Acabei de chegar da festa junina do meu sobrinho. Primeira festinha dele, ele tem 2 aninhos e meio, entrou na escolinha esse ano. Daí já viu: família inteira na festinha pra ver o pivetinho lindo de caipira. Antes que me chamem de amarga e pensem mal de mim (não que eu ligue muito), deixa eu explicar: eu adoro. Faço questão de estar lá, porque amo esse pestinha.
Mas daí eu chego lá e tem coisa que me dá nos nervos.
Bom, em primeiro lugar, eu preciso dizer que o meu sobrinho é uma criança de personalidade. Claro, sangue de Palermo corre nas veias do moleque. Oliveira Palermo, o que é ainda pior/melhor. E ele é pequeno, porra. Então ele não quer colocar chapéu. A gente coloca chapéu nele, ele fica puto e joga no chão. Adoro. Deixa ele sem chapéu, caralho. Ele não quer pintar a cara com lápis de olho e rolha queimada. Deixa ele sem pintura, porra. Vai ficar aquela merda toda borrada na cara, pra quê? Ele não quer dançar. Deixa ele, merda. Não tem que dançar só porque é festa junina e tá todo mundo dançando. Ele não tem nem 3 anos ainda. Ele não sabe que tem que fazer a parte dele e dançar pra gente tirar foto e ficar babando depois. Não sabe que o papel da criança nessas festas é ir pro meio da quadra e fazer a dancinha ridícula que a professora inventou pras mães e avós chorarem de orgulho. Não sabe que não dá pra fazer depois, que só tem aqueles 2 minutos de música. Ele olha pra gente do outro lado da corda e quer ficar com a família. Quer brincar com o cavalinho que a vovó deu. Quer sentar no chão e brincar, só. Deixa o menino.
Deus sabe o que faz. Eu não sou mãe.
Porque, se eu fosse, eu ia ficar muito de bode de forçar meu filho a fazer essas coisas. Eu sempre dancei no colégio. Minha mãe diz que, na minha primeira festinha, com menos de 3 anos, eu dancei um pouco, depois fiquei de bode com alguma coisa e emburrei. Tão típico. Vai ver que eu fiquei de bode por não estar na primeira fileira, hehehe. Enfim, cada um é um. Eu dancei e sempre adorei as apresentações, adoro aparecer desde pequena (segundo meu pai, desde criança eu sou sem-vergonha - palavras dele). Mas se o moleque não tá a fim, ele não tá a fim e pronto.
Daí vem a turminha dos um pouco mais velhos, crianças de uns 4 anos. Fazem uma rodinha no centro da quadra, com as "professoras", e começam a "dançar" uma "música" dessas de sertanejo universitário, falando de "amor" ou de coração partido ou qualquer merda dessas, e as crianças fazem corações com as mãos e apontam o dedinho e dão voltinhas ao som dos sertanejos do momento. Eu fico puta. Minha irmã pergunta "Mas, Ju, é festa junina, você queria que eles dançassem rock?". Claro que não. Eu queria que eles dançassem músicas típicas de festa junina. Coloca aí uma sanfona, porra. "O balão vai subindo, vai caindo a garoa", qualquer coisa assim. Mas não me faça essas crianças pagarem o mico de dançar a "música" que a "professora" delas e as mães gostam, aquela do sertanejo da modinha, pra divertir os adultos que gostam de ver as crianças como "gente em miniatura" dançando a música que fala do amor dos cantores sertanejos. Por favor, não.
E daí tem também o desfile das mães. Cada mãe vai com uma roupa que chame mais a atenção do que a outra mãe. Elas colocam as camisas e os vestidos com estampa xadrez que compraram semana passada porque estava na moda. Elas competem pra ver quem vai com o salto mais alto, pra ficar com dor no pé o dia inteiro depois e fazer o marido ir comprar pastel e guaraná pra elas, porque as belezas não conseguem nem ficar em pé com os tais saltos. Ah, guaraná diet, claro, que elas não querem ficar gordas (Deus me livre, ficar gorda, né, pior que morrer).
E daí tem também a guerra entre as avós, pra ver quem compra o brinquedo mais legal, o maior. Tem as vacas das mães que entram na frente de todo mundo pra tirar foto dos filhos. Não importa se você está ali tentando ver a criança da sua família pagando mico na quadra. O filho delas é mais importante. E tem as "professoras", "pedagogas" berrando no microfone, aproveitando o momento de glória. E tem o bingo que é vendido pra arrecadar fundos pra própria escola, e a vaca fica berrando no microfone que só falta vender 8 cartelas pro jogo começar (mas não começa nunca, pra desespero da minha irmã, e, quanto mais demora, mais você compra as coisas das barraquinhas, mais dinheiro pra escola).
Eu já trabalhei muito com educação infantil. Eu dava aulas de inglês pra crianças de 0 a 8 anos. E eu sei muito bem o que essas "pedagogas" fazem. Por trás de toda aquela conversa furada de desenvolvimento da coordenação motora fina e o caralho a quatro, elas estão mesmo é enchendo a criança de massinha e de palito de sorvete e esperando dar a hora de ir embora. Eu sei que elas preenchem as fichas de avaliação individual da criança que nem o cu delas. Eu sei. Então não vem fazer papel de pedagoga pra mim, por favor. Claro, estou generalizando, de acordo com a experiência que eu vivi. De todas as professoras de criança com as quais eu já trabalhei, teve umas duas que escapavam desse esteriótipo. O resto era tudo burra. Eu pensava, juro que pensava assim: "Eu jamais deixaria uma criança nas mãos dessas negas".
No meu primeiro ano de trabalho, eu dava aula pra uma quarta série no SESI de Indaiatuba. Eu tinha 17 anos, e meus alunos tinham 8, 9. Quando chegou a festa junina, eu me recusei a trabalhar em equipe e montar com as outras duas 4as séries a coreografia daquela merda "Hoje é sexta-feira, dia de cerveja". Crianças, caralho! Eu peguei a versão da Cássia Eller de Coroné Antônio Bento, coloquei metade da turma vestida de roqueiro e metade de caipira, fiz uma coreô que misturava passos de quadrilha com passos de rock, coloquei os pares trocados, menina roqueira com menino caipira, menino roqueiro com menina caipira. Foi a sensação da festa. Deu um trabalho da porra. Mas ficou o máximo.
Dá pra inovar, né, gente? Basta querer. Quer dizer, tem que pensar, também. E daí, infelizmente, tem gente que não consegue.
Enfim. Festa junina vai ter todo ano. E eu vou estar lá, com o meu pequeno sobrinho, que vai ser cada vez menos pequeno a cada ano. E, assim que eu puder, eu vou tentar ensinar pra ele o que eu sei. O pouco que eu sei. Pra que ele aprenda a pensar por si próprio. Já tá bom demais.
Odeia chapéu.
Amo. De paixão.