terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"O Último Tango em Paris", de Bernardo Bertolucci

Como eu disse, estou corrigindo as falhas no meu caráter com relação aos clássicos do cinema. Ontem foi a vez de “O Último Tango em Paris”, de Bernardo Bertolucci.

Tudo o que eu sabia sobre o filme era que tinha uma cena famosa da “manteiguinha”, que o Marlon Brando estuprava a nega usando um tablete de manteiga. Na verdade não é bem assim como me disseram... Ele usa a manteiga como um lubrificante pra comer a menina por trás. Quando eu ouvi a frase “ele come a menina usando um tablete de manteiga”, eu imaginava que ele enfiava o tablete. Hahahahaha, imagina que cena. Talvez fosse interessante... Ou não. Enfim, não é sobre isso que eu quero falar.

Quero dizer que, como todo filme de arte ou cult ou como quer que você queira chamar, causa um estranhamento. Porque a história é contada de um jeito diferente, porque a história nem sempre é o mais importante, mas a maneira de contá-la. Você percebe a arte do cara em cada cena: cada quadro é literalmente um quadro, uma obra de arte, poderia ser uma foto, de tão lindo, de tão interessante. Enquadramentos geniais, luz, jogo de espelhos, é tudo muito bonito. Você tem a impressão de que pode pausar o filme em qualquer parte e vai ter um quadro lindo.

Não acho o Marlon Brando linderésimo como a galera diz. Tudo bem que nesse filme ele já não é tão novinho, mas não sei: ele me lembra meu avô. Uma coisa estranha. Assim como em “Os Sonhadores”, filme do Bertolucci que eu vi no cinema em 2003, a mocinha é uma francesa branquela, peituda, peluda e de rosto lindo. Interessante o lance de um não saber quem o outro é, e a importância disso pro personagem de Brando. Não existe a necessidade de nomes. Isso eu também sabia antes de assistir, porque tinha lido na caixinha. Tinha lido também que se tratava de um dos filmes mais eróticos de todos os tempos. Bom, pra ser sincera, até quase o final do filme, ele não me pegou. Claro que eu gostei, claro que eu reconheço o valor do filme, claro, claro, claro, mas tem obras que me pegam de jeito, por dentro, por baixo, me derrubam no chão, de cara, de queixo. E, como eu disse, até quase o final eu ainda não havia sido pega.

Confesso que fiquei esperando o filme todo pelo tango. Tudo o que eu ouvia era aquele saxofone mucho doido, dando aquele climão. Mas afinal, no final, o tango veio. E aí veio a minha queda, aquela pela qual eu estava esperando. O filme me pegou em cheio, me desnorteou e me jogou no chão. A sequência dele correndo atrás dela pelas ruas de Paris realmente foi pra mim um soco no estômago. Na boca do estômago. Uma demonstração física do tal “correr atrás”. Uma cena que descreve externamente a sensação que experimentamos na vida: ele corre, ela foge; ele corre gritando, rindo, enlouquecido, “eu te amo”; ela foge desesperada, não quer de jeito nenhum; ele a persegue, corre, atravessa ruas, entram em prédios; ela pede socorro, alucinada, bate nas portas e grita por ajuda, ele continua, ele insiste, ele investe, ele corre literalmente atrás dela. Achei tão bonito que, quando vi, estava chorando. Sei lá, são as identificações das pessoas. Tem quem nem corre tanto assim, grita só um “volta!”, e desiste se a pessoa nem se vira pra olhar. Mas tem gente doida no mundo. Que faz internamente o que o Marlon Brando faz nessa cena. Eu já fui muito doida. Já fiz esse papel do Brando diversas vezes, com a mesma intensidade. Aprendi a não fazer mais. Mas vê-lo ali na tela foi como me ver retratada, ver meu passado interno refletido externamente na tela do cinema.

Pode ser viagem, mas foi aí que o filme me pegou. Ufa. Eu já tava com medo de não ter o que dizer dele. Agora eu tenho.

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