sexta-feira, 23 de maio de 2008

Velório

Ontem eu fui a um velório. Morreu o pai de uma colega de trabalho. Muito triste. De verdade.

Mas daí, eu, q sou uma pessoa estranha, começo a ver tudo de fora. Eu sempre tenho essa mania, às vezes é como se eu saísse do meu corpo e estivesse espiando a situação de fora, através de uma vidraça ou janela ou coisa assim. Me coloco longe de tudo e analiso, e penso.

Pensei várias coisas, algumas não vou colocar aqui. Mas uma determinada hora, minha colega nos contou q o pai dela, um senhor, fizera parte, em vida, de um grupo de Folia de Reis, e q os
integrantes iam prestar uma homenagem a ele. Fiquei olhando os velhinhos (os integrantes eram todos homens, e tinha uns bem velhinhos). Eu havia reparado qdo esse senhor bem mais velho
entrara na capela, de braços dados com uma senhora. Ele só tinha um olho, o outro estava todo branco. Usava uma bengala. Roupas simples, de velhinho. Ele e a mulher se posicionaram ao lado do corpo, tocaram no morto, fizeram o sinal-da-cruz e começaram a contemplar o amigo que se fora. Ficaram ali uns bons minutos.

Eu fiquei pensando como será essa situação... de vc ir ao velório de um amigo, sabendo q vc mesmo já não tem mais muito tempo de vida... como será essa relação com a morte, para pessoas mais velhas? Pra nós, jovens (mas nem tanto), é uma coisa estranha, brutal, a morte vem interromper tantos sonhos, tantos projetos, tantas coisas q iniciamos ou q queremos iniciar. É triste, é ruim. Nós não pensamos na morte sempre. Só qdo ela aparece em nosso caminho. Mas será q, depois dos 80, essa relação continua a mesma?

Fiquei olhando o casal de velhinhos e tentando imaginar como eles foram um dia, se fizeram alguma loucura, se fumaram maconha, se a senhorinha (tô imitando a Ju, hihihi) tinha dado pra vários caras, se o senhor ficou bêbado de cair. Desculpem, isso não é falta de respeito. Veja bem q eu sou mesmo meio maluca, no meio do velório pensando essas coisas. Mas eu não posso controlar meus pensamentos. O q eu estava tentando era quebrar com essa imagem dos idosos: eles foram jovens, foram bonitos de outra forma, tiveram uma vida cheia de acontecimentos. Não nasceram velhinhos. Então, quem foram essas pessoas? A gente olha hoje pra eles e tem essa imagem cristalizada dos velhinhos. Mas quem foram eles? Do q gostavam? O q fizeram? O q não fizeram e se arrependem? Amaram? Quantas pessoas? Quantas vezes tiveram q abaixar a cabeça e engolir sapos?

A louca do velório. Espero q vcs me entendam. É aquela coisa maluca de olhar uma pessoa na rua e ficar pensando o q será q ela faz, quem ela é, q música canta qdo toma banho. É quase a
mesma coisa.

No fim, o velhinho reuniu os homens pra cantar e rezar pelo amigo. E foi uma das coisas mais bonitas q eu já vi. Aquele grupo de homens cantando a 3 e às vezes 4 vozes, os baixos, foi muito bonito, de arrepiar. Não eram pessoas q haviam estudado música. Não era a técnica musical q impressionava. Era a música da alma. Era a música de amigos, era uma despedida, era do coração. Achei lindo mesmo.

Daí minha mente começou a divagar de novo, e eu fui olhar outras coisas. Na saída, o salto do meu scarpin entrou num paralelepípedo e eu fiquei descalça sem querer por uns instantes. Acho q não existe pessoa mais insana do que eu, seja em casa, no trabalho ou em velórios.

Nenhum comentário: