanessa e sua resposta", de 25/05, sobre o Sírio:
http://www.sacconi.com.br/blog/

E aqui, a resposta do Sírio, hihihi...
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2735266-EI8425,00-Um+blog.html


Bom, na verdade, agora pensando bem, nem se trata de uma discussão, pra ser exata. O Sacconi não tem argumento nenhum... dá a impressão de um velho chato q rebate as críticas dizendo q seus livros vendem (até aí, Paulo Coelho é fenômeno de vendas, e Bruna Surfistinha tb...).
Sinto-me orgulhosa de ter sido aluna do Sírio e de poder ter aprendido um pouco com ele. Concordo em gênero, número e grau com suas afirmações, não por ser vaca-de-presépio ou maria-vai-com-as-outras, mas por questões ideológicas, mesmo. Além disso, não se trata de ficar "do lado do Sírio", mas sim de toda uma corrente de estudiosos, lingüistas sérios e teorias interessantes. Sacconi tá por fora. Não dá pra ficar do lado de um cara desses. No blog dele, os posts são banais... corrige alguns erros, mas de uma maneira muito presunçosa e preconceituosa (tô repetindo, eu sei, mas é isso mesmo).

Eu tb tenho uma ica de "erros" de português, q vão contra o português padrão. Mas peraí, tudo depende... depende da situação, do veículo de comunicação, do tipo de texto... aquela velha história q os lingüistas usam pra ensinar a gente: a língua é como um guarda-roupa, cheia de opções. Vc não vai na praia de terno, e nem vai numa festa de biquíni (tem quem vai, eu sei, mas isso é assunto pra outro post). O ideal é usar a roupa adequada a cada situação, da mesma maneira como a gente fala e escreve diferente em diversas ocasiões. Não falo com meus amigos da mesma maneira q falo numa entrevista de emprego, não falo com minha mãe da mesma forma q falo com a dona da editora, não escrevo um e-mail pros autores da editora do jeito q escrevo no meu blog ou como faço uma lista de compras... O problema é q nem todos têm um guarda-roupa completo... se você só tem biquíni, tem q improvisar pra ir à festa. Daí acontecem os paus... por isso, as pessoas sem acesso à educação e à cultura se dão mal em vestibulares e entrevistas de emprego, pq não têm a variante da língua correspondente ao "terno". E fornecer essa vestimenta formal é o verdadeiro papel da escola. Pelo menos, deveria ser, mas não só isso: tb seria legal q a escola analisasse toda a gama de roupas existentes no armário...

Bom, era isso. I have a bus to catch.

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