terça-feira, 29 de maio de 2012

Pedido

Deus,

se você existe mesmo, você pode trazer um pouquinho de sossego aqui pro meu coração?

Tipo ontem. Eu estava tão feliz, não conseguia parar de sorrir, de rir mesmo. Mas daí eu me esqueço do porquê de estar sorrindo, e nublo, piro, surto. Me fecho. O motivo pra eu estar sorrindo há três minutos atrás me parece fraco demais, não parece valer o esforço. Afinal, deve ter um buraco aí no meio pra eu cair em breve. Então, se eu estiver procurando por ele, talvez eu não caia. Mas eu preciso estar atenta. Se eu estiver andando desatenta, olhando pro céu e rindo comigo mesma, vou cair, certeza. Não posso tirar os olhos da estrada, não posso tirar a mão do volante pra colocar aquela música bonita, porque ela vai me fazer viajar em pensamentos e eu vou deixar de prestar atenção no caminho, e vou me perder, e vou parar em um lugar estranho, com gente estranha, que pode até me deixar feliz. Mas e o buracão que eu sei que tem lá adiante? E se eu estiver distraída por essas pessoas, por essas músicas que insisto em cantar até quando escovo os dentes, pelas lembranças que vêm do nada, pela imagem de olhos nos meus olhos, aí é que eu não vou ver o buraco chegando, não vou ter tempo de desviar, vou cair lá no fundo e me foder. E depois pra sair é o caos. Então talvez fosse melhor ficar aqui na minha, olhos atentos nas curvas perigosas da estrada, velocidade reduzida, faróis de neblina acesos, sem música pra distrair, sem paisagem bela pra olhar, só focando no chão e atenta ao abismo.

Mas, oh, mas eu tô é muito desatenta. Tô andando por aí descalça, sem medo de queimar o pé ou morrer de frio, porque agora a grama tá tão verde e macia. Tô andando e comendo uma maçã ao mesmo tempo, e o sabor dela explode na minha boca e eu sorrio ao ver as marcas que meus dentes deixaram na fruta, como se eu fosse uma criança notando isso pela primeira vez. Tô escutando uma música atrás da outra, uma mais linda que a outra, a mesma música vinte mil vezes, tô cantando junto e rindo ao mesmo tempo. Tô caminhando sem ver pra onde estou indo, com a cabeça pra cima, olhando o céu e sorrindo pras nuvens.

E isso não pode dar certo, né? E aquele buraco que eu já conheço, como faz? Eu sei que ele está por aí esperando pra me engolir, à espreita, quando eu menos esperar. Então eu preciso de foco. Foco. Foco pra fugir do buraco. Então, Deus, se você existe mesmo, põe foco no meu caminho. Eu ia pedir pra você eliminar o buraco da minha frente, mas sei que talvez isso seja pedir demais. É?

Um comentário:

Anônimo disse...

na velocide da luz o tempo não existe...e devagar é muito longe..então, respira