quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Branca de Neve, futuro

Confesso que tive uma infância muito difícil. Todos sabem. Mamãe morreu logo; anjo de candura, doce. Papai sempre me amou muito, mas era muito ausente, e deixou que sua nova mulher fizesse sua cabeça. Suas cabeças. Ambas.

Minha madrasta era linda. Vivia se embonecando, perfumada, com roupas caríssimas, mas nem precisava, ela era realmente uma bela mulher. Mas, como toda bela mulher, insegura. Até demais.

Não gosto de me lembrar dos negros tempos, quando tive de sair de casa. Também não gosto de me lembrar do Caçador. Ah, o Caçador. Tudo teria sido tão diferente se ele tivesse tido culhões e me assumido naquele momento, cagando pro mundo. Mas não. Mais um homem fraco na minha vida: depois de papai, o Caçador cuzão. E então veio a floresta, a escuridão e o abandono.

Todos sabem também dos anões e dos anos maravilhosos que passamos. Como tenho saudades desses pequeninos. Todos esses anos... fico curiosa em saber o que cada um fez de sua vida, por onde andarão, essas coisas. Nossa vida era o máximo: diversão todo dia! Cantávamos muito, era uma jam por dia, invadíamos a madrugada tocando, cantando, dançando. Muita fumaça verde na floresta... Compúnhamos, dançávamos, jogávamos, ficávamos bêbados noites e noites sem fim jogando conversa fora.

Mas aí...

Mas aí vem a maldita moral da história, de todas as histórias, que diz que a princesa bonita não pode ficar sozinha. Não pode passar o dia bebendo e cantando com anões. Que precisa de um príncipe. De um castelo. De uma coroa. De responsabilidades, de proteção marital, de filhos e de ser feliz para sempre. Puta merda...

Mordi a pôrra da maçã. Caí dura (não, não foi uma overdose, como aquelas biscates da Fauna, Flora e Primavera insistiram em espalhar). E, quando eu menos esperava, me vi com os lábios colados aos do príncipe. Merda.

Cavalo branco, noivado, aliança, rei, rainha, cumprimentos, vestido de noiva, casamento, bem-casados, chuva de arroz. Lua-de-mel mequetrefe. Príncipe de pau pequeno. Sem expertise no babado. Ronca. Peida. Tem caspa e chulé.

Anões, anões queridos, venham me buscar!!!

Foto: Dina Goldstein

Um comentário:

Anônimo disse...

hahahahahaahahahhahahahhahaa................aiaiaiaiaiaiiaiia.....nao me agueeeeeeeento !!!!! Cacador cuzao...como tenho saudades dos pequeninos...sem espertise no babado...principe de pau pequeno. SO VC JULIANA, pra alegrar o dia que relembro um ano de morte do papa, e penso e fico sensivel. Engracado que leio as suas palavras e te imagino claramente falando-as hahahaha...vc escreve do mesmo jeito que desenho, passa por um processo criativo parecido. Sinto-me um burro por nao criar um dia de 36 horas pra que possa sempre ler qualquer coisa escrita por vc.