quinta-feira, 25 de junho de 2009

Game Over - ou Relacionamentos e seus fins - o que sobrou do céu

Meu primeiro ex-namorado teve uma filha essa semana.
Meu segundo ex-namorado está saindo com uma menina de 20 anos.
Meu terceiro ex-namorado está indo para os Estados Unidos e disse ontem que eu estava mais magra.

Relacionamentos são engraçados. Fins de relacionamentos não são tão engraçados assim. O que sobra depois dos relacionamentos é quase sempre interessante.

Meu terceiro namoro acabou num pau federal, às 3 da manhã. A gente se vê toda semana porque toca na mesma banda. No começo era estranho, depois virou normal. Hoje é normal. Não somos amigos, claro. Mas não somos inimigos. Não amo mais esse cara. Não odeio mais esse cara, o que já é grande coisa. Ainda consigo rir das coisas que ele tem de engraçado, ainda consigo me irritar com as coisas que ele tem de sacais, mas isso é por causa da proximidade. Nem sempre é assim com ex-namorados. Tem aqueles que a gente não vê nunca mais. Se não fosse pela banda, com certeza não nos veríamos. Mas ver não me incomoda. E não ver também. Virou normal.

Meu segundo namoro acabou por puro desgaste. 4 anos. Tempo pra cacete. Meu relacionamento mais longo, que me ensinou mais coisas, e que acabou assim, puf. Meu namorado mais legal, sem sombra de dúvida. O que mais gostou de mim. E quem terminou fui eu. Vai entender a vida. Mulher reclama mesmo de barriga cheia. Hoje nos vemos muito raramente. Não amo mais esse cara. Nunca odiei esse cara, o que já é grande coisa. Meus pais adoram esse cara, e eu também. Adoro. Ele me liga todos os anos no meu aniversário, e eu sempre faço o mesmo. É engraçado, mas eu sinto que se eu de repente ficar sem amigos algum dia e se o mundo todo se esquecer de mim, no dia 7 de maio ele vai me ligar. E eu vou ligar pra ele no dia primeiro de janeiro. Virou especial.

Meu primeiro namoro acabou eu nem lembro mais como. Provavelmente porque éramos muito jovens. Provavelmente porque eu era uma menininha burra. Provavelmente porque cansou. Não lembro como acabou, mas lembro que sofri como uma emo de vanguarda (isso era 1999). Fiquei com ele na cabeça por muito tempo, achava que era o verdadeiro e grande amor da minha vida, por ter sido o primeiro. Não era. Eu precisei sair com ele anos depois pra saber que não era. Pra ver que era só mais um. Não era especial. Não amo mais esse cara. Não odeio mais esse cara, nem sofro por ele, nem idealizo mais uma coisa que ele não é, o que já é grande coisa. Virou banal.

Fim de relacionamento é uma merda, sempre é. Separar as coisas, separar a vida, isso é meu e isso é seu, o que eu faço agora sozinho, pra onde eu vou, pra quem conto como foi o meu dia, vejo um filme sozinha e queria ligar pra contar pra ele que ele iria adorar, como durmo agora, quem vai me ligar agora, com quem ele está agora, será que ele pensa em mim, será que está com alguém, será que um dia eu vou encontrar alguém de novo, será que eu vou querer, onde ficou aquela blusa que eu gostava, puta merda, ele esqueceu aquela meia aqui, esse livro eu não devolvo nem fodendo, só de raiva, tristeza, choro, vazio. Claro, vazio. Porque você dividia sua vida, você dividia o seu mundo, a sua cama, as suas coisas, suas alegrias e seus medos, seus ridículos e sua intimidade.

É meio como se você estivesse acostumado a só andar de carro. E de repente você fica sem carro e tem que andar de ônibus. É tão diferente! É tudo tão difícil! Os horários mudam, você tem que sair mais cedo de casa, você tem que carregar suas coisas sozinho, você anda num ônibus lotado de gente (antes era só você e mais um), você tem que andar mais, passa mais frio, mais calor, espera mais, fica com mais raiva, se sente mais sozinho no ponto. O começo é uma bosta, mesmo que a decisão de vender o carro tenha sido sua. Mas é assim mesmo. Depois de um tempo, você compra outro carro. Ou acostuma a andar de ônibus. Ou compra uma moto! Ou arruma uma carona. Ou compra uma bike. Ou vira atleta corredor. Ou compra o mesmo carro de novo (vai dar merda, tô avisando, mas vá lá). Ninguém morre por isso.

Hoje me lembrei dos meus ex-namorados e de todas as coisas que ficaram pelo caminho. Normais. Especiais. Banais. Lembrei dos meus fins de relacionamentos (não só os namoros, mas os rolos também; e ainda aqueles términos das coisas que nunca começaram). Não me arrependo de muita coisa, não. Sofri com os finais, esvaziei. Mas cá estou, cheia de mim, cheia de esperança, pronta pra começar tudo de novo (claro que com o veículo certo, porque já tô nesse ponto de ônibus há muito tempo pra pegar qualquer merda!). Sem medo de ter que descer.

Porque a gente sempre espera que nunca acabe.

5 comentários:

Gi disse...

Banal especial e normal. Foi um dos melhores textos que já li aqui.
Amei!

Romanzeira disse...

Que texto bom...

Fibra disse...

muito bom, principalmente o final, que você disse sobre como é no fim ! muito bom !

Luli disse...

Adorei! Irmã. Que saudades das nossas conversas, das noitadas, do seu carro, do nosso bairro, das roupas iguais...
Te amo, sempre.

beijos.

Larissa Coelho disse...

Muuito bom mesmo prof! A reflexão que você fez é totalmente verdadeira, gostei mesmo!