domingo, 22 de setembro de 2013
Água.
Então é assim que é. Eu tinha me esquecido. Então é esse inferno, esse vendaval, esse suor frio, esse coração acelerado, ou pode ser só o maço de cigarros inteiro que eu fumei hoje. Então é assim. É esse pressentimento horrível sentado em cima do meu coração o dia todo, pesando toneladas. É assim, quando uma porta se abre e você já sabe que quem vem ali é aquela sombra preta, sem rosto, que você previu o tempo todo, o dia todo, mas não queria acreditar. E daí as coisas desmoronam, liquefazem, água escorrendo e molhando tudo, caralho, vou ter que secar essa água toda, por que eu fui mexer com isso, tava tudo tão seco, tão bonitinho, todas as janelas fechadas pra não entrar pó, pra não entrar ar, pra não entrar vida, tava tudo tão bom parado, seco, morto, lento, tava tudo tão bom, por que eu fui abrir essa janela, pra que eu fui abrir essa porta, por que raios eu abri essa torneira, eu não posso com essa água toda, eu nunca pude, eu não sou de copas, eu sou de espadas, eu sou coringa, eu não tenho naipe, eu não tenho condições, eu nunca soube como lidar com toda essa torrente, essa água, eu transbordo junto, eu não caibo, eu não sou potinho de margarina nem balde, não cabe aqui, não cabe em mim, eu molho, eu derreto junto, olha eu ali no chão escorrendo. Merda. Vai, sua burra, brinca, finge que pode. Eu não me lembrava que não podia. Eu tinha me esquecido de que não tenho panos suficientes para secar toda essa molhadeira, eu nunca tive. E eu não sei fechar a torneira, espanou, fodeu, tá subindo pelas paredes e deixando tudo úmido, amarelando, esfriando, sinto a água se juntando em torno dos meus pés e só consigo pensar que tá geladinha, que tá gostoso, mas que vai ser uma merda, lembra, burra, lembra que sempre dá merda, lembra que depois quem fica secando tudo isso é você, e você sozinha, e agora mais sozinha do que nunca, sem ter que engolir a cara triste porque não vai ter ninguém pra perguntar, ninguém pra ter pra quem fingir. Quando a luz se apagar eu ainda vou escutar o barulho da água pingando, escorrendo, jorrando das paredes, brotando do chão, caindo do teto, e nem é pra tanto, mas é que eu sou pra tanto, eu sempre fui pra tanto, pra muito, e é justamente esse o problema. Então é assim que é. Eu tinha me esquecido.
terça-feira, 10 de setembro de 2013
Eu (já) tenho XX anos, mas eu ainda não aprendi a fazer certas coisas que eu já deveria ter aprendido. Eu deveria saber, a essa altura do campeonato, a não me empolgar com semi-historinhas que eu crio na minha cabeça, e que muitas vezes existem somente lá, nessa cabeça doida. Deveria saber dizer o que eu desejo, deveria saber fazer as coisas acontecerem quando eu me interesso (ou me semi-interesso) por alguém. Deveria ter aprendido a parar de ter vergonha, deveria ter entendido que muitas vezes o não dito não pode ser entendido, pelo simples motivo de que as pessoas não pensam como a gente, então eu não posso querer que o caboclinho entenda que eu quero, simplesmente pelo motivo de que EU NÃO DISSE, então ele não pode saber. E deveria saber não me frustrar quando as coisas não funcionam porque a pessoa não entendeu que eu queria, porque, afinal de contas, EU NÃO DISSE. E deveria então aprender a dizer, ao invés de ficar reclamando comigo mesma e de vir aqui no blog que eu não frequento há milênios, só pra dizer pra mim mesma como eu sou uma besta.
Pois é, eu tenho XX anos e eu ainda não aprendi. Porque me parece que vai ser muito mais legal quando ele entender mesmo sem eu precisar dizer. Porque parece que aí, sim, vai ser de verdade. Porque se ele puder me entender sem eu dizer com todas as letras, então ele deve ser mesmo tão especial quanto eu imagino. E pode demorar ser assim. Mas seria muito mais legal. E talvez eu tenha que esperar mais XX anos pra entender que as coisas não podem ser do jeito que eu quero que elas sejam. E talvez eu não aprenda nunca. Mas talvez ele entenda. E aí... ah, aí sim.
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