domingo, 22 de novembro de 2009

Folhetim Vagabundo - História 7, Capítulo Final




O início dessa história você encontra aqui!


Ana Clara olha pela janela do belíssimo apartamento. A paisagem é absurdamente maravilhosa, mas sempre tem um tom triste. A tristeza de seu interior refletida nas ruas de Paris. Seu olhar se desvia para seus sapatos, lindos, chiques, caros. Mas nem mesmo eles podem distrair a dor que sente e sempre sentiu dentro de si.


Caminhando de volta para a cozinha, Ana Clara retira do fogo a chaleira e prepara o chá. Leva-o para a farta mesa de café-da-manhã, com bolos, sucos, café, pães e frutas. Arruma o jornal de Pierre no lugar onde ele sempre se senta à mesa, sua cadeira cativa. Em breve as crianças estarão também aqui, Beatriz e Lucas, filhos de Pierre, filhos de Pierre e Mariana. Todos tomarão seu café e partirão para suas vidas, para mais um dia de suas vidas. As crianças na escola, Pierre no escritório...


Mariana... Mariana em sua loja. Mariana rodeada por seus empregados, por suas clientes grã-finas, ostentando suas fortunas em jóias, roupas e sapatos, e prontas a gastar sempre mais, a repassar o dinheiro para o bolso de Mariana, que nunca fez nada para merecê-lo, nem mesmo montar a própria loja. Pierre, apaixonado, sempre deu a ela tudo o que ela quis.


Ana Clara lembra-se do fatídico dia da morte de seu amado pai. Lembra-se de todas as revelações, da carta da madrasta Rosa, da sensação ao saber que Mariana não era nada sua, nada, nada, nada, filha de outra mãe e de outro pai. Não era filha de seu pai, de seu sofrido pai, de seu enganado pai. Fazia anos, já. Três anos? Quatro anos? Por que parecia não fazer diferença? O convite de Mariana, na época, parecera um insulto. "E tem mais...", ela dissera. "Gostaria que você viesse comigo para Paris, gostaria que viesse morar comigo, com Pierre, com minha família, pois somos a única família que você tem, e eu não quero perdê-la". Sim, na época parecera absurdo. Aquela mulher, que não era nada sua. Como seria viver em sua casa, na casa que deveria ser sua, com o marido que deveria ser seu, com os filhos e a vida que deveriam ser seus... Seria humilhação demais.


Mas para Ana Clara nada nunca era humilhação demais. Estava sem emprego e sem forças para procurar um outro. Estava sem forças para pensar, e se deixara levar por Mariana, embarcara no avião e fora para Paris. E lá, há anos, cuidava da vida de Mariana, da vida de Pierre, da vida dos filhos de Mariana, da casa de Mariana. A casa que não era sua. Os filhos que não eram seus. O marido que não era seu. A vida que não era sua. Mas que vida teria, que outra vida poderia ter? O que mais importava?


As crianças começaram a fazer a algazarra matinal de costume. Ana ouviu o barulho de Pierre saindo do banheiro, e o cheiro de seu creme de barbear penetrou-lhe as narinas. Mascando seu chiclete mentolado, encaminhou-se para o lavabo a fim de lavar as mãos de maneira que Mariana não percebesse o cheiro de cigarro nelas.
Segunda-feira, mais uma história para você. Aqui mesmo!

3 comentários:

Luli disse...

Que triste... que história mais triste para uma segundona braba. Ficou linda essa, adorei!

PERPLEXIDADE disse...

adorei!
:)

PERPLEXIDADE disse...

adorei!
:)