terça-feira, 24 de junho de 2008

Sozinha

Tenho tido a impressão constante de que estou sozinha. Sozinha mesmo. Aquela coisa: na verdade, somos todos sozinhos, e não somos, ao mesmo tempo. Óbvio q eu tenho minha família e meus amigos, mas tenho me sentido mais só do que nunca. Eu vou explicar.

Antes de mais nada, deixa eu dizer que esse estar só é muito mais amplo do que estar solteira. Claro que também engloba isso, mas é um sentimento muito maior e que envolve muitas outras coisas.

Eu vou começar por aqui mesmo, então, já que é isso que vocês esperam de mim. Sim, estou solteira. Não, não tenho marido, noivo, namorado, caso, rolo. Mais do que isso, não tenho ninguém de quem eu goste, ou ninguém que eu ame. E acho que é aí que o bicho pega realmente. Pela primeira vez em muito tempo, não existe ninguém no mundo que eu faça questão de que estivesse ao meu lado agora. Porque você estar solteira, tudo bem, mas se você gosta de alguém, você nunca está sozinha... pelo menos eu penso assim. Ok, você está sozinha, mas não vazia. É exatamente assim que eu me sinto, com relação a esse aspecto: vazia. Oca.

Ouço uma música bonita e não tenho ninguém em quem pensar. Vejo um filme muito foda e não tem ninguém pra quem eu queira ligar e dizer "você tem que ver esse filme comigo". Deito pra dormir à noite, com esse puta frio que vem fazendo, e não tem ninguém que eu gostaria que pudesse me abraçar. Vou fazer meus shows e não consigo imaginar nenhum rosto que eu faça questão de ver na platéia. (Amigos, por favor, não me entendam mal - é diferente, espero que vocês compreendam, estou falando de alguém mais do que amigo, ok?)

Eu não me lembro da última vez em que me senti assim. Eu sempre tinha alguém comigo, mesmo que estivesse sozinha. Mesmo que não estivesse namorando, tinha algum rolo. Mesmo que não tivesse rolo, tinha alguém de quem eu gostava e que eu queria trazer pra perto de mim, e meus dias e minhas noites eram tomados por pensamentos sobre essas pessoas, que foram várias, mas uma de cada vez, que eu também não sou assim tão louca. Então era fácil. Eu sempre tinha alguém pra pensar, fosse pra agradecer aos céus por ter alguém maravilhoso comigo, ou fosse pra maldizer e pedir pra que tal pessoa viesse logo.

Mas agora, não. Não existe ninguém. Não existe nem sombra nem cheiro de ninguém. E isso é muito estranho. Talvez eu esteja crescendo. Talvez eu esteja ensandecendo.

Além desse sentimento que é mais vazio do que solidão, existe o outro sentimento, muito maior, de que eu nunca estive tão sozinha, em todos os sentidos. Parece que existem fases assim, em que as pessoas simplesmente não estão na mesma vibe que você. Eu ando sentindo muito isso.

Pra começar, tive recentemente umas decepções no campo da amizade. Nada muito grave, nada de muito novo, mas abala a gente de qualquer jeito. E acho que fiquei meio chata. Meio que preferindo ficar sozinha do que fazer social. Do que ter que sair com uma gente que eu não admiro mais. Do que estar com um povo que não me traz nada além de conversas superficiais. Ou pior, de estar dividindo minha vida com gente que pode me enfiar a faca nas costas quando eu virar pra acender o cigarro.

Além disso, tem também aqueles amigos que a gente vê de vez em quando. Colegas, na verdade. Pessoas queridas, mas que também não rola. Sei lá, como eu disse, ando mesmo muito chata.

Daí me sobram poucas opções. Meus amigos de fato. E daí a vida é estranha: alguns estão longe, ou não tão longe assim, mas out of reach em determinados momentos. Porque eles têm a vida deles, as preocupações e as diversões deles. Não porque ninguém é filhodaputa. Mas porque, no fundo, no fundo, cada homem é uma ilha, e precisa cuidar dos seus coquinhos, da sua água e da sua areia. De boa, mesmo. Não estou sendo irônica. Juro, juro.

Acontece isso, às vezes. As pessoas estão em vibes diferentes. Querem fazer coisas diferentes, ir a lugares diferentes e conversar conversas diferentes. E maravilha, porque é nessas horas que você descobre seus verdadeiros amigos: são aqueles que conseguem passar por essas crises de diferença e depois volta tudo ao normal.

Eu não tô reclamando de ninguém, juro. Na verdade, o negócio é que eu ando estranhinha. Sei lá, não tenho vontade de fazer as coisas, não é nem que eu não tenha vontade, eu nem sei se tenho vontade. Eu tenho vontade de coisas que eu não sei o que são, eu não quero fazer nada do que se oferece pra mim, mas também não quero ficar sem fazer nada, eu quero fazer algo, só que uma outra coisa, nada disso que está aí. Quero ir em algum lugar, mas em nenhum desses onde eu vou, um lugar que eu não sei onde é. Quero ouvir músicas que eu goste, mas não essas que eu ouço, quero ouvir músicas que ainda não foram compostas, ver filmes que ainda não foram filmados, ler livros que ainda borbulham na cabeça dos escritores. Quero colocar uma roupa que eu não tenho e que eu não sei qual é, e fazer uma coisa que eu não sei exatamente o que é.

Assim fica difícil. Eu sei.

Mas é meio assim que eu ando me sentindo. Nada. Vazia. Nem amor, nem ódio. Simplesmente um morno, meio-termo idiota, em cima do muro total. E isso não sou eu. Eu vou, eu posso ir, mas eu também posso ficar aqui, eu fico até. Eu posso comer, mas também posso não comer, posso tomar banho agora ou depois, na verdade não importa. Realmente, onde é que está a Juliana de sempre?

Ando sentindo que sou uma pessoa só no mundo. Minha família não consegue entender meus anseios nem respeitar minha privacidade. Eu não quero bater papo. Eu só quero ficar quieta. Eu só quero poder tomar meu banho quente de pelo menos 20 minutos, pôr camisola e ir dormir. E que me deixem dormir até a hora que for, já que é fim de semana e eu acordo cedo a merda da semana toda!! Tem tanto problema assim? Eu não quero ter que participar da família Doriana e ver as roupinhas do nenê ou ouvir os planos de moradia do novo casal. Só quero que me deixem em paz e quieta e dormindo e morta. Só.

Eu não quero ir pra bares que eu não gosto, nem pra bares que eu gosto mas não tô a fim. Mesmo que existam pessoas queridas na mesa, tem pessoas que eu também não tolero, e eu realmente não tô a fim de olhar pra essas caras. Não por ódio, nem por amor. Simplesmente porque eu não quero. Não quero porque não quero e não vou. Pelo menos aí, decisão.

Daí eu saio sozinha e vou pra um lugar sozinha em pleno sábado à noite e me sinto a mulher mais sozinha do planeta. Não que isso seja ruim, porque isso não pode durar por muito tempo: ou algo acontece, ou eu vou acabar voltando ao normal. Mas daí fico sozinha analisando as pessoas, os casais, as bêbadas, os babacas, os músicos, e nada me parece bom, que mundo é esse onde eu ando? Onde estão as almas que vêm do mesmo planeta que eu?? Por que eu não consigo achar graça em nada? E o que eu poderia fazer melhor do que isso? Ir pra casa, agüentar encheção de saco? Not at all. Sair com pessoas que eu não quero? Not really. Ligar pros meus amigos queridos de verdade? Mas eles estão em outra onda, eu é que tô chata e não consigo ficar bem em lugar nenhum. Ligar pra qualquer pessoa, só pra ter companhia? Pra quê? Pra quem?

Sei lá. Acho que não é depressão. É só falta de perspectiva. Ia dizer que é o frio, mas também não é. Eu amo frio. Eu me sinto bem no frio. Eu estou ficando estranha há um tempo, já, agora é que piorou.

Eu só queria sentir alegria genuína em fazer as coisas de novo. Mas eu não consigo. Pra nada. Não dá vontade de nada. E não encontro ninguém que esteja como eu, então sinto que ninguém consegue me entender, que eu estou realmente sozinha. Pessoas queridas, desculpem. Vocês, mais do que ninguém, sabem como eu ando, e sabem que não é culpa de vocês. Mas tá foda.

Olho pro mundo, onde quer que eu vá, e vejo estranhos ao redor. Pontos de ônibus, dentro dos carros, nos bares, na padaria, em qualquer lugar. Nem por um momento encontro alguém que cruze seu olhar com o meu e que diga com os olhos "eu sei, eu entendo, eu também sou assim, eu também estou assim". Óbvio. Senão não estaríamos assim. Sozinhos.

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