Eu tava aqui me lembrando de uma vez, há anos, em que eu
admirava muito um cara, mas a gente só se via uma vez por semana e conversava 15
minutos cada vez. E eu ia me interessando mais por ele a cada vez, e ia ficando
louca, e queria muito sentar pra conversar com ele e conhecê-lo melhor. Mas,
por causa do meu interesse, eu não conseguia fazer o mais simples. Porque pra
chamar um brother pra tomar cerveja eu não tenho problemas: se ele disser que
não pode, eu vou ficar de boa e marcar outro dia, e vou esquecer a história
depois de cinco minutos. Mas, quando eu me interesso por alguém, eu não
consigo. Porque, se ele disser não, eu vou me quebrar inteira. Porque, se ele
disser não pra cerveja, é como se ele estivesse dizendo não pra mim, pra tudo,
e eu não vou conseguir suportar o depois.
No caso em questão, o que eu fiz foi mandar um e-mail GIGANTE
pra ele, engraçadinho, com todos os nossos pedaços de conversa interrompidos,
pra dizer que eu queria continuar a conversa sem hora pra acabar. Mas foi
gigante, super elaborado, fiz até projeto de texto, praticamente. Era uma obra
de arte. Pensei e pensei, retirei palavras, coloquei outras, revisei, reli mil
vezes e enviei. Daí fiquei lendo de novo a cada cinco minutos, enquanto ele não
respondia. E a resposta dele tinha 3 linhas, e era algo do tipo “Você é louca,
era só me chamar pra tomar uma cerveja”. A gente tomou a tal cerveja, afinal. Bom, eu não era a única louca do rolê, porque ele me
chamou pra viajar com os primos dele depois disso, e a gente nem se conhecia
direito. E eu fui, e as coisas deram certo por um dia, mas depois não, porque
ele não era exatamente o que eu pensava que ele fosse, e eu também não devia
ser o que ele pensava que eu era, se é que ele pensava. Bom, isso é o que
acontece quando a gente não conhece as pessoas direito. Naqueles quinze minutos
semanais eu criei um personagem dele na minha cabeça, e a realidade era outra.
Eu me deixei influenciar pelo personagem que ele mostrava, mas eu também
mostrava o meu, porque a vida é assim. E daí, quando finalmente rolou a
cerveja, era uma conversa de personagens, era uma cena de teatro, com cenário e
tudo. Tinha até figurante. Tudo isso pra dizer que, se a gente tivesse tomado
uma breja antes de eu construir uma imagem irreal e fictícia dele, se eu
tivesse feito as coisas de maneira normal, talvez o meu interesse se quebrasse,
ou talvez a gente tivesse ficado só amigo, talvez a gente tivesse se conhecido
de fato, nós, as pessoas, e não nossos personagens.
Enfim, anos depois eu me vejo repetindo tudo de novo. Eu
vivo num mundo paralelo e muito louco, e os padrões se repetem infinitamente,
mas que merda que é isso! Tenho uma amiga que diz que, quando uma situação se
repete na nossa vida, é pra gente aprender com ela, e que, enquanto não
aprendermos, não vamos nos livrar dela nunca, ela vai continuar a se repetir.
Eu deveria ter aprendido, porque isso diz respeito à maneira como eu encaro as
minhas paixões (no sentido amplo) e o meu interesse por caras incríveis, à
primeira vista. Eles me parecem tão incríveis que eu acho que eles nunca vão
querer nada comigo, nem tomar uma cerveja. Eu deveria mudar minha atitude,
chegar e falar de boa. Mas eu não consigo. Eu não consigo, e eu me odeio depois
e volto pra casa chorando porque eu fui uma idiota, porque eu perdi as brechas
em que uma pessoa normal diria “Vamos tomar uma cerveja um dia e você me conta
desse rolê, então”.
Mas eu não digo, e depois me martirizo. O problema é que eu
não gosto de qualquer um. Ah, não. Eu sou uma pessoa muito chata, ranzinza. E
eu vivo cercada de pessoas idiotas, tapadas, burras, modinha, vazias,
desinteressantes, sertanejo universitário e baladinha, porre e vômito, novela e
sapato novo. E então, quando aparece um cara que seja minimamente interessante,
que se pareça comigo pelo menos um pouco nessa coisa de ser cinza (apesar do
vermelho), eu fico louca.
Deixe-me ser justa: não é só minimamente interessante. É
foda. É demais. Me dói fisicamente no peito a vontade de sentar num bar e
conversar por horas, e entender, e conhecer de verdade, e rir mais, e pensar
junto. Não é, nem de longe, só “minimamente” interessante. É interessante pra
caralho, é tão, mas tão, mas tão incrível que eu fico muda. Que eu fico besta,
idiota, olhando pro chão. Que eu me acho desinteressante, o que é que eu tenho
pra dar pra esse cara? Que eu me sinto adolescente, burra, feia, travesti, ele
nunca vai olhar pra mim. Que eu pareço retardada mental, que eu digo coisas e
faço caretas e depois quero me dar um murro porque não era isso que eu queria
dizer. É tão maravilhoso que eu não consigo falar coisa com coisa, que um
segundo de silêncio equivale a dezenove mil coisas passando na minha cabeça.
Tão fofo que eu olho todos os detalhes e depois fico com vergonha, não consigo dizer normalmente, como eu faria com um brother, "Banho e tosa?". Tão massa
que eu paraliso. Que eu volto pra casa querendo morrer. Que eu venho aqui no
blog e despejo esse monte de coisas “desconexas e não coesas”.
Mas essa sou eu. Repetindo, repetindo, repetindo. Uma merda
de uma Coluna Infinita, que repete o mesmo módulo de sempre, desde sempre e
para sempre, saindo da terra e se enfiando no céu, igual, igual, igual, e
monstruosa, monumental, gigante, ameaçadora. Uma Coluna Infinita que me engole,
me destroça, me desfaz. A mesma coisa de sempre. Os mesmos módulos. Os mesmos
padrões. Eu não consigo chegar perto, de novo, e de novo, e de novo. A culpa é
minha, porque eu repito, repito, repito. Se é importante pra mim, eu não
consigo. A culpa é minha. Mas eu jogo um pouco pra você, pra variar. A culpa
também é sua. Você me parece tão incrível que eu não consigo chegar perto. E você não faz a mínima ideia.
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