sábado, 18 de abril de 2009

Visita boa do menino colorido

Nem dá pra chamar de visita; não foi esperado, nem combinado. Na verdade, não era nem sabido. Ele apareceu no meu show sem nem saber que era meu show. Mas é que com ele sempre é assim.

Ele é um menino lindo, colorido com as cores que eu gosto, em tons de branco (!), amarelo, azul e rosa. O amarelo dá a luz, o branco é a parte que me toca, que encosta em mim; o azul me deixa um pouco tonta, quando muito perto; o rosa dá vontades. Ele é novo e parece mais novo ainda, porque do rosa saem muitas risadas e coisas malucas, e até eu me sinto mais nova.

A gente tinha se encontrado há um ano atrás, inusitado como sempre, sem ser esperado, ou combinado ou sabido. Busão de Campinas pra Sampa, tarde de semana. Ele foi falando de francês, traduzindo músicas, rindo e me fazendo rir. Depois sumiu. Voltou para sua vida, sua terra, voltou para os seus. E eu voltei para mim. E agora, um ano depois, recebi a visita boa do menino colorido. Visita sempre boa, do menino sempre bom.

Gosto dele. Lindo, não há como negar. Por fora é óbvio de dizer. Por dentro é mais complicado de falar, porque olhar dentro das pessoas é sempre mais difícil, ainda mais quando se conhece tão pouco delas. A questão é que eu gosto muito do pouco que vejo. Complexo, intrigante, misterioso, polêmico. Maluco, doido de pedra. E sempre assim, como um cometa, um cometa colorido que passa de vez em quando e enche tudo de luz e som. Quando se vai, deixa uma bagunça enorme e uma cara de ponto de interrogação. Vai rápido assim como veio. E a gente esquece que ele existia, porque já viveu tanto sem sua presença; esquece rápido.

A visita boa do menino colorido me fez pensar nessas pessoas que a gente conhece tão pouco e das quais gosta tanto, mesmo sem (e principalmente por não ter) motivos. Tem amigos presentes, parte das nossas vidas; tem amigos que já foram pedaços da nossa história e não são mais, mas os conhecemos muito bem em algum lugar do caminho; tem conhecidos que não fedem nem cheiram; e tem cometas como esse, pessoas que a gente nunca conheceu direito, talvez nunca vá conhecer, mas mexem com a gente. Gostamos deles. Queremos mais. São importantes. E como é que pode ser tão gostoso ver uma pessoa que você nem conhece direito?

Sendo.

Porque quando ele aparece e brilha aquele azul todo, o mundo fica mais colorido, apesar do cinza que vejo dentro dele (não sei como, mas vejo). Porque quando ele desaparece, fica por um tempo a memória do encontro, breve mas marcante. E porque não se sabe quando ele volta. E talvez seja assim que tem que ser. E é bom que seja assim.

Menino colorido, você é lindo. Por fora, um arraso (confesso que fico meio boba, mas, venhamos e convenhamos, você pede, vai: fala de pertinho, sempre me elogia, arregala esse azul e escancara o rosa, encosta o branco e eu fico só imaginando a utilidade dessa barba amarela). Mas por dentro também é um arraso. Instigante, um trem alucinado com uma velocidade incrível, seu pensamento me atropela e, de repente, quando me vejo correndo junto, para para pensar e olha pela janela. E quando eu acho que saquei, já foi.

Foi, mas de vez em quando ele aparece. E eu adoro. Porque a cada visita o meu trem é que funciona um pouquinho mais estranho, um pouquinho menos regular, um pouquinho mais amalucado. É um sopro de frescor, de vigor, de alucinação. Apareça, menino colorido, apareça. Desse jeito doido que é com você e comigo. Eu nem vou esperar, pra ser melhor ainda.

3 comentários:

Carlos disse...

Fui pra campinas. Geralmente, campinas é um lugar de encurtamento das distâncias. Veja bem, São Paulo tem sempre umas horas de deslocamento.
Bom, mas eu estava em campinas, não é? E o meu melhor amigo me ligou. E quando ele liga, a porta sempre se abre e o vento passa por ela. O vento foi um pouco além desta vez. Chegamos em Souzas. Eu, como sempre, sem saber onde estávamos e nem o que faríamos.E esse é sempre o costume.
No carro, meu amigo acabou matando o segredo, ou melhor, a curiosidade que eu ainda não tinha percebido que deveria possuir.
ELe disse que havia uma banda de Soul e que era muito boa. Comentou também sobre a cantora, disse que ela tinha uma voz que era muito boa. Então, os argumentos me convenceram,afinal, a insistência no "boa" é irresistível.
O nome do lugar , eu não me lembro agora, só me atento aos detalhes que gosto. De qualquer modo, entramos na boate(?). A decoração era interessante: havia um espaço largo para dança e após ele algumas colunas que levavam para algumas mesas de madeira; havia um bar que ficou quase todo o tempo atrás de mim, e mais algumas mesinhas, mais uma vez, ao lado de um palco em que já se encontrava uma bateria; havia também unstelãoes em que passavam desenhos russos estranhos ou histórias mitológicas science-fiction e sim, havia a velha cerveja cara, típica destes lugares.
Mas isso pouco importa. O lugar era agradável. Ah é, e existiam as pessoas e,ainda naquele momento, meio dispersas em músicas de tempo muito marcado, frenético, caracterizada sempre por danças curtinhas, de dedos e mãos e algum rebolado... quero dizer, de maneira geral, pois tem gente que leva muito à sério, daí, enxerga-se até uma minhocas rebolantes... e se ri da espontaneidade dos outros. Bom, precisa-se ser bem corajoso pra se achar gostoso naqueles movimentos, naquela situação.
Foi quando me disseram que a banda chegara. E fiquei bem feliz. Costumo adorar o funk o soul...principalmente, gosto de dançá-los. Olhei o palco...

Que espanto.

É a Moça. Quem mais poderia ser? Na verdade, qualquer um. Mas naquele dia estava combinado pelo acaso, tinha de ser a Moça.
Fiquei absolutamente fascinado. Tanto que nem me contive, atravessei as minhocas e me aproximei. De fato, queria que ela me visse, que soubesse que adoro o acaso.
E como sempre, ela foi alegre, leve, divertida. E faltava pouco pra começar o soul show, por isso, tive de voltar ao público, para contemplar.
A banda começou. Eles tocaram várias músicas que adoro, desde de Jorge Ben, até uma versão maluca e funkada de ( eu nunca sei se é esse o nome da música) Pretty Lady Marmalade (?). Confesso que esta música me veio a mente porque ela possui algumas partes em francês. Sim, eu fiquei imaginando a letra enquanto a vocalista cantava, adorava o final do refrão, me encaminhava para outros lugares e atente-se para o núcleo da palavra encaminhava.

Quando a banda deu uma parada, fui ver a Moça. Ela continuava muito diferente do que da outra vez que a vi. Porém, algumas características sempre ficam. Honestamente, é incrível a sua sensualidade... os olhos miúdos, de uma cor que acende no escuro; a pele um pouco sombreada, efeito de sóis deslizados pelo corpo; o lábio exposto, deliciosamente se impondo como uma sedução em silêncio e, finalmente, o cabelo, núcleos de círculos sem fim.

Foi isso que notei, e noto constantemente, nas poucas vezes que a vejo. O engraçado, é que eu não quis ficar apenas olhando e guardando. É claro que não fiquei falando poéticamente dela, aquele não era o momento. Com efeito, fiz pequenos comentários, calmos, aproximativos, expus minha mão nas costas dela, em intermitências, e fui sincero na conversa. No fundo, eu só queria ficar ali, perto dela, naquele clima divertido, carinhoso até, e me desculpem, para mim, bastante sensual.

Ela me disse que tinha feito a operação nos olhos. Antes , ela tinha um óculos charmoso, daqueles que a estrutura é um pouco mais grossae que trazem um certo quê de intelectual moderno a pessoa que os usa. Se não me engano, os óculos eram vermelhos. No entanto, naquele dia, ela estava sem. E, ainda assim, como era bonita, ficara até mais nova... ou fui eu que a quis ver assim... não sei.

O que importa é que foi muito bom reencontrá-la. É difícil mensurar o quanto. Ela é alguém com quem o papo dócil e simples flui. e eu não sei porquê. Penso comigo: é porque ela é legal mesmo e o lugar ajuda. ou, em devaneios: ela tem tudo a ver comigo, as coisas simplesmente vão, entende? ou ainda, num tom mais sereno: Ela é assim mesmo, todo mundo sabe, conversar com esta moça é estar livre, por vezes.
Não pude concluir, achava as três coisas.
Pra ser totalmente sincero, fiquei um pouco caidinho por ela. Minha desculpa, posso dizer, foi a cerveja? Ou será que foi a disposição tão agradável de tudo, inclusive o elogio que ela me fez - uma maneira muito adorável de dizer: você dança bem o Funk?

As pessoas que estavam comigo, porém, estavam cansadas. Se eu pudesse ficava lá. Tentava algo, sei lá. Eu precisava ir, contudo. E é esse constante que meus amigos vêem em mim, o vai e vem de um encontro, um brisa que foge pela porta, mas às vezes volta para dar arrepios nas costas.

Fui, então. Um último convite veio: fica até o fim se você quiser, depois a gente te leva...
Não sei o motivo maior de não ter ficado. Eu nunca sei.
Mas ela não saiu da minha cabeça, como uma memória que se encaracola no tempo, cabelos - núcleos de círculos sem fim.

Menininha bossa-nova disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Menininha bossa-nova disse...

Me diz: como é que se respira depois de um comentário desses???