Sabe quando a gente tá pra se formar no terceiro ano do Ensino Médio? Quando a gente tem entre 16 e 18 anos? Você se lembra dessa época? Eu me lembro, vou confessar. Lembro das minhas amizades, dos problemas da minha vida na época, das alegrias, das descobertas, dos papos. Dos filmes que eu via, dos sons que eu escutava. Dos pensamentos que eu tinha, sobre o que fazer da vida, sobre a universidade, sobre o trabalho, sobre a vida e sobre o amor.
Claro que a gente meio que se esquece dessas coisas. Mas esses dias eu tava aqui lembrando. Pensando nessa época tão de friozinho na barriga e que passa tão rápido. Pensando nas despedidas, nas fases, na real tava pensando nas mudanças de fase. Porque é mais ou menos isso. Como num video game. Você passa de fase, e essa fase intermediária é tão assustadora e tão boa...
No fim do ano eu fui pra uma confraternização de uma galerinha do 3º ano. E foi aí que eu me toquei dessa história. Todo ano vai acontecer isso. Todo ano tem um grupo de alunos, um grupo de adolescentes, quase-homens e quase-mulheres indo embora, indo pra vida, mudando de vida (ou não). Todo ano eles vão embora. E eu fico. Eu e os outros professores. O bom é que todo ano a gente participa dessa festa, dessa despedida, tem um pouco desse gosto de coisa nova, porque só de participar dessa ida a gente se sente um pouco como se estivesse indo. Mas não vai. A gente fica. Fica porque essa é nossa fase agora. Me sinto um pouco velha, quando penso nisso. Eles vão atrás da vida deles, a minha já está aqui. Mas, quer saber? Foi a vida que eu escolhi. E é a vida que eu adoro. Adoro porque me sinto velha, mesmo não sendo, e isso é bom. E adoro também porque estar com essas pessoas nessa fase da vida me dá um ânimo do cacete. Paradoxalmente, faz com que eu me sinta mais nova.
Sábado fui a um aniversário de um ex-aluno. Que se formou agora, em dezembro. Uma galerinha lá, não muita gente. A namoradinha (linda), dois amigos que eu não conhecia, uma amiga que eu também não conhecia e três colegas da sala. Depois que os outros professores foram embora (namorar) e o resto da galera também, sobramos eu, os 4 ex-alunos e os 2 amigos.
- Ju, vamos jogar sinuca?
- Gente, eu não sei jogar sinuca, eu não gosto de sinuca, eu não vou.
- Ah, por favor! Aprende com a gente! Ou pelo menos fica lá tomando uma cerva com a gente.
Quer saber? Eu fui. Fui e me diverti horrores. Fui e dei muita risada. Fui e me senti tão em casa com essa galera querida que não precisa fazer esforço pra me agradar, e eu também não preciso fazer esforço pra que eles gostem de mim. Fui e até joguei uma partida, cagando de rir, porque eu sou mesmo ruim (mas posso vir a ficar boa, segundo um deles, existe um potencial - ha-ha-ha). E tomamos cerveja e comemos batata frita e lembramos de coisas que aconteciam na sala de aula e morremos de rir. E eu ouvi do colega de um deles que eu não tenho cara de professora, jamais. Eu tenho cara de quê, então? Ele me disse que eu tenho cara de moleca. Taí. Que graça tem ser professora, viver com essa galera e não aproveitar isso? Só reclamar do excesso de hormônios? Pôrra, tem que entender! Tem que estar junto pra saber, pra lembrar como é o mundo quando a gente tem 18 anos. Pra tentar chegar mais perto, pra poder fazer alguma diferença. E pra se divertir, também. Eu tenho 180 anos de vez em quando. Mas tenho 18 às vezes, e eu adoro ser assim e poder me divertir com tudo isso e usar o que as duas fases têm de bom.
Daí um dos meus ex-alunos ficava falando que eu tô ficando velha e preciso pensar em casar. E eu pergunto: pra quê? Acha que se eu estivesse casada eu estaria aqui hoje? Jogando sinuca, bebendo cerveja e dando risada com meus ex-alunos? Me divertindo desse tanto? E ele me disse que um dia eu vou cansar. Olhei ao redor e pensei: pode ser, mas vai demorar... Por enquanto, tá uma delícia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário