Meu nome é trabalho. De manhã, bem de manhã mesmo, sou professora. Sou professora de Português. Gramática. Literatura. Produção de texto. Variedades linguísticas e diferentes usos da língua. Trabalho com Ensino Médio, em um colégio particular que oferece cursos técnicos. Falo muito. Ouço também. Grito às vezes. Dou muita risada, fico triste, fico frustrada, fico maravilhada e orgulhosa, fico surpresa, fico rouca, cansada, doida. Ando. Sento. Danço. Atuo. Escrevo na lousa. Preencho papéis. Ensino. Aprendo.
Meu sobrenome é trabalho. De tarde, sou revisora. Reviso textos de vários tipos. Anúncios variados, outdoors, bulas, classificados de imóveis, jornais empresariais, textos da Web. Canetas, mil canetas coloridas. Carimbos. Estudo. Aprendo. Pesquiso. Melhoro frases, melhoro textos. Caço, encontro e corrijo erros. Sentada, leio.
Meu apelido é arte. Canto. Com a minha banda, com meu parceiro no violão. Bailo flamenco, amo! Bailo, palmeio, canto junto, suo, faço caras, me descabelo. Rodo a saia e soco o pé no chão. Atuo. Musical com amigos queridos. Aprendo coreografias e as executo, canto, faço coro, atuo. Faço os outros darem risada, faço os outro dançarem, distraio as noites do povo, distraio a mim mesma do meu outro eu.
Puta que o pariu, como eu sou feliz! Pelo menos no que diz respeito a meu nome, sobrenome e apelido. Não mudaria nenhum dos três. Não deixaria de fazer nada do que faço. Não me sinto infeliz na profissão, não deixaria de fazer o que faço como trabalho pra viver de arte. Se isso acontecesse, sentiria uma falta tremenda da minha profissão, dos meus alunos, dos meus textos. É a minha formação, é o que eu amo fazer. Não tenho crises de ser uma artista incompleta, porque não me sinto assim. Posso ter várias crises com a minha autoestima, mas sei reconhecer algumas qualidades. E, sem falsa modéstia, eu sou muito boa no que faço. Em tudo o que faço. Porque amo tudo o que faço. E posso fazer tudo isso. Gosto de mim dando aula; gosto de mim revisando; gosto de mim cantando, bailando, dançando, atuando. Claro que sempre dá pra melhorar. Mas acho mesmo que acertei nas minhas escolhas. De manhã, posso andar, falar, gesticular, surtar. À tarde, posso sentar, pensar, calar. À noite, posso pirar.
Juliana de Oliveira Palermo.
Professora Revisora Bailaora Cantora Atriz
Trabalho Trabalho Arte
E Satisfação, Felicidade e Amor.
2 comentários:
Coisa boa de se ler, menina!
Nossa! Que delícia de texto. Me tirou o fôlego. Ainda chego lá, minha amiga. Que beleza! Como é bom te ver realizada e feliz.
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