terça-feira, 15 de setembro de 2009

Acostumando

Quer saber, a gente se acostuma a ser sozinha. A gente reclama, mas acostuma. Acostuma a tal ponto que não consegue se imaginar em uma situação real com outra pessoa. A gente fica egoísta. A gente chega em casa, toma um banho, come e coloca um filme. O filme que a gente quer ver. Não tem que fazer concessões, não tem que escolher junto. A gente se acostuma a fazer comentários sozinha, em voz alta, como se estivesse com alguém ali. A gente dorme no meio do filme, se quiser. A gente abraça o travesseiro e, no meio da noite, joga ele longe. Começa a dormir coberta com cobertor, e se tiver frio joga ele da cama, e se tiver calor pega de novo, e o cobertor é seu, não precisa ficar brigando, puxando, colocando debaixo do corpo pro outro não roubar e descobrir seu pé.

A gente se acostuma a sublimar. A comentar do seu trabalho e das suas alegrias com os amigos e a família, a esconder suas tristezas que nem os amigos aguentariam (que quase nem você aguenta mais). Acostuma a fazer programas de última hora, acostuma que o sábado à noite pode ser um dia de ficar em casa e dormir cedo, e tudo bem. Acostuma a fazer seus horários sem depender dos horários de mais ninguém. Acostuma com o fato do seu celular não tocar. Com o fato de ninguém te procurar durante um dia inteiro, talvez dois (a não ser seus pais, preocupados, filha-traz-pão-pra-casa).

A gente planeja nossos feriados com amigos, planeja a viagem de fim de ano. Sozinha. Sozinha com amigos. E a gente compra passagem, e faz planos, e o maior plano de todos é ser livre e estar sozinha, nadar na hora que quiser, não ficar pirando comparando seu corpo de biquini com os outros corpos de biquíni e, melhor, não ficar pensando se seu amado está comparando, tomar sol quando e se quiser, beber o quanto quiser e se quiser, ler quando quiser e o quanto quiser, dormir quando estiver caindo de sono e sem ter que dar explicações ou dividir o colchão com ninguém. A gente se imagina vendo os fogos de artifício à meia-noite e chorando, e olhando praquele em forma de coração que explodiu bem na frente dos seus olhos e pedindo pra que ele finalmente traga o homem dos seus sonhos, aquele com as qualidades que você admira e com defeitos que você possa suportar, pra que você não passe mais um fim de ano sozinha.

Mas eu tenho cá pra mim que tem gente que nasceu nessa vida pra ser sozinha mesmo. Será que isso tem que ser tão doído assim? Será que a gente não pode ser sozinha e esquecer que é sozinha? E não ficar comparando com o modelo de ser um casal? Será que a gente pode simplesmente ser e ser feliz? Sozinha?

6 comentários:

Túlio disse...

Ótimo texto. Gosti!

Gi disse...

Hum ... vc tem toda razão. Até quem tem alguém pode se snetir sozinho. E a pior solidão é aquela que se sente no meio de todo mundo. E a melhor solidão é aquela que a gente tem num dia de TPM quando não quer ver a cara de ninguém! =)

Maíra Colombrini disse...

Ficou lindo... deu saudades de solteirice.

Beijos!

Tatiana disse...

Eu to auqi pra segurar sua mão, meu bem. Tô do mesmo jeito. E me divirto pra caralho!

Dulce Braga disse...

Ler você Ju é viver uma gama de emoções já vividas e jamais esquecidas!
bjs

Luli disse...

Como assim "só", esposinha? Você tem a mim, sempre, para todos os programas, pronta pra te fazer feliz...