segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Folhetim Vagabundo - Capítulo 2 - 47

Este é o segundo capítulo da história que começou ontem em:
http://impressoesemdesalinho.blogspot.com/2009/10/folhetim-vagabundo-estreia.html

- ... então os trezentos reais devem cair na sua conta lá pelas 4 da tarde.

Ricardo. Ainda falando. Como fala, esse idiota...

Ele já fechou as cortinas. Oba, uma noite de sol. As melhores noites são sempre as noites de sol.

Era preciso arrumar tudo, deixar tudo preparado.

Desligou o telefone sem ao menos responder às últimas palavras de Ricardo. Se ele ligasse de novo, não atenderia. Desligou o celular. Falta de bateria é mesmo a desculpa perfeita para esses momentos.

Um banho, era isso. Um banho longo e demorado, quente, até que o vapor preenchesse todo o banheiro e entrasse pela mente, limpando, levando a dor, os resquícios da bebida, as dúvidas e as lembranças dolorosas. A culpa, principalmente a culpa.

A esponja branca passeava pelo corpo sem pressa, sem pressão. Brincava nas pernas, na barriga, a espuma escorria pelos tornozelos. Ao chegar aos cortes profundos do antebraço esquerdo, a esponja se tingiu de vermelho, um vermelho guache, misturado com a água. O sabonete ardia, gritava dentro das feridas abertas na pele, os 47 cortes milimetricamente e precisamente desenhados. 47, ainda. 47 pequenos cortes, finos cortes, retos cortes, lindos cortes. Ainda faltava muito. Mas nesta noite teremos sol.

A toalha preta não mancha com o sangue. Tinha sido bom ter escolhido essa dentre as outras. Os pés deixam manchas d`água no assoalho, mas elas secam. No fim das contas, grande parte das coisas da vida passa. Algumas coisas ficam.

Ainda havia muito pra fazer. Era preciso arrumar tudo, deixar tudo preparado.

A campainha soa. Uma vez. Quatro e quarenta da manhã. Ricardo? Ele não teria o desplante... Seria Ana? Não, Ana não. Hoje não. Porteiro filho da puta, dorme de babar e qualquer mané entra nesse prédio a essas horas...

A campainha soa. Outra vez. 15 segundos pra levar as garrafas e o copo (vazios) para a cozinha, tirar esse cinzeiro imundo daqui da sala, esse cheiro já está dando enjoo, enfiar a grande faca de cozinha debaixo do sofá. Não dá tempo de limpar o sangue, é muito sangue, deixa essa toalha aqui por cima, escondendo. Quem quer que seja que toque a campainha a essas horas merece que se abra a porta nua. Mas e os cortes?

A campainha soa. Outra vez. O roupão amarelo cobre o corpo. Os cabelos pingam, embaraçados ainda. Uma última olhada para a sala.

Chave, maçaneta, porta aberta.

Morena, cabelos negros cuidadosamente desajeitados, seios pequenos, pernas e braços finos, porém bem delineados. A mulher do quadro! Seu olhar fixo não deixa passar nenhuma emoção. Estende os braços delgados e, em suas mãos, há uma caixa de veludo vermelho, bordado com fios dourados. Uma gota de sangue cai no chão. Sangue escuro, grosso, brilhante. E vem de dentro da caixa.


O resto? Só amanhã, no blog da Tatiana Rocha, aqui, ó:
http://coisarara.blogspot.com/2009/10/folhetim-vagabundo-capitulo-3.html

4 comentários:

Anônimo disse...

Jupaaaa!!! Não mate os companheiros de curiosidade. Cadê??

Luli

Ju Hilal disse...

Eita...

Anônimo disse...

Puta que o pariu!!! Adorei! Caralho. E agora, e agora??? Aiiii que nervoso!

Luli

Paulinha disse...

Super curiosidade!!!!!!! Adorei !