domingo, 14 de março de 2010

A mulher apaixonada

Esses dias eu vi uma mulher apaixonada. Pobrezinha. A mulher apaixonada é tão patética... tão, mas tão, que me inspirou. Porque não é só o belo que inspira a gente. E a mulher apaixonada é uma das coisas mais patéticas que há no mundo.

A mulher apaixonada é acompanhante, no sentido mais profundo da palavra. Ela não é nada sozinha, não é interessante, não é autossuficiente, não é atração, não é assunto por si só: ela só existe para acompanhar o homem pelo qual se apaixonou. Ela não tem vontade, voz ativa. Ela não tem nada. O homem diz “vai”, e ela vai. E chora. O homem muda de ideia e diz “volta”, e ela volta. Larga tudo e volta, e chora de novo, só que agora de felicidade. O homem diz “espera”, e ela espera. O homem diz “agora vem”, e ela vai, feliz e abanando o rabinho. Ela não tem programas, a não ser os dele. E quando arruma algum, é só pra poder preencher o tempo livre que fica quando o homem tem mais o que fazer. Então parece que ela tem vida própria. Mas ela não tem. Não tem, porque, se ele quisesse que ela ficasse do lado dele o dia todo, ela ficaria. Pajeando. Cafuné. Massagem nos pés. Velando o sono dele, feliz, com um sorrisinho idiota na boca.

A mulher apaixonada depende do seu homem. Pra tudo. A vida dela é muito mais difícil com ele, mas ela suporta com uma resignação espartana. Ela é tão capacho, judiação. A mulher apaixonada precisa a todo instante demonstrar o poder que imagina ter. Demarcar seu território (faz-me rir, a pobre). E precisa fazer tudo isso sem demonstrar que está fazendo. De vez em quando ela esquece porque, gente, é difícil ser a mulher apaixonada o tempo todo. De vez em quando ela se revolta por uns segundos, e a gente tem uma vontade de pegar e colocar no colo, e ninar e dizer que vai passar. Porque a gente enxerga dentro dos olhos dela a tristeza que é fazer esse papel, se enganar desse jeito. Eu nem olho muito pra ela porque me bate uma certa depressão. Ela faz tudo pra agradar ao seu homem. Se ele mandasse ela quebrar pedras com uma picareta, ela estaria lá. Se ele mandasse ela carregar o mundo nas costas, ela carregava mandando beijinho. Na verdade, ela faz tudo isso antes de ele pedir, só pra agradar.

A mulher apaixonada é uma coitada. Juro, corta o coração, e eu não estou sendo sarcástica, juro mesmo. Dá uma pena sem fim vê-la em seus esforços para agradar. A mulher apaixonada põe sua melhor roupa, seu melhor sapato. Mas a melhor roupa dela já deixou de ser a melhor há tempos, e o melhor sapato dela não combina absolutamente com a melhor roupa que ela tem. E, no fundo, ela sabe disso. Sabe, porque, quando se compara com as outras, ela sente dentro de si a raiva. Mas ela não demonstra, ela levanta a cabeça e anda como se não se importasse. Acontece que nós, mulheres que já fomos apaixonadas, mulheres que já estivemos lá, sabemos. Nós reconhecemos. Eu olho a mulher apaixonada no seu esforço pra ser linda e tenho dó, de verdade. Porque ela só se acha linda se o seu homem a achar linda. E, ai, como é difícil agradar sempre ao homem. Sempre tem uma mais gostosa. Sempre tem uma mais bem vestida. Sempre tem uma que chama mais a atenção. Sempre tem uma melhor. Sempre tem uma com o cabelo mais bonito. Sempre tem uma que sabe se maquiar. Sempre tem aquela que sabe combinar o sapato com a roupa e a maquiagem e o cabelo, sem ficar parecendo uma funkeira de morro. Mas a mulher apaixonada, dentro de si, faz um esforço tremendo pra se assegurar como a mais bonita. Ela tem o seu homem, e isso é o que devia importar. Não o passado dele, não as mulheres que olham pra ele, não as mulheres pras quais ele olha, com quem conversa ou convive, as que ele canta descaradamente na ausência dela. No fundo, ela sabe de algumas coisas (não de tudo). Mas, pra esquecer, ela bebe, a pobre. E tenta se divertir, e tenta com tanta força que a gente quase acredita. Mas tudo o que é falso grita, e a gente sabe que tem alguma coisa errada com ela. Pode perguntar pra qualquer um, não é maldade minha.

A mulher apaixonada faz de tudo para chamar a atenção. Do seu homem, claro, e das outras pessoas. Pra garantir que todos saibam que aquele homem é seu. Ela fica pra morrer quando outra mulher chama mais a atenção dos outros do que ela. E daí o que ela faz? Faz papel de ridícula, pra garantir que todos os olhos se voltem para ela, inclusive os do seu homem. E não se importa de ser a ridícula do lugar, a patética, a palhaça. Contanto que seu homem esteja ali, ela se sente bem. Ela não tem vergonha dos outros, não se importa que todos apontem o dedo e riam, e cochichem sobre ela, e gargalhem de verdade. Desde que ela possa manter o seu homem, nada mais importa. A mulher apaixonada dá pena, mas garante sempre boas risadas. Isso é fato. Pode ser maldade, mas, convenhamos, ela pede.

A mulher apaixonada faz tanto esforço, gente, que me cansa só de ver. De verdade. Cansa assistir de camarote à maratona que ela faz o tempo todo. Principalmente, a maratona que ela faz pra fazer com que tudo pareça natural. O puta esforço que ela faz pra fingir que não se importa, quando é tão claro que ela está muito preocupada. Com você, comigo, com todos. Porque ela tem que parecer perfeita e, Deus, ela está tão longe da perfeição... Porque ela tem que parecer cool e, gente, ela está tão injuriada. Porque ela tem que parecer natural e, caralho, é tão claro que tudo ali é fake.

Mulher apaixonada, quer um conselho? Larga a mão de ser boba, milha filha! Isso não vai te levar a lugar nenhum. Juro mesmo. Vai atrás da sua vida, flor. Porque, Deus me livre, mas se um dia o seu homem cansar (e, oh, eles cansam!), o que você vai ter, gata? O que te sobra? Quem é você? Nada. Ninguém. A acompanhante. A que usava a roupa que você pensava que ia agradar a ele, a que deixava o cabelo como você achava que ele gostava, a que era amiga dos amigos dele e agora não tem mais seus amigos. A que vivia mais para a família dele do que para a sua. A que ouvia as músicas que ele gostava, que via os filmes que ele amava. Mas quem é você, mesmo? Debaixo de toda a pela, de toda a maquiagem, de todas as camadas construídas de mentira, quem é você, mulher? Descubra, baby, antes que seja tarde demais. Porque você deve ser alguma coisa a mais do que somente a mulher a tiracolo. Você, certamente, deve ter algo a dizer, e não somente aquilo que você diz pra agradar aos amigos dele e impressionar a gente, aquelas frases construídas e aqueles assuntos ensaiados pra gente ficar pensando “Nossa, como eles combinam!”. Você tem que ser você, meu anjo. E sabe por quê? Principalmente, porque não vale a pena. Ah, se eu pudesse te contar as coisas que eu sei... Mas não cabe a mim, não, não cabe mesmo. Você deve saber o homem que tem. E, se não sabe, deveria procurar saber. E não sou eu quem vai contar (até porque seria por demais doloroso pra você saber, ainda mais pela minha boca).

Acorda, Alice! O despertador já tocou, e você fingiu que não ouviu. Não vai adiantar, meu bem. Os raios do sol vão entrar pela janela, vão passar por baixo do blecaute, por mais que você feche os olhos com força.


* Antes que caiam de pau em cima de mim, eu sei que tem mulher apaixonada que é diferente. Eu sei, tá, gente? É que eu precisava dar esse toque pra ela. Pena que ela não lê meu blog... não é mesmo, meu bem? Uma pena...

3 comentários:

Gi disse...

Ahhhhh ... putz vc tem TODA razão. Mulher apaixonada é assim mesmo!!! Nossa ... vou deixar seu texto salvo. Se um dia ficar besta de novo desse jeito leio ele. Vale pra ela e pra qualquer mulher sofrendo de paixonite....

Helena... disse...

ahh amiga e o pior é que é exatamente assim...Deus permita que esta "mulher apaixonada" em questão, enchergue as coisas antes que seja tarde... pq sim... pode ser tarde demais e aí fica tudo mais dificil ainda... Ahh se eu tbm pudesse falar... rsrs
saudade de vc!!!!

Daniel Pires disse...

Dizem que se tudo fosse feito apenas de verdades o mundo seria uma b*$!@. Então, se essa pobre mulher conseguir se enganar por toda uma vida(amar), se tornará a pessoa mais feliz do mundo.. embora seja uma pobre capacho e não seja um sentimento recipocro... Clichê: Quem nunca se apaixonou que atire a primeira pedra.(efeito sonoro da bateria:"tá" "tum" "tá" "tssss").
são tantos pontos de vista, mas...nada como "apanhar" um pouco para aprender.
http://www.youtube.com/watch?v=JXXEkq0peHI