Engraçado como as coisas aparecem na vida juntas, de uma vez só. Tô eu aqui fazendo a série Fallen Princesses, baseada nas fotos da Dina Goldstein (www.dinagoldstein.com), e daí uma coisa puxa a outra. Assisti essa semana a um filme que tava copiado há tempos no note, mas ainda não tinha visto. A Bela Adormecida. Da Disney. E daí me lembrei de um livro que tenho em casa e comecei a ler, mas não acabei, que é Fadas no Divã, que estuda os contos de fadas através da Psicanálise. E daí lembrei também da Regina Navarro Lins e seus estudos sobre o ideal do amor romântico, um pouco do que comentei aqui quando falei da série Crepúsculo.
Pois é.
Nós mulheres crescemos com essas histórias, com a espera pelo príncipe encantado sendo uma coisa natural, incutida. Mesmo que aprendamos depois com todos os tombos da vida e desistamos de encontrar o príncipe, tem aquele ladinho nosso que ainda espera por ele. Algumas mais, outras menos. Eu falo muito, encho a boca pra falar mal, xingo e tudo o mais, mas claro que secretamente eu queria o Charming num cavalo branco, balançando os cabelos loiros. Acorda, Alice. Eu sei, eu sei.
Mas não somos só nós, mulheres, que esperamos pelo príncipe. Alguns homens também desejam encontrar suas princesas, para torná-las suas rainhas. Alguns querem a rainha do lar. Outros, a rainha mãe. Outros, uma mistura das duas; outros, algo bem diferente das duas.
Vamos combinar que hoje em dia tá difícil. Antes, esperava-se o mesmo de todas as princesas. Que tivessem as mesmas prendas, as mesmas qualidades. E quase todas elas eram mesmo iguais. E o papel do príncipe era o mesmo, sabido. Suas tarefas eram muito claras: chegue arrasando no cavalo branco, tire a espada da bainha, enfrente os monstros, salve a princesa, beije-a com o primeiro beijo de amor verdadeiro, case-se com ela e sejam felizes para sempre. Simples assim.
E hoje? Nada tão simples assim...
Primeiro, falando francamente, tá cada vez mais difícil arrumar um cavalo branco. Só tem pangaré por aí. Imagina o IPVA de um alazão. E daí, pra impressionar a princesa, príncipe vira proletário e trabalha feito um condenado, pra poder ter a pôrra do cavalo branco. Se já nasce em berço de ouro, corre o risco de ser taxado de playba. Porque a grande maioria das princesas hoje em dia ainda dá um puta valor pros cavalos do motor, digo, pro cavalo do príncipe. Mas tem também aquelas que fazem a linha freak-lóqui-louge, rasteirinha no pé e vamos caminhar, meu bem, pra ser sustentável. Vai saber como agradar a princesa...
Depois, falando em cavalo e pra falar da espada, vem a grande questão do tamanho da espada, que hoje ninguém se impressiona mais com o bordado da bainha, não. Mulherada tá querendo é ver a lâmina, pegar na lâmina. E o pobre príncipe compara suas espadas com as dos colegas, se sente inferior, começa a se questionar. Também tem aquele papo de que tem que saber usar a espada, mesmo que seja pequena, um gládio, mas o príncipe também já sacou que esse papo é mentira. Nada como uma Excalibur, ele já sabe. Daí tem as revistas que falam sobre como usar a espada, as mais avançadas técnicas de esgrima e de ataque. O pobre príncipe não sabe mais a quem ouvir. Socorro, mãe.
Monstros a enfrentar? Era fácil antes, com o dragão solta-fogo, as bruxas, os ogros. Hoje em dia príncipe tem que discutir relação. Comprar o presente certo. Saber a hora de sugerir usar aliança, nem cedo nem tarde demais. Visitar os sogros, falar a língua das amigas pra não fazer a princesa passar vergonha na mesa do bar. Não parecer tarado demais nem de menos. Não dar pinta de gay. Cuidar da roupa e da aparência (antes príncipe chegava fedido pra beijar a princesa e ninguém nem pensava nisso). Saber de política, de música, de cinema, de futebol, de informática, de mecânica e ainda comprar flores. Mas as certas. Ligar no dia seguinte, responder e-mail, não ser dependente da mãe, ter cuecas bonitas e combinar o cinto com a roupa. Passar no teste de fogo das amigas. Saudades dos monstros de outrora.
Na hora de salvar a princesa, então, tem muita princesa achando que não precisa ser salva. Princesa que pega o príncipe no colo e sai doida pelo mundo. Princesa que pega na mão e arrasta. Princesa que já vai engolindo a espada. Princesa que já ta esperando nua de perna aberta. Princesa que curte princesa. Princesa que curte mesmo é sapo. Princesa que quer fazer terapia com o príncipe. Princesa que fica puta porque queria mesmo era morrer esperando, sem ser salva nunca, na condição de vítima eterna. Princesa que até já morreu e não sabe.
É, gente, ta fácil não.
Às vezes o pobre príncipe acerta: cavalo bombando, espada afiada, na medida, curso de esgrima, dom natural; roupa e capa na estica, perfume importado, passa por todos os monstros, o beijo é bom e de amor verdadeiro. Mas a princesa... essa não acorda nunca.
Foto: Dina Goldstein.
4 comentários:
Li há muuuuito tempo atrás um livro chamado "Adeus, Bela Adormecida", que trata justamente das metáforas dessas histórias de pprincesas e afins e suas consequências no comportamento feminino (só tem em sebo agora: http://www.sebodomessias.com.br/sebo/(S(emtcnwydcdjae4bu4drpyp45))/detalheproduto.aspx?idItem=8242). Acho que você iria gostar.
Creio que o grande problema hoje em dia é que tanto princesas como príncipes não se preocupam com o que é importante. Ou melhor, dão importância ao que não é tão importante assim. Bunda dura, bíceps forte, roupinha da moda, potência do cavalo. Temperam a salada de "predicados" uma ideologia de boteco (porque tem que ter conteúdo, né; ou melhor, fazer cara de quem tem) e voilá: estão prontos e impecáveis.
Lembrei do Peréio: "O importante não é ter pau grande, e saber fazer cara de quem tem pau grande".
Estou gosdtando muito de suas escritas. Tá afiadíssima e tá pensando, né, Nega? Muito bem. Pensa que faz bem!
Oi Ju, nao sabei que vc tambem tinha um blog! que legal! Adorei o seu comentario la no meu.
Sobre as princesas de hoje em dia, essas que querem ser independentes, melhores que os principes e outras princesas, eu e a dri temos um ditado: princesinha independente é titia, ou melhor fica pra titia pois ninguem aguenta! hahaha.
Bjo querida.
Olá!Adorei o seu blog, especialmente seus textos inspirados nas fotos "surreais" das princesas em situações "reais".Parabéns pelo trabalho!
Se puder, escreva sobre Chapeuzinho Vermelho!
Abraços
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