sábado, 25 de abril de 2009

Crepúsculo e o ideal do amor romântico

Pois é. Eu prometi e não cumpri. Mas isso até que é normal, em se tratando do blog. Não deu tempo durante o feriado de vir aqui colocar o post sobre os vampiros. Mas cá estou agora. Espero que ainda compense.

Febre entre os meus alunos e entre a metade dos adolescentes do planeta, a série de livros iniciada com "Crepúsculo", de Stephenie Meyer, faz um sucesso estrondoso. Tanto que eu fiquei curiosa. Além da curiosidade, outra coisa me moveu: pretendo trabalhar o vampirismo com meus alunos na Semana de Estudos, relacionando com a estética do Ultrarromantismo, então tô meio que querendo ler e ver várias coisas sobre o tema.

Ok, vamos lá. Livraria Cultura. Comprei o tal Crepúsculo, morrendo de vergonha, e escondi entre um dicionário e mais outro livro que comprei. Óbvio que encontrei o Pedrão, que trabalha lá, óbvio que ele perguntou o que eu estava levando, óbvio que ele tirou sarro da minha cara. Tudo bem.

Li o dito livro em mais ou menos 3 noites. Inegavelmente, a leitura é rápida. Muitos diálogos, linguagem simples. Um dos motivos do sucesso com os adolecentes, talvez.

Mas tem outro. Tem outro grande motivo, que explica principalmente o sucesso que o livro (e a série) faz entre AS adolescentes. As meninas. E foi isso que me preocupou e me levou a querer escrever sobre o livro.

A personagem principal do livro é uma menina de 17 anos, Bella, que se apaixona por um vampiro, Edward. Mas esse não é o problema.

Vamos falar sobre Edward. Primeiro: ele é lindo de morrer. Tem uma beleza física sobre-humana, a pele claríssima, os olhos coloridos (que mudam de cor dependendo de sua sede), seus cabelos são cor de cobre e sedosos, seu corpo é "perfeito". Além disso, ele tem um cheiro maravilhoso, e uma voz sedosa e brilhante, que consegue tudo o que quer. Voltando ao "perfeito" entre aspas, não se pode negar, primeiramente, o modelo europeu de beleza de Edward, em suas formas e cores. Branco, olhos brilhantes, nem gordo nem magro, com músculos na medida.

Depois, Edward é "velho", apesar de aparentar 17 anos, pois foi transformado em vampiro quando tinha esta idade. Mas ele tem mais de 100 anos. Portanto, é muito culto. Viveu épocas do passado e sabe dançar, sabe falar, leu todos os clássicos. Tem o lado bom da idade, a experiência e a calma, sem o lado ruim, o avanço dos anos que marcam fisicamente a pele e o corpo.

Ele não come (não engorda), não dorme (passa as noites velando o sono de sua amada e a acha linda com os cabelos desgrenhados e de pijama), não precisa nem mesmo respirar. Edward corre como o vento (praticamente voa). É podre de rico, se veste muito bem, com bom gosto.Ele tem uma forma sobre-humana (salvou Bella de um acidente parando uma van com as mãos, e, quando joga beisebol com sua família vampiresca, tem de esperar uma tempestade, para que os trovões acobertem o estrondo que a bola faz devido à sua força animal). Obviamente isso tem um lado ruim: ele pode machucá-la sem querer, pois para ele ela é muito, muito frágil...

Bella é extremamente frágil. Irritantemente frágil. O tipo da menina tonta que tropeça e cai só de andar. Ela se mete em todo tipo de encrenca. E Edward está sempre ali para salvá-la de todos os perigos, para protegê-la de todos os males. Além disso, ela é uma grande tentação para ele, porque ela é seu tipo preferido de sangue: o simples cheiro dela o deixa louco de vontade de beber seu sangue. Mas, lógico, ele é muito polido e a ama demais para tal. Ele não vê mais ninguém, ninguém é mais bonita do que ela, não tem olhos para nenhuma outra garota. Edward também não tem medo do compromisso: faz questão de ser apresentado ao pai de Bella, e de apresentá-la à sua família de vampiros.

Em resumo: ele é praticamente perfeito. Apesar de ser um monstro, ele é vegetariano, ou seja, só se alimenta de animais... E é lindo, rico, inteligente, gentil, extremamente apaixonado, fiel, interessante, forte, protetor...

Meninas do Brasil e do mundo: ele não existe. E a pista está lá, no meio da história. ELE É UM VAMPIRO! VAMPIROS NÃO EXISTEM. Da mesma forma, esse homem perfeito NÃO EXISTE. Assim como não existe a mocinha perfeita, a frágil e tonta Bella. Que não se parece em nada com uma menina de 17 anos, pois seus pensamentos estão mais para os de uma mulher de 30. Ela dirige absurdamente bem, cozinha absurdamente bem, é autossuficiente, calma e na dela, coisa que a maioria das adolescentes não são, aos 17 anos.

Por mais tentador e bonito que possa ser esse romance, NADA ALI EXISTE. Nem ela, nem ele, nem o tipo de amor entre eles. E vamos combinar que a relaçãozinha deles é de matar de tédio, heim? Passam o dia todo juntos na escola; passam a tarde toda juntos; passam a noite toda juntos, escondidos no quarto dela (sem sexo!). Ânsia de vômito.

Eu sei que é fácil demais se meter na trama da história e viajar com esse amor tão bonito. Com esse cara tão perfeito. Parece colocar uma pequena paz no nosso coração, como se fosse um recado de que um dia vai chegar um Edward para cada uma de nós. Mas, de novo, eu volto a dizer: vampiros não existem. Assim como esse cara perfeito com o qual nós sonhamos.

É uma pena, eu sei. Mas é a vida.

Grande parte do fascínio entre Edward e Bella vem pela tentação (a maçã estampada na capa do livro): eles não podem consumir o amor. Ele não pode matar sua sede por ela, e é obrigado (pelo amor que sente) a conviver com ela. Eles não podem nem se beijar direito, porque ele pode perder o controle e esmagá-la com as mãos (perfeito como ele é, fico imaginando o pinto do Edward...). Então, gente, tudo o que é proibido é ainda mais gostoso...

Mas frustrante. E não é de verdade. Uma pena que o livro colabore mais ainda para perpetuar o ideal de amor romântico. Mas, como eu disse, a pista está no próprio livro: ele é um vampiro. E, até que se prove o contrário, vampiros não existem. Se existisse, eu queria um pra mim. Mas, por favor, me vê um loiro. E com sexo no pacote.


*Tô lendo o segundo... Lua nova. E já virou palhaçada, com lobisomens e tal. Foda. Mas, bem ou mal, meus alunos estão lendo. E vamos levantar as mãos pro céu. Um dia eles chegam no Saramago.

4 comentários:

Maíra Colombrini disse...

Vc é minha segunda amiga com crise de teen. Só num falo nada pq li todos os Harry Potters milhares de vezes.
Honestamente queria ser cirança outra vez, pq é legal. Ser adolescente é um saco. Eu só chorava... um inferno. Mas... vá lá!
O pior disso tudo pra mim é que do que vc contou parece que o livro incintiva o papel de mulherzinha entre as meninas e eu simplesmente ABOMINO esse papel. Pq ela num pode ser forte e proteger o vampiro frágil????
Tô com saudade viu!!!! Vê se vai me visitar.

Beijos!

Maíra Colombrini disse...

Ahhh esqueci! Leia a Viagem do Elefante do Saramago. Sensacional!

Menininha bossa-nova disse...

Eu li, Má!

Wnascimento disse...

Bem, de Stephanie Meyer para Saramago vai ser um longo caminho, mas como diz o ditado, " a estrada mais longa se atravessa com um primeiro passo". Pelo menos, apesar de ruim, temos que admitir que esse livro está levando muito jovem à leitura - ou melhor, está mantendo-os na leitura, pois J. K. Rowling foi quem os trouxe e Stephanie está apenas se aproveitando desse publico órfão e carente. Concordo com tudo o que foi postado. O "fantástico mundo e Stephanie" é bonito e não tem nenhum problema em estar na fantasia. O ruim é quando as pessoas tentam usá-lo para justificar a realidade. Aí complica... Você destacou bem a perfeição de Edward, mas gostaria de chamar a atenção para um detalhe que lhe passou despercebido. Edward não é só o homem perfeito, ele é a mulher perfeita também. Muito da autora - uma mulher de trinta anos - também se mostra presente em Edward. Interesses esses muito próprio do universo feminino estão presentes nele - como você mesmo destacou, por exemplo, o gosto por compromisso sério. Logo, Edward é o homem dos sonhos mais a melhor amiga. Um prato cheio apra qualquer adolescente a procura do príncipe encantado.