quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Perséfone


(Baseado na história de uma menininha muito querida para mim. Duas menininhas, na verdade, com histórias muito parecidas.)


Tem aquela menininha indefesa e ingênua que cai no buraco do vampiro e se vê de repente perdida num submundo escuro, fantasmagórico, assustador, surreal e onírico. Mas esse caso é muito diferente daquela menininha suicida e kamikaze que vai pro buraco por vontade própria, sabendo exatamente o que vai encontrar, e querendo, até, o ar gélido do vampiro, a fumaça inebriante, a escuridão e a sombra, o vento frio nos cabelos. Tudo em troca de um pouco de vida. Vai entender.

Tem aquele povo com pulsão de morte. Na real, todo mundo tem um pouco de pulsão de morte, mas tem gente que tem mais. Que precisa buscar o perigo o tempo todo, talvez pra se sentir vivo. Que precisa correr os riscos, que precisa ver se aguenta.

Lembrei hoje da Perséfone. Aquela que largou a vida normal e linda e boa com a mãe Deméter nos campos floridos e ensolarados para viver com Hades, o temível guardião do reino dos mortos. E o mais impressionante é que ela comeu a romã, fruta dos mortos, porque quis. Por vontade própria. Porque decidiu viver no subterrâneo com o pálido e gélido e estranho Hades. Que, convenhamos, devia ter alguma coisa de bom.

Quando eu era mais jovem, mais precisamente na oitava série, participei de um concurso de poesia com o pseudônimo de Perséfone. Achava linda a escolha dela. Desculpem, mas hoje não acho mais. Não tenho mais vocação pra Perséfone, perdi pela vida, em algum lugar. A vontade de viver de verdade a vida dos campos ensolarados e floridos é maior, mesmo sabendo que às vezes eles ficam secos e cinzas, porque o natural é que eles voltem a florescer.

Claro que às vezes dou uma de Perséfone. Mergulho no abismo. Porque é uma delícia esquecer meu nome e ser somente Perséfone, nos braços de Hades, em uma vida irreal, em uma vida que não é a minha; me abandonar, me perder, sair de mim. Mas é sempre bom voltar à superfície, para a mãe Deméter e suas flores, e, principalmente, para o Sol.


Ah, o Sol.

2 comentários:

Matheus disse...

So consigo cogitar apenas duas palavras em minha complexa mente, Maravilhoso e suave.

Matheus disse...

lindo.