Inauguração de um bar novo na cidade. Amigas minhas trabalhando lá e comentando sobre como vai ser legal. E eu realmente torço para que seja.
Vamos lá, inauguração. Amigos, bebida, música, lugar novo.
Hum... Cheguei. Um monte de gente. Um monte de gente que não tem nada a ver comigo. Não tô sendo preconceituosa, juro. Juro que não tô. Estou somente constatando o fato de que essas pessoas fazem parte de um mundo do qual eu não faço a mínima questão de fazer parte. Não é nada com o bar. É o mundo da maioria, e as pessoas estão mais do que certas de procurar seus lugares e o que tenha a ver com elas. Mas não tem a ver comigo.
Calor. Calor demais. Gente demais. Música alta demais, eletrônica demais, pro meu gosto, óbvio (e vamos combinar que o meu gosto é foda). Eu tento me divertir. Mentira, tento nada. Tento beber alguma coisa, tento comer alguma coisa, mas não dá. É tudo uma delícia, mas não dá. Dia de ficar em casa é dia de ficar em casa. Por que raios eu vim?
Pessoas das quais eu não gosto. Não posso deixar de medir de cima abaixo, como elas fazem comigo, como fazem todas as pessoas do bar que eu desprezo no meu preconceito (as pessoas, não o bar). Dá vontade de chegar com 10 reais pra ela e pedir pra comprar uma calça igual pra mim e trazer o troco. Mas, afinal, deixa, o que é que eu tenho a ver com isso? Nada. Foda-se.
Olho para o outro lado. Um monte de meninas iguais. Cabelos iguais, vestidos iguais, corpos iguais, sorrisos iguais, vozes iguais. Os caras também são iguais, roupas iguais, penteados iguais e olhares iguais pras meninas iguais. Du, não tô generalizando, por favor me entenda. Não sou mais do que essas pessoas. Talvez seja mais chata. Sou diferente, só isso. Me deixa ser diferente.
Eu gosto de ser diferente, mas nessas horas eu acho que fico de bode porque talvez se eu fosse igual eu me divertiria, e não estaria aqui sentada nessa cadeira olhando pras pessoas e pensando sobre tudo isso. Estaria dançando no batidão pum-tss-pum-tss, jogando o cabelo, olhando pros bombadinhos.
Minha dor de garganta fica insuportável. Meu pobre corpinho me implorando pra ir embora, vai, caralho, sai daqui, o que é que ainda estamos fazendo aqui?
Já vou. Mas já? Já. Tô cansada, com dor de garganta, tô ficando velha e sociopata. A explicação que eu tenho que dar pra todo mundo. Milhares de pessoas na minha frente não me deixam sair, desconhecidos enormes me tapando a passagem, eu tenho vontade de sair chutando todo mundo, um filhodaputa pisa no meu pé, mas é bom pra eu aprender.
Venho no carro fumando mais um cigarro e minha garganta não me dá um minuto de sossego (represálias). Beatles no último. Vento na cara (foda-se a garganta). Desintoxicação.
Nada contra o bar, é lindo e vai dar muito certo. Mas hoje tava foda. Pra mim, velha que sou. Pra mim, chata que estou.
Ligo pro segurança. Chego, abro o portão, guardo o carro e, quando estou fechando o portão, ouço os sinos da igreja batendo as doze badaladas.
‘Bem a tempo de virar abóbora.” O segurança ri. Mas eu sinto como se eu tivesse dito a verdade mais absoluta do mundo.
Que eu tenho sido muito pouco Cinderela. Mas, quer saber? Eu adoro ser abóbora.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Sozinha
Sozinha. Olho minhas fotos e estou sozinha. Tenho boas companhias ao lado, mas estou sozinha. Mas sabe que eu gosto?
Acordo sozinha, vou pro trabalho e dele saio sozinha. Dirijo de volta pra casa cantando, sozinha, sorrindo. Vou com meu carro pra onde quiser, compro ou não o que quiser. Durmo à tarde, se me der na telha. Quase sempre dá. Se não der, leio, estudo, canto, trabalho. E não preciso contar nada pra ninguém, não preciso prestar contas, posso sair ou ficar, posso tomar banho agora ou depois, posso lavar o cabelo hoje ou amanhã. Lavo hoje. Me sinto leve.
Não tenho que ligar pra ninguém. Eu ligo, porque quero, mas se não quiser não é nenhum desespero, nenhum trauma. Assisto aos filmes que quero assistir. Faço uma lista daqueles que tenho que ver e ainda não vi, e pretendo ver um dia. Sozinha ou não. Não importa. Não dói mais.
Coloco a roupa que quiser, hoje menina, amanhã mulher, terça-feira camisola. Agrido as calçadas com minha bota pesada, coturno toc toc. Eu posso. Subo num salto porque quero. Hoje, rasteirinha, arrastando minha preguiça.
Ouço Gismonti e choro, sem motivo. Motivo: a beleza da arte. Como é lindo. Ouço Maria Rita e canto com ela e dou risada quando desafino ou quando a voz falha ou quando faço algo engraçado com a voz. Não tem ninguém pra ver. Às vezes eu queria que tivesse. Às vezes dou graças a Deus que não tem.
Penso em muitas pessoas. Em pessoas queridas que poderiam estar mais perto. Em pessoas queridas que ainda bem que estão longe, porque causam dor. Em pessoas que odeio, e nessas penso pouco. Tanta gente de quem quero me aproximar. Tanta coisa pra fazer. Pra fazer sozinha. Vou ali e já volto. Mas ninguém precisa saber.
Tantos livros pra ler! Tantos filmes pra ver, tanta bagunça pra arrumar, desde os meus papéis, passando pelo meu corpo, até os meus pensamentos. Tantas músicas para aprender, tantos textos para escrever, tantas coisas pra conhecer, pra aprender, pra ensinar. Não vou dar conta. E isso ocupa minha mente por demais. Essa ânsia tira o espaço da frustração que antes eu criava pra mim por ser sozinha. Sou, mas quem não é? Atire na minha boca o primeiro beijo o ser humano que não é sozinho.
Menstruo e me sinto mulher, me sinto limpa, me sinto no meu ciclo e na minha obrigação, no meu prazer. Me sinto especial, me sinto parte, me sinto todo. Me sinto toda, inteira, eu. Pela primeira vez. Sozinha de fato.
Abro a janela e vejo um bando de gente. Hoje não quero, hoje quero só a mim. Amanhã talvez. Entrem, mas sem pressa, entrem quando e como quiserem, mas com vontade, mas de verdade, porque tem que ser, se tiver. E se não tiver, não se incomode. Tô bem. Sozinha.
Acordo sozinha, vou pro trabalho e dele saio sozinha. Dirijo de volta pra casa cantando, sozinha, sorrindo. Vou com meu carro pra onde quiser, compro ou não o que quiser. Durmo à tarde, se me der na telha. Quase sempre dá. Se não der, leio, estudo, canto, trabalho. E não preciso contar nada pra ninguém, não preciso prestar contas, posso sair ou ficar, posso tomar banho agora ou depois, posso lavar o cabelo hoje ou amanhã. Lavo hoje. Me sinto leve.
Não tenho que ligar pra ninguém. Eu ligo, porque quero, mas se não quiser não é nenhum desespero, nenhum trauma. Assisto aos filmes que quero assistir. Faço uma lista daqueles que tenho que ver e ainda não vi, e pretendo ver um dia. Sozinha ou não. Não importa. Não dói mais.
Coloco a roupa que quiser, hoje menina, amanhã mulher, terça-feira camisola. Agrido as calçadas com minha bota pesada, coturno toc toc. Eu posso. Subo num salto porque quero. Hoje, rasteirinha, arrastando minha preguiça.
Ouço Gismonti e choro, sem motivo. Motivo: a beleza da arte. Como é lindo. Ouço Maria Rita e canto com ela e dou risada quando desafino ou quando a voz falha ou quando faço algo engraçado com a voz. Não tem ninguém pra ver. Às vezes eu queria que tivesse. Às vezes dou graças a Deus que não tem.
Penso em muitas pessoas. Em pessoas queridas que poderiam estar mais perto. Em pessoas queridas que ainda bem que estão longe, porque causam dor. Em pessoas que odeio, e nessas penso pouco. Tanta gente de quem quero me aproximar. Tanta coisa pra fazer. Pra fazer sozinha. Vou ali e já volto. Mas ninguém precisa saber.
Tantos livros pra ler! Tantos filmes pra ver, tanta bagunça pra arrumar, desde os meus papéis, passando pelo meu corpo, até os meus pensamentos. Tantas músicas para aprender, tantos textos para escrever, tantas coisas pra conhecer, pra aprender, pra ensinar. Não vou dar conta. E isso ocupa minha mente por demais. Essa ânsia tira o espaço da frustração que antes eu criava pra mim por ser sozinha. Sou, mas quem não é? Atire na minha boca o primeiro beijo o ser humano que não é sozinho.
Menstruo e me sinto mulher, me sinto limpa, me sinto no meu ciclo e na minha obrigação, no meu prazer. Me sinto especial, me sinto parte, me sinto todo. Me sinto toda, inteira, eu. Pela primeira vez. Sozinha de fato.
Abro a janela e vejo um bando de gente. Hoje não quero, hoje quero só a mim. Amanhã talvez. Entrem, mas sem pressa, entrem quando e como quiserem, mas com vontade, mas de verdade, porque tem que ser, se tiver. E se não tiver, não se incomode. Tô bem. Sozinha.
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Nasceu...
Não foi de parto prematuro... essa fui eu, há 27 anos atrás. Meu computador finalmente chegou. Foi um parto, porque a espera por ele coincidiu com minha saída da editora, onde eu via e-mails todos os dias e escrevia no blog com mais facilidade. Na escola não dá... E ele demorou. Mas nasceu.
Esse post é só pra atualizar mesmo essa bagaça e dizer que não morri, que estou mais viva do que nunca, e que a partir de agora as coisas vão ser mais como eram antes, mais até do que eram antes. Que eu ando numa fase de pensar muito em muitas coisas, andei fazendo várias coisas diferentes nesses tempos, andei fazendo muito nada também, e foi bom. Mas agora é hora de sacudir a poeira e voltar com tudo.
Desconstruí algumas certezas furadas que eu tinha, ganhei novas dúvidas, novas alegrias, novos laoços, desfiz antigos, redescobri prazeres há muito esquecidos, pensei sobre mim e sobre a vida, chorei e ri, dormi muito. Mas agora acordei.
Aguardem.
Esse post é só pra atualizar mesmo essa bagaça e dizer que não morri, que estou mais viva do que nunca, e que a partir de agora as coisas vão ser mais como eram antes, mais até do que eram antes. Que eu ando numa fase de pensar muito em muitas coisas, andei fazendo várias coisas diferentes nesses tempos, andei fazendo muito nada também, e foi bom. Mas agora é hora de sacudir a poeira e voltar com tudo.
Desconstruí algumas certezas furadas que eu tinha, ganhei novas dúvidas, novas alegrias, novos laoços, desfiz antigos, redescobri prazeres há muito esquecidos, pensei sobre mim e sobre a vida, chorei e ri, dormi muito. Mas agora acordei.
Aguardem.
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