domingo, 12 de julho de 2009

Balada Gay

- Vamos, Ju!
- Não.
- É VIP, de graça, tipo injeção na testa. Vamos!
- Não.
- Por que não, gata?
- Porque não. Primeiro, eu não gosto de balada. Ponto. Não gosto das músicas, do clima de balada. Segundo, ainda mais balada gay. Já tentei ir e nunca me diverti. Na verdade, meu amigo, eu sou uma velha de alma. Muito velha.

Duas cervejas depois...

- Vâmo, pôrra.

Uma fila gigante, mas a nossa, a fila VIP, era menor. Conheci os dois amigos do meu amigo na fila, dois figuras ótimos. E já encontrei duas bibas amigas na fila. Biba é modo de dizer, pelo menos em um dos casos. O fato é que, se eu estivesse em uma balada normal, a chance de não encontrar ninguém conhecido seria grande. Mas numa balada gay, com o meu círculo de amizades, meu bem, não tem erro.

Entramos e já encontrei mais dois. Um de anos atrás e um queridérrimo, com quem tive um momento catártico dançando Madonna algumas horas depois. Pois é. Porque a minha adaptação em baladas não se dá assim facilmente.

O lugar era grande. Legal, até. Odeio inferninhos e lugares lotados e pequenos (meu lado sociopata). Dava pra andar, dava pra respirar, podia fumar. Maravilha. Me vê uma cerveja.

Começo naquelas de sacudir o corpitcho com contenção, olhando ao redor e sacando o ambiente. Adoro reconhecer padrões de comportamento. Segundo meu amigo, nessa noite ele podia se soltar e dançar como quisesse, uma vez que não é solteiro. Segundo ele, bicha solteira faz a masculina, fica se contendo. Hahahaha. Observei e vi que a observação era, na maioria dos casos, verdadeira.

Apesar de não conhecer a maioria das músicas, me diverti. Não era aquela coisa putz-putz só. Eu não entendo N-A-D-A de música eletrônica, mas essa tava mais pro que antes de chamava de Dance Music, com letras, com uma batida legal.

Vamos subir? Porque a nossa fitinha verde no braço era do camarote VIP. Bora.

Lá de cima, uma visão melhor do lugar. Com minha segunda cervejinha gelada na mão, fiquei a observar as pessoas se divertindo, as pessoas tentando se divertir, as pessoas dançando super, as pessoas caçando, as pessoas bebendo, as pessoas se beijando, as pessoas cantando e movendo os braços pra cima.

Banheiro. Vou aqui em cima mesmo. Grande erro. O banheiro de cima, menor, tinha três mictórios e só uma casinha. E era minúsculo. Três bichas mijando ali, eu na fila atrás de uma e mais duas atrás de mim. Só eu de mulher no banheiro. Me senti super deslocada, tipo, aqui não é o meu lugar. Eles são homens, eu sou mulher. Eles são gays, eu sou hetero. Eles mijam de pé, eu preciso sentar. Totalmente errada. Mas fazer o quê? Todo mundo ali gostava da mesma coisa: pinto. Então eu não estava tão por fora.

Vagou um mictório e eu olhei pro cara atrás de mim na fila, tipo, pode ir. Ele disse que era tímido e preferia a casinha. Hahaha. Eu disse “se eu pudesse, já tava mijando de pé ali, mas veja bem, não tem jeito... vou tentar ser rápida, tá?”. “Imagina, querida, fique à vontade”.

Entro na casinha. E quem disse que eu conseguia mijar? Era pressão demais pra mim, gente. Toda errada no banheiro, com um monte de bibas querendo usar a casinha e eu ali, mulher, demorando no xixi, com a consciência de que tinha um monte de gente apertada lá fora, e ainda o cara foi legal comigo, “Imagina, querida”. Não saía a merda do xixi. Pensei comigo mesma “Que que tem, imagina que você ta dividindo o banheiro com amigos. Relaxa, finge que é o Du e o Dan”. Pronto. Deu certo. Xixi. Obrigada, amores.

Voltei pro meu mirante, minha cerveja já não tão gelada. De repente, as luzes se apagam, a batida fica mais forte. Pronto, fudeu. As bis gritavam, e eu morria de rir, imagina que legal, pra quem estava se divertindo, a luz apagar assim e a batida crescer. No palco, uma trava e dois go-go. Aí foi que eu morri de rir mesmo. Principalmente porque os caras eram gostosos daquele tipo padrão de gostoso de go-go boy. E ficavam rebolando super (segundo o amigo do meu amigo, eles eram fracos no rebolado, mas, gente, pra mim estava ok, rebolavam até demais). E o pior era a trava, segundo meu amigo, “só no carão”. Hahahahaha, era verdade. Ela nem dublava. Só mexia o cabelo, fazia pose e carão. E desfilava de lá pra cá. “Ela jura que é a Giselle”, meu amigo. Eu racho.

Descemos pra ver mais de perto. Tinha um ventilador na frente da trava, embaixo, e ela ficava mexendo no cabelo e fazendo carão. E eu morrendo de rir, porque era mesmo muito engraçado. E os go-go se contorcendo como minhocas musculosas em uma sunguinha prateada que às vezes eles desciam pra gente ver o rego. Muito, muito bom.

De repente uma comotion com uma música que eu não conhecia. Meu amigo fervendo horrores. “É a música da Beyonce”. Ah. Brigada. “É a música da novela”. Ah. Brigada, eu nunca saberia. “Eu A-M-O essa música!”. Hum. Depois, no refrão, reconheci. Era uma musiquinha romântica, claro que no beat de balada. As pessoas fervendo e sentindo super. Até eu comecei a pensar em coisas que não queria pensar. No refrão melosinho, as luzes se apagaram de novo e a batida meio que sumiu, ficou só a voz dela e a harmona, e eu me deixei levar. Por um momento desejei que ele estivesse ali comigo. Só pra eu poder segurar na mão dele e não me sentir sozinha. Só pra poder dividir esse momento. Pra saber que tinha uma mão ali pra eu segurar. As luzes voltaram, o beat também. Não tinha mão nenhuma. Eu estava sozinha. Mas não era a primeira vez, e com certeza não seria a última. Bola pra frente.

Subimos de novo. Um amigo meu engolindo outro no sofá. Não literalmente, claro. Mas nem dava pra ver quem era quem. O colega do meu amigo que veio com a gente falou “Olha aqueles dois ali” e eu “O de baixo é meu amigo”. Hihihi. Era mesmo.

To lá dançando e vem um cara “Você não é a vocalista da Soul na Goela??”. Pronto, fui reconhecida. Sou eu. Era uma galerinha que está nos nossos shows sempre, inclusive uma japonesinha louca que sempre surta na primeira fileira. Legal. Legal mesmo.

Mais um pouco de dança e duas ices depois, acho que quero ir embora. Não por bode, nada disso. Tentei fazer xixi de novo, mas a fila era imensa, a da casinha, com todas as bichas tímidas e as mulheres (poucas, na real). Olhei pros lados uma hora e vi um cara, nem deu tempo de pensar, meu amigo solta “Odeio bicha velha na balada, me dá um medo do futuro...”. Eu tinha justamente olhado a bicha velha. Morri de rir com os comentários do meu amigo sobre o corpo do go-go, que tinha descido e estava dançando numa gaiola pertinho da gente. “Olha, Ju. Olha.” Meu, eu não ligo pra isso. Eu tenho medo dele. Ele é muito grande, ele tem uma cara feia que dói. “Ju, camarão, gata, esquece a cara, olha a barriga trincada”. E quem disse que eu ligo pra isso? Gosto de carinha, de olhar pra carinha. Hahahahaha. Até eu ri, mas é verdade. Ele foi perguntar se o cara era hetero (pra quê???), e o cara disse “Com certeza!”. Hahahahaha. Conta outra. Com aquele corpo, rebolando daquele jeito, com certeza??? O melhor foi a resposta do meu amigo pra ele: “Assim que eu gosto”. Huahuahuahua, eu me mijo de rir.

Fui embora surda, mas feliz. Nunca me diverti tanto numa balada gay, é verdade. Os gays são cruéis, cruéis demais com essa coisa do corpo perfeito, mas é tudo balela no fundo, porque tem um monte de bicha que pega umas bichas feias que dói. E o que importa no fundo não é isso. Acho que me senti livre porque, se fosse em uma balada “normal” (se é que podemos chamar alguma balada de normal), teria um monte de patricinhas todas iguais com os cabelos iguais e as roupas iguais e os saltos iguais e os gestos iguais me avaliando quando eu passasse ou quando eu me movesse, e eu ia olhar os caras e querer vomitar, e até achar um ou outro bonitinho, mas me decepcionar depois de vê-lo dançando e cantando a modinha ou atrás de uma patricinha da modinha. Ali, eu era praticamente invisível (fora meus amigos – 7 bis conhecidas no total! – e a galera que me reconheceu da banda). Podia dançar como quisesse, podia fazer o que quisesse. Não sei porque nunca tinha me sentido assim em outras baladas. Sei lá, talvez eu esteja diferente dos outros tempos.

Foi divertido. Foi mesmo. Juro juro. Obrigada, querido.

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