quinta-feira, 13 de abril de 2017
Si
Talvez seja esse o segredo. Ou talvez não exista segredo nenhum, tudo seja somente uma grande piada, e nem tem ninguém pra rir. Mas, talvez, assim, talvez, se a gente se dá conta das merdas que fez, a gente possa se redimir. Se redimir com a gente mesmo. Com a gente mesma. Comigo mesma.Talvez, assim, bem talvez, seja esse todo o esquema: se dar conta de que a gente foi babaca. Babaca é pouco. Cuzona. Ridícula. Insensível. Imprestável. Impensável. Impensável pra mim, pra eu de hoje, atitudes que essa besta do passado, eu, tomou, tomei. E tomei, viu? Se te interessa, já tomei o triplo, bem no cu, e doeu pra caralho. E nada muda, nada apaga a merda que a gente fez. Não é tomar ares de importância e achar que a gente feriu alguém, é perceber que essa merda toda só voou pra cima da gente mesmo. Da gente mesma. De mim. E perceber isso é tão difícil, é quase impossível, é um instante ínfimo de compreensão que vem e some, fugaz, não dá pra captar e meditar sobre o assunto, porque já passou. Mas, naquele instante de revelação, puta que o pariu, como dói, me aperta o peito e me enche o olho de lágrima, mas então eu tento pensar e não consigo. A sensação do tempo passado é arrebatadora, é opressora, mas a revelação, a consciência pelo menos é branca, cristalina. Clara como a luz do dia, ainda que por um instante. E me faz vir aqui, no mesmo lugar de sempre, embora todo o resto esteja tão diferente. Está mesmo? Enfim. Enfim... Tantas vezes carpe diem, tantas vezes ouvi, tantas vezes falei, mas nada, mais nada. A cada instante mais perto da morte, mais distante da juventude, mais distante dos erros da juventude. Que a minha juventude possa ser perdoada. Que haja perdão de mim mesma, para mim mesma, por ter descoberto que grande parte do meu sofrimento foi causado só por mim. Que a idiota da Juliana do passado possa pedir perdão no espelho pra essa que hoje nem a reconhece mais. E que a Juliana de hoje possa se perdoar. Porque, talvez, esse seja o segredo.
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