quarta-feira, 1 de junho de 2016

Tempestade, de novo.

Tempestades são lindas, fortes e rápidas. O problema é que são rápidas. Muitas vezes a gente nem se lembra de como elas começaram. A gente conta os destroços e fica tentando entender como chegou a esse ponto. Tudo estava quieto, mas tinha aquele cheiro no ar, anunciando a desgraça. E então, sem que eu possa dizer exatamente como, as gotas começaram a cair, já grossas, desde o começo. Não dá pra dizer o que causou toda essa força incontrolável, se foi o seu jeito de olhar, se foi uma frase que você disse que me fez gargalhar, se foi aquela pausa mais longa, se foi um pedaço de algo que eu achei que você disse pra mim mas não entendi direito, se foi o simples fato de você ser como você é. Quando eu notei, o vento estava cortando tudo, rasgando, arrastando. Quando eu dei por mim, os raios iluminavam o céu, deixando tudo amarelo. Quando percebi, os trovões me ensurdeciam e a água lavava o mundo. E então as árvores foram arrancadas, os carros foram levados, tudo inundou, transbordou. Os galhos foram parar no meio das ruas, as estradas ficaram interditadas, os morros desceram, a terra virou lama e as poças dominam as ruas. Os postes caíram, as luzes queimaram, os outdoors foram levados, os guarda-chuvas jazem inúteis no chão. Eu olho ao redor e não entendo, como é que isso foi acontecer de novo, caralho, por que eu não posso ser garoa, daquelas que a gente nem sente, por que não posso ser brisa mansa, por que tenho que ser essa descontrolada dessa tempestade, essa coisa que eu não consigo conter, que não consigo parar, que não consigo dominar. Agora vai ser recolher os destroços, limpar a lama, deixar secar, reconstruir.

Mas, olha, a tempestade ainda não acabou. Ela só começou. Seria muito bom se você não tivesse medo de água. Você tem?


Larga esse guarda-chuva, ele não serve pra nada. Vem aqui pro meio da rua sentir a força do vento, da água, do som dos trovões e da luz dos raios. Vem aqui comigo ver como é bonita toda essa coisa que eu sou incapaz de controlar. Vem, deixa a água te molhar inteiro, dos pés à cabeça, deixa o vento te carregar sei lá pra onde, vem, abandona o rumo, a previsão, o cuidado, vem olhar comigo os raios cruzando o céu negro, vem se arrepiar comigo ao som dos trovões. Mas vem logo, que a tempestade não dura pra sempre. Vem agora, porque chuvisco leve não tem graça nenhuma. Seria tão legal ver junto com você o mundo caindo. Seria muito mais legal do que eu ter que catar tudo sozinha depois, amaldiçoando a mim mesma por ser tempestade que assusta, por não conseguir começar as coisas com chuvisco e ir num crescendo, como gente normal. Eu não sou gente normal. E, daqui do meio da tempestade, eu espero sinceramente que você também não seja.

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