domingo, 10 de julho de 2016

Torta de morango

Então você tem uma torta de morango maravilhosa: creme delicioso, morangos molhadinhos, casquinha crocante. E você sabe que não pode comer sozinha, porque uma torta assim tão bonita tem que ser dividida. Daí você vai tomar um café com uma amiga que você acha que gosta de torta de morango. Uai, claro que ela deve gostar, como não gostar de uma torta assim? E você oferece um pedaço. E ela diz “claro, vou comer”. E você tem certeza de que ela vai comer, é só uma questão de quando, de repente quando ela acabar o café, ou talvez depois da água, ou ainda quando ela fumar mais um cigarro. Então você espera. Mas ela não fala mais da torta. Então você oferece de novo, “quer agora?”. Mas ela diz que agora não. Então você começa a pensar, porque você deveria ter sacado muito antes, sua imbecil. Quem te disse que ela gosta de torta? Você não perguntou. Você assumiu que ela poderia querer, porque você gosta de torta. Tem gente que é estranha: não gosta de torta de morango. Prefere o morango mais duro ao molhadinho; acha que o creme tem muito açúcar; gosta da casquinha mais mole. E o erro é seu, por assumir que todos deveriam gostar do que você gosta. Tem gente que é estranha, ué, fazer o quê? Pensa: o que ela poderia ter te dito? “Não, obrigada, não quero comer torta”? Ela achou que ia ser rude, então disse “claro, vou comer”, mas ela não queria, ela nunca quis. Quando você perguntou “quer agora?” e ela disse “agora, não, depois”, você deveria ter sacado, porque ela não tinha como recusar, como dizer “desculpe, mas nunca vou querer comer essa torta que você está me oferecendo”. Então não tem o que fazer. Você não vai enfiar a torta goela abaixo da menina. Não vai ficar perguntando e oferecendo de novo, porque uma hora ela vai se irritar, e a gente não passa a querer uma coisa só porque o outro não para de oferecer. A gente aceita, deixa ela acabar o café, se despede, vai embora e procura outra amiga que goste de torta de morango.  

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