sábado, 21 de fevereiro de 2015

Espuma.

Eu deitei pra ler um pouco, coisa que há muito tempo não fazia, com a correria na qual a minha vida se transformou ultimamente. Deitei, li e acabei dormindo pesado. Tão pesado que sonhei. E sonhei com você. Lá estava você, no meu sonho, e era natural, como é estar ao seu lado. E era bom, como é de verdade quando você está por perto. Era calmo, como você. No meu sonho, você sentava pra ver TV com meus pais enquanto eu lavava uma louça de tuppewares que não acabava nunca, potes de todas as cores, já limpos, e eu lavava e lavava, e eles faziam espuma, e eu lavava mais. E todos nós conversávamos. E meus pais te adoravam, apesar de ser a segunda vez que te viam. Adoravam você como eu adorava no sonho, e mesmo eu ali numa espuma de louça infinita, mesmo assim eu me sentia calma, porque olhava pra você e dava com o seu olhar calmo, do jeitinho que ele é na vida real. E foi só isso que aconteceu, nada mais. Como na vida real, em que nada acontece. Mas eu ali no sonho lavava louça e escutava sua voz mansa, e ria junto com a sua risada contagiante, e ficava calma com o seu olhar calmo, e o fato de você estar lá me enchia de alegria, mas não de euforia, uma alegria calma, que eu não sei o que é há muito tempo. E minha mãe não acreditava que a gente era só amigo, e ficava dando aquelas indiretas que me enchiam de vergonha, mesmo no sonho, parece que meu corpo, dormindo, sentia a pele esquentar pela vergonha que eu sentia no sonho. Mas você não ligava, só fazia aquela cara simpática que você faz com todo mundo, me olhava com aquele olhar calmo e intenso ao mesmo tempo, e eu sabia que tudo ia ficar bem, que tudo estava bem, que você estava lá. E a espuma dos tuppewares só crescia, eles brilhando de tão limpos, e eu ali lavando, e eles não acabavam nunca, mas eu nem tinha pressa, porque não sabia o que ia acontecer quando eu acabasse de lavar. Meus pais te adoraram logo, como aconteceu comigo. Afinidade é uma coisa louca. Desde o primeiro momento eu curti, que coisa maluca. E agora ali estava você no meu sonho, do mesmo jeito que chegou na minha vida, sem avisar, sem se anunciar, foi chegando e sentou no sofá da minha alma, começou a bater papo e de repente cá estou eu sonhando com você. E é tudo tão calmo e de boa que me assusta. Quando acordo, penso, com o coração disparado, “Caralho, sonhei com ele!”. Medo do que isso significa. Eu sei que foi porque vi você no Face como amigo em comum de uma pessoa em cujo perfil entrei. Foi só isso. Bastou. Ver sua foto por um segundo fez com que você aparecesse no meu sonho, entre conversas de pai, água gelada e espumas infinitas. E eu tinha que escrever isso, colocar pra fora, porque senão vou enlouquecer. Porque eu não tenho esse olhar calmo, essa fala mansa, porque aqui dentro de mim é correnteza, é olhar de mira a laser, é bateria de escola de samba. E se eu não coloco isso pra fora, eu enlouqueço. Pronto. Já posso vestir a máscara da indiferença de novo, a cara de surpresa e de “Oi, tudo bem”, a expressão de “nem tinha visto que você chegou”, quando a verdade é que assim que você pisou no ambiente eu comecei a respirar melhor. Louca, eu sei. E nem é nada. Se você me perguntar o que isso significa, eu não sei. Eu não sei o que sinto, não é assim simples, coisas de novela, não é Malhação. Eu só gosto demais da sua presença, da sua companhia, e por enquanto é só isso. E nem pode ser mais que isso. Enquanto você leva sua vida, conquistando as pessoas com sua conversa boa, sua fala calma e seu olhar manso, eu fico aqui lavando louça, com um sorriso besta de canto de boca, me perdendo na espuma que só aumenta e torcendo pra ela não acabar nunca, pra ela crescer e me cobrir, e assim ninguém vai ver o meu olho que brilha quando você chega. E é só isso.