quarta-feira, 9 de maio de 2012

Jogando War com a vida

É, eu sou a Rainha Vermelha do War. Meus amigos sabem disso. Sabem que eu adoro jogar, que eu adoro ganhar. Mas tem algumas coisas que eles não sabem. Só alguns. Alguns sabem que eu aprendi a jogar War de verdade há poucos anos. E que eu aprendi bem. Tão bem que, alguns sabem, eu jogo War com a vida.

Eu sempre achei engraçado eu conseguir ganhar as partidas de War, porque no jogo eu tenho uma coisa que se chama paciência. E eu sempre achei que eu não tivesse na vida. Na verdade eu não tenho. Mas em alguns aspectos eu tenho até demais. Espero tanto que passa do ponto. Uma amiga me mostrou isso, na noite do meu aniversário. Ela me disse que eu jogo War com as pessoas, quando estou interessada. Achei estranho, mas, pensando depois, vi que é verdade.

Eu ganho a maioria das partidas de War que eu jogo porque eu vou beeeem devagar. Porque eu não saio correndo atrás do meu objetivo, cegamente. Porque eu me fortaleço primeiro onde eu estiver. Eu ataco toda rodada, mas ataques sutis, quase tímidos. Quase que pra ninguém perceber que eu estou ali. Aos poucos, com dois exércitos a mais a cada rodada, o mundo vai se tingindo de vermelho. Conquisto continentes sem que os outros percebam, e quando perceberam já é tarde, já estou protegida e ninguém mais entra. Ninguém quer comprar briga comigo, então ficam se matando. Faço acordos verbais que cumpro, de verdade. Mas eles têm validade, e isso é combinado. Não roubo, não trapaceio. Mas sou dissimulada. Irônica. Cara de pau. Capitu. E, quando vem a troca de 50 exércitos, daí ninguém me segura mais. O mundo é meu. Vermelho, como eu gosto.

De fato, eu acho mesmo que jogo desse jeito em outros aspectos da minha vida. Aquele objetivo disfarçado, secreto, que ninguém sabe (só quem tá de fora do jogo; sempre tem uma amiga que espia suas cartas pra ver sua estratégia e torcer por você). A lentidão nos passos. Os ataques certeiros, mas disfarçados. Tão disfarçados que as pessoas nem percebem. Hoje coloco dois exércitos. Amanhã coloco mais dois. Uma semana depois, tem mais dois ali. E assim, de dois em dois, de carta em carta, quando chegar a troca de cinquenta, você tá fodido, meu amigo...

O problema é que, pra jogar War, tem que ter parceiro bom. E eu sempre achei que um parceiro que me quebra é aquele rapidinho, que conquista o objetivo dele dando uma de kamikaze quando eu estou colocando os meus dois em dois. Mas eu acabei de descobrir que não. Porque não é esse tipo de parceiro/adversário que me encanta. Porque, quando ele ganha o jogo e eu ainda nem tinha começado, acabou a graça. Eu gosto mesmo é daquele que também vai devagar, na dele. Eu coloco dois exércitos, ele coloca dois. Eu coloco dois, ele coloca três. Eu coloco três, ele coloca um. E assim eu fico perdida. E assim as horas passam e o jogo avança. Minha cor e a dele se misturando no tabuleiro, ninguém sabe quem vai ganhar.

Pra um cara assim, eu nem me importo de perder.      



Pra meio entendedor, a boa palavra basta. Dá uma carta de troca aí pra mim que eu tô aqui, só esperando.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hum, que saudades de jogar WAR com você...