domingo, 15 de agosto de 2010

Falta de educação

E daí a gente senta no bar, uma galera perto dos 30 ou quase lá ou um pouco depois. Professores ou ex-professores. E não tem jeito, a conversa acaba girando em torno de Educação. Da falta dela, da dificuldade da profissão. Da alegria de quem não dá mais aula, das saudades também. Dos problemas de quem dá aula, que são sempre os mesmos, mas quem ama ama, não tem jeito.

Parece coisa de veio. Dirigindo de volta pra casa, fico pensando se estou mesmo ficando velha, aquelas professoras encarunchadas que sentam na mesa do bar e ficam reclamando da Educação. Mas acho que não. Acho que é consequência natural de amar o que eu faço, e me preocupar com isso.

Antes meus professores falavam "Isso é importante pra Unicamp", e eu estudava, porque o que eu queria era entrar em uma universidade boa, foda. Esse argumento não funciona pros meus alunos. Eles estão cagando pra Unicamp, estão cagando pra uma boa formação. Os pais deles não têm formação superior, e vivem bem assim, então eles não dão valor pra isso. Um aluno ano passado me disse "Grandes merda, você fez Unicamp e ganha a mesma coisa de outra professora que fez uma faculdade qualquer". O pior é que ele está certo, mas como é que eu vou explicar pra ele que a coisa toda vai além disso, que não é só grana, que tem a ver com a minha formação enquanto ser humano, com o meu repertório pra vida, coisas assim? Não dá, não faz parte do mundo dele.

Do mundo deles, meus alunos, a maioria deles. Mas de vez em quando uma alma se salva do purgatório. Esse aluno passou na Unicamp. Vai ganhar a mesma coisa de outro que passou em uma faculdadezinha qualquer de Coquinhos do Sul (saudades da Maza). Mas talvez ele tenha um diferencial a mais, e talvez qualquer dia a gente retome essa conversa numa mesa de bar, e vamos ver se o que ele tem pra me dizer ainda é a mesma coisa. Espero que não. E espero que eu não esteja muito velha até lá. Mas certamente vou estar sentada na mesa do bar, discutindo Educação. Fazer o quê?

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