domingo, 12 de julho de 2009

Falando em ex e em ex-quase-futuro-que-não-deu-em-nada-e-eu-sabia

A vida pode ser engraçada. Achei esse texto no meu computador. Tinha me esquecido dele.

Mentira. Tinha escrito, na véspera do meu aniversário. 6 de maio. Na verdade, foi depois da minha noite, mas tecnicamente pra mim só é o outro dia quando acordo, e eu nasci às 12h40, então ainda não era meu aniversário. Era a véspera.

Resolvi postar hoje por dois motivos. Primeiro porque o começo dele prova que eu não estou enlouquecendo. Pra quem quiser acreditar (e eu não tenho por que mentir), esse texto foi escrito há dois meses. Depois porque hoje foi o churrasco de despedida do meu ex-namorado, que tá indo pros States. Eu ia, mas acabei acordando tarde demais, e deixei pra lá. Mas, como ele tá indo mesmo, sei lá. Achei que devia postar. Não faz sentido nenhum. Mas um texto escrito merece ser postado. Eu acho.

Enjoy it.




Eu até achei um cara perfeito pras minhas vontades e pro meu padrão. Quando eu digo perfeito, é bom lembrar, não significa que ele não tenha defeitos; quer dizer somente que ele tem defeitos com os quais eu posso conviver, que são defeitos não-mortais (não fala "pobrema", não gosta de sertanexo-axé-pagode, e outras coisas do meu preconceito – tenho, mas quem não tem?).

O fato é que ele tem namorada. Óbvio, ele tem namorada.

Não fiquei apaixonadinha nem nada. Só constatei o fato de que esse seria uma boa pedida, um bom lugar para investir. Se – e somente se – ele fosse livre. Não é. Ponto final. Página virada.

E isso me fez pensar nas minhas escolhas, no meu padrão. Nas coisas que acho interessantes num cara. Nas coisas que quero pra mim. E cheguei à conclusão de que meu último namorado (tanto tempo, já) me deixou foi muito mal-acostumada.

O primeiro filme que vimos juntos foi Veludo Azul, do Lynch. E nem tínhamos nos beijado ainda. Venhamos e convenhamos, um cara que te chama pra assistir a Veludo Azul no primeiro encontro tem que ser um cara foda. Acho que esse é um dos exemplos que melhor explica o que eu quero dizer quando falo que ele me acostumou mal. Me diga que graça tem um cara que me chame pro rodeio, agora...

Ele me deixou mal-acostumada porque me apresentou vários filmes foda, e porque deixou que eu apresentasse a ele vários filmes foda (iniciei o cara em Monty Python), e porque descobrimos juntos vários filmes foda. Toda noite, every sacred night, antes de dormir, víamos, doidões, um trecho de um de nossos filmes de cabeceira: ou Monty Python em Busca do Cálice Sagrado, ou Amadeus, ou Borat (principalmente esses três). Mas teve mais. Teve muito mais filmes e teve muito mais coisas.

Ele me deixou mal-acostumada porque conversávamos horas e horas sobre música, sobre boa música. Porque dividíamos uma banda. Porque dividíamos uma vida. Porque víamos muitas bandas por aí e comentávamos sobre elas. Porque conversávamos sobre o meu futuro. Porque quando ele me beijava eu via estrelas, azuis, bem clarinhas e brilhantes. Porque quando o beijo avançava eu sabia que ele sabia fazer do jeito que eu gostava e queria. Porque ríamos das nossas próprias piadas, das nossas piadas internas de casal maluco; porque ele me chamava de nomes que só ele me chamou, que ele inventava pra mim. Porque estudamos uma língua estrangeira juntos. Porque ele foi o cara mais bonito de toda a minha vida até agora (pelo menos na época em que estivemos juntos, agora não é mais o mesmo). Porque ele era inteligente, bem-humorado, mal-humorado de um mau-humor divertido, culto, interessado em aprender, talentoso. Porque ele gostava de música boa, de filme bom, de programa bom, de comida boa, de cama boa, de lugares bons, e de mim.

Ele me deixou, na verdade, muito mal-acostumada porque foi um filhodaputa muitas vezes. Porque quando passou o encanto, a magia, foi um merda. Covarde. Traidor. Voltou arrependido e eu aceitei. Duas vezes. E depois degringolamos. Ele me deixou mal-acostumada porque eu não podia fazer barulho de manhã, acordá-lo; se eu ia dar um beijo de bom dia antes de ir trabalhar, ele ficava puto porque eu o acordava. Ele me deixou mal-acostumada porque implicava com o meu corpo, embutiu na minha cabeça uma coisa terrível com o fato de ser/estar gordinha, controlava o que eu comia, me punha abaixo de merda de cachorro. Ele me deixou mal-acostumada porque fez com que eu duvidasse seriamente de tudo de bom que um dia eu achei que eu era e tinha. Porque colocou uma lupa de aumento sobre meus defeitos. Porque me atazanou a vida com seus problemas “mentais”, xeretou meu passado que não dizia respeito a ele e me infernizou por muito tempo com questões passadas, que não significavam mais nada pra mim, quanto mais pra ele.

Mas eu também errei, e muito. Só que, como o blog é meu, eu só falo o que eu quero. Lá lá lá, lá.

E o que eu quero falar é que foi bom enquanto durou, e que durou o que tinha que durar. Que muitas das coisas boas me fazem mal hoje. Porque ele me acostumou mal; dos dois jeitos. Com as coisas boas, me acostumou mal porque agora eu acho difícil encontrar um cara com tantas qualidades. E, com as coisas más, me acostumou mal porque agora eu morro de medo de encontrar um cara de novo que me faça passar por tudo aquilo, um cara com todos aqueles defeitos tão terríveis.

A comparação é inevitável. E, pro bem e pro mal, a grande merda é essa.


*Frase de uma amiga nova, descrevendo minha relação com as pessoas:

“Em vez de mostrar o que você tem de bom, você joga seu lixo na frente, como uma barreira, e diz: Taí, esse é o meu lixo, você encara? Se encarar, eu te mostro o resto”.

Nunca uma pessoa que me conhece tão pouco demonstrou saber tanto de mim.


*Trabalhei até mais de 9 horas da noite, saí da agência e passei no ensaio. Saí depois pra tomar cerveja com dois amigos da banda, um deles meu ex-namorado. Conversamos sobre relacionamentos, sexo e traições, separar sexo de amor, mulheres “que dão pra todo mundo”, mulheres que “gostam do esporte”, homens e remorso, o ser humano e sua eterna insatisfação, músicos e suas escalas, namoros e renúncias, trabalho e sono, amores numa redoma e a rotina desgastante. Um papo esclarecedor, pra dizer o mínimo. Me senti tão adulta. Uma velha, na mesa de bar, entendendo um pouco mais da cabeça dos homens e colocando muitas caraminholas na sua cabeça de mulher. Mulher de 28 anos. Ao final, o abraço dos dois de parabéns.

Tenho 28 anos, agora. Na verdade, depois das 12h40, o que é só amanhã, depois que eu acordar. To sem net e vou postar isso amanhã, provavelmente. Dia 7. Dia em que inicio meu retorno de Saturno. Mas sobre isso, falo amanhã. Por hoje chega.

3 comentários:

Srta.T disse...

Putz. Caí no teu blog há um tempão atrás, procurando por "Dindi". Ficou aqui favoritado. E hoje caio e dou de cara com esse texto... que poderia ter sido escrito por mim, antes de ter sido escrito por você. Inclusive, com o mesmo personagem.
Enfim, você ficou com mais lembranças boas que eu, sorte sua. Eu fiquei com cicatrizes que ainda doem quando alguém aperta. Cada dia menos, mas ainda doem.
Beijo.

Menininha bossa-nova disse...

Srta. T,

você foi um fantasma por muitos anos na minha vida. Eu sei quem é você. Fuçava o teu orkut e te achava o máximo, por isso fico feliz de estar curada e poder te elogiar hoje. É bom não ter medo nem raiva de você. Seja bem-vinda e volte sempre.

De verdade,

Menininha Bossa Nova.

Srta.T disse...

Cacete... fiquei surpresa com o teu comentário. Eu não imaginava que tivesse me tornado um "fantasma" (é engraçado pensar em mim mesma como fantasma, dado meu reluzente bronzeado) pra você, de verdade. E eu também me senti intimidada por você (embora minha "nêmesis" tenha sido minha "antecessora"). Não por tanto tempo, graças, mas era incômodo, porque você me parece uma pessoa com quem eu teria me dado superbem, se não fossem as circunstâncias. Creio que me sentia assim pelo mesmo motivo que você: insegurança que me "aconteceu", como acho que "aconteceu" contigo. Aliás, me parece que temos várias outras coisas em comum... spooky, huh?

Volto sim, porque seus textos são muito bacanas e dei risada aqui. E te convido pra minha casinha e pro meu e-mail, porque me parece que podemos ter muito o que conversar. Na verdade, você lava a minha alma quando fala do assunto, porque eu não consegui fazer isso até hoje. Fico chateada pelo medo ou raiva que involuntariamente te fiz sentir (eu não sabia de muitas coisas), e... afe, chega. Isso já tá enorme.
Beijo