Ela sempre soube que, quando o amor chegasse, haveria explosões de fogos de artifício, borboletas no estômago, repicar de sinos (a revoada de pombos ela dispensava). Então ela se preparou e se pôs a esperar. Ela estaria pronta para quando ele chegasse. E se enfeitou, e cantou e dançou, e leu, e preparou frases de efeito e caras e bocas para que ele não lhe escapasse, quando passasse por ali.
Muitos passaram, e ela sempre se perguntava "será esse?". Mas não era. Ela, porém, fechava os olhos para não ver que nada era como ela tinha esperado. E se enganava: "é ele". Não era. Nunca era. Mas ela até produzia os fogos e as borboletas, e acreditava neles. Esforçava-se para não ver que nada era real, e quando a situação ficava inegável, punha-se à procura novamente. "Há de vir". Ela elencava as qualidades que o amor teria, como seria fisicamente, como falaria, que talentos possuiria, o que iriam fazer juntos. Sabia que ele não passaria despercebido: no momento em que pusesse os olhos nele, saberia que seria para sempre.
Um dia, um estranho chegou. Não tinha nada do que ela esperara. Nenhum sino tocou, nenhuma borboleta apareceu, nem mesmo os fogos. Era de dia. Um dia quente. E ela não estava preparada. Sem batom, cabelo preso, tênis sujo. Não tinha frases bonitas para impressionar. Foi ela mesma, até demais: falou palavrão, xingou o mundo, estva cansada, queria desistir no meio do caminho, mostrando suas fraquezas. Mas não desistiu. Momentos depois, olhando para o nada, ouviu a voz dele. Ele falava coisas estranhas, disse q daria um centavo pelos seus pensamentos. E ela, que não tinha pensamento nenhum nesse momento, viu como sua vida era vazia. Ela viu a água correndo e lavando a lama, muita lama. Confusa, sentiu-se inquieta. Mais tarde, ele a olhou nos olhos e fez uma pergunta maluca. E ficou esperando a resposta, porque queria realmente ouvi-la. E ela brigou com a sua melhor amiga, sem entender nada, quem era essa pessoa que não tinha nada a ver com ela, que já tinha cruzado seu caminho algumas vezes e nunca causara vendavais, sinfonias, explosões? Por que não lhe saía da cabeça, aquela pergunta maluca repetindo e repetindo e repetindo, aqueles olhos como que cravados na sua memória, por que ela se importava tanto?
Tempos depois, ela ainda se importa. Ela se importa mais do que nunca. Mas já não quer borboletas, fogos ou sinos. Não quer apressar o relógio. Não quer escolher nem adivinhar como as coisas serão. Quer que elas sejam. E se demorarem, que demorem. Se tudo o que ela pensou estava errado, que esse estranho venha enfim mostrar o certo. A seu tempo. A seu modo. De verdade, enfim.
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