sexta-feira, 17 de julho de 2009

Décadence avec élégance

O que sobra de uma cantora no fim da noite?


Bom, em primeiro lugar, eu queria saber por que raios eu sempre olho pro cara que vai olhar pra uma mina que é o meu oposto. Parece um raio de ímã quebrado, um dedo podre. Se eu curti a pessoa, ele vai curtir exatamente tudo aquilo que eu não sou. Vai escolher uma menininha novinha, gostosinha, sem gordurinhas, de cabelo liso e enorme, com a roupa da modinha, padrão padrão padrão. Vai entender.

O show foi animal, principalmente do meio pra frente. O final foi apoteótico. Casa cheia, galera animada, ferveção total. Consegui me divertir no palco como há muito não me divertia. Serião.

Depois do show, veio a melhor parte. Eu poderia ter ficado de bode porque um atacante qualquer fez dois gols em dois times diferentes na mesma noite, e eu não era nenhum desses times. Mas, quer saber? Foda-se.

O que restou?

Uma e meia da manhã. Eu sentada no meio do bar, numa rodinha de cadeiras. Ao centro, garrafas de cerveja. Como companhia, 4 queridos colegas músicos da banda. A conversa começa sobre o show, sobre o repertório, sobre as reuniões e churras que precisamos fazer de novo. Vai para outras bandas e outros sons. Daí o assunto começa a ser a gostosinha que o atacante tava pegando. Meu querido amigo Tortinha de morango disse que ela não era bonita, Ah, os amigos... Adoro. Ela era bonita, sim. Que eu sou honesta. Vou mentir pra quê? Mas Tortinha de morango não gostou. Então o assunto foi pras outras mulheres do bar. Impressionante como eu realmente não entendo o gosto masculino. Acho que nunca vou entender. Passava uma menina e ficávamos analisando. Eu só concordei com uma. Meus amigos gostam de umas coisas muito esquisitas. Mas eles também não concordaram com o meu gosto sobre os caras. Cada um mesmo com o seu cu.

Duas e meia da manhã. Depois de receber o cachê, o momento do x-músico. Eu e mais três queridos comendo o pãozinho murcho, mas que depois de todas as brejas tava divino. Tinha 9, um pra cada integrante da banda, mas a galera tinha ido embora. Tortinha de morango mandou três pra dentro. Juquinha comeu dois e levou um no bolso. Paia comeu só um, porque Paia mais fala do que come. Em todos os sentidos.

A conversa já era sobre outros integrantes da banda; depois passou a ser sobre o meu presente, que ganhei de amigos queridos e ainda não usei (eles ficaram indignados). Homem é mesmo um bicho muito simples. Hahaha.

Três da manhã. Carregando os carros. Um frio da pôrra, meus pés gritando que não ficavam mais um minuto dentro da sandália. Tchau, amores. Até o ensaio.


Epílogo
Três e tralalá da manhã, a cantora chega em casa. A maquiagem tá uma desgraça, o cabelo mais armado que integrante de milícia do Rio de Janeiro, os pés descalços (e doendo só de encostar nos pedais do carro). O segurança que ela chamou espera ao lado da moto. Ela desce descalça do carro, guarda o carro, larga a sandália no carro e vai pra casa mancando, descalça, pela rua. Grita ainda para ele “Olha a decadência da cantora no fim da noite!”. Mas só o segurança vê. Até então, na frente de todos, em cima do salto. Só este homem sabe o que resta da cantora no fim da noite. Aliás, nem ele. Porque sozinha, no quarto, livre da maquiagem, livre da roupitcha e de todos os colares, anéis, brincos, relógio, meia-calça, sutiã, livre de todas as obrigações sociais e de todas as pressões, livre enfim, a cantora dorme. E o que ela sonha, e por que sorri, ninguém jamais vai saber.

Um comentário:

Ju Hilal disse...

Escrevendo gostoso, mulher.
Gostoso de ler.
Beijos